Por Dr. Carlos Eduardo
O meu coração parou em Porto Alegre. Ele parou e olhou ao redor. E viu corpos, destruição e caos. O meu coração parou no Rio Grande do Sul e sentiu saudades. Esse mesmo coração que saiu dali.
O meu coração nasceu no coração do Rio Grande, em Santa Maria. E Santa Maria estava debaixo da água e estava encharcada de lágrimas e lama. O coração dos meus irmãos está submerso. E eu pergunto por eles e eu sinto essa dor que eles sentem. Meus pés sentem a água subindo e subindo e vejo todos se afogando. O meu coração não aguenta olhar, mas é preciso. O olhar comunica e manda as minhas mãos se esticarem. As mãos sobem em busca de socorro, em busca de ar.
As mãos se apoiam em algum lugar e eu vejo uma bandeira. A bandeira esfarrapada de tanta história, dessa gente tão corajosa e forte. E eu lembro dos cavalos galopando nas coxilhas. Do vento assoprando os lenços vermelhos de sangue e de bravura. As lanças mirando o coração do inimigo. E eu sei que é esse o mesmo povo.
Esse povo que não se entrega, mas que agora chora. As mãos procuram Deus nas alturas. Esses irmãos vão em busca de um terreno seco, levam e trazem todos que precisam. E falta luz e falta água para beber. E falta abrigo pra tanta gente. E um país todo que se comove e também chora.
Se eu pudesse eu construiria um grande galpão. O maior de todos. E lá eles se aqueceriam e todos, todos sentariam ao redor de uma grande fogueira tomando chimarrão. E faríamos um grande churrasco apenas para celebrar a vida, nada mais. E esqueceríamos um pouco de tanta tristeza.
Enquanto eu olho e sinto e falo, eu fico sabendo de tudo que está passando. Tudo passa, bem sei, mas ainda assim dói demais, uma dor que parece não ter fim. E todos tentamos olhar no horizonte para ver onde acaba mas ele está repleto de nuvens agourentas. Branco e preto, cinzentas, carregando mais água. E há lama nas patas dos cavalos. E há cavalos mortos e afogados. Todo um rebanho disperso.
O meu coração reza agora um terço. Parece tudo que ele pode fazer. Quando toda ajuda parece pouca e a nossa garganta já está rouca de tanto pedir e rezar.
Peço que Deus ilumine essa nossa Terra de São Pedro que mora no fundo da minha alma. Peço calma diante de tanto pesar.
E eu lembro dessas cores sempre na minha retina. O verde e amarelo são interrompidos por uma faixa vermelha, colorada. A faixa que chama os homens para a pampa que eles nunca irão abandonar.
Dr. Carlos Eduardo – CRM/PR 20.965