RIO – João Augusto Conrado do Amaral Gurgel (1926-2009) sempre pensou
diferente. Já nos tempos de Escola Politécnica propôs desenhar um carro popular.
Reza a lenda que o professor tentou conter-lhe o ímpeto criativo com a frase:
?Automóvel não se constrói. Se compra?. Em 1953, ele se formou em engenharia
automotiva nos EUA. Voltou ao Brasil e trabalhou na implantação das fábricas da
GM e da Ford. Queria, porém, voar por
conta própria, e fundou a Moplast, que
fazia letreiros de acrílico. Mas como sua paixão eram os automóveis, logo criou
a Macan, para produzir karts e
carrinhos motorizados para crianças.
carrosEm 1969, Gurgel fundou a empresa com seu próprio nome, usando chassi de Volks para fabricar um misto de jipe com buggy: era o Ipanema. A empresa se mudou para Rio
Claro, a 178km de São Paulo, e passou a fazer chassis próprios. Eram estruturas
tubulares de aço revestidas de fibra de vidro ? ou ?plasteel?, como Gurgel preferia chamar. Nascia uma
linha de jipinhos, que viria a ter enorme
sucesso: os Xavante, X-10 e X-12.
Como paliativo à falta de tração 4×4, Gurgel adotou um sistema de freio de
mão seletivo para transferir o torque para a roda traseira que estivesse em
contato com o chão. Batizado de Selectration, o dispositivo era simples e
funcionava bem.
As ideias não paravam de brotar. Em 16 de novembro de 1978, a seção ?Auto
Moto?, assinada por Fernando Mariano nas páginas do GLOBO, deu destaque aos
modelos ?especiais? (ou seja: produzidos por fabricantes brasileiros
independentes) no XI Salão do Automóvel de São Paulo.
Entre as novidades da Gurgel estava o X-15: ?um jipão de características
robustas, com capacidade para sete pessoas ou duas pessoas e meia tonelada de
carga. Nas duas versões, civil e militar, o X-15 é um veículo indicado para
serviço pesado, do tipo qualquer-terreno. Mecânica Volkswagen 1600?. A mesma reportagem citava outro
produto da marca: a picape X-20, lançada no ano anterior.
De estilo retilíneo e ousado, os dois tinham aparência de ?jipes lunares?.
Eram feitos para enfrentar as crateras das estradas brasileiras e durar uma
eternidade. O problema é que as VW Kombi, com o
mesmo motor e transmissão, eram cerca de 25% mais baratas.
Raríssima, a X-20 durou quase nada: saiu de linha em 1979. Já o X-15 teve
carreira mais longa, sendo produzido até 1982.