BELO HORIZONTE- Líder da minoria na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o deputado Gustavo Valadares, do PSDB, faz discurso duro contra o governador do estado, Fernando Pimentel, do PT, e diz que quem votar contra a autorização de abertura de processo para que o petista seja julgado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) será perseguido nas ruas e não conseguirá frequentar bares, cinemas e shoppings. O parlamentar disse ao GLOBO nesta quarta que é preciso mostrar aos contrários ao pedido do STJ que eles ficarão reféns da população.
Logo que o ofício do STJ foi lido na terça-feira no plenário, Valadares fez um discurso forte e afirmou que os pró-Pimentel terão o mesmo destino dos petistas perseguidos em locais públicos nos últimos dois anos.
? Eles (deputados estaduais) têm de ter a consciência de que, se votarem pelo acobertamento desse processo, desses malfeitos do governador, estarão eles reféns de suas próprias decisões. Além disso, terão destinos muito semelhantes aos que tiveram os petistas ao longo desses últimos dois anos, não poderão frequentar restaurantes, bares, cinemas, shoppings centers porque serão questionados diariamente, minuto a minuto, pelos milhares e milhões de mineiros que se sentirão indignados e enganados pela Assembleia, se ela definir pelo acobertamento e pela não autorização da abertura de processo contra o governador ? disse Gustavo Valadares.
O deputado afirmou que é preciso usar esse argumento para mostar à população que quem fugir da votação, ou votar contrário, estará ajudando o governador.
? Vão se tornar presas fáceis da opinião pública em restaurantes e shoppings. Serão cobrados como os petistas foram ? afirmou.
O processo foi aberto ontem e o prazo para uma decisão da Assembleia é de trinta dias. Fernando Pimentel tem maioria folgada na Casa. São 77 deputados e, para autorizar que o STJ o julgue, serão necessários dois terços dos votantes, 52 deputados. Valadares reconhece que a oposição tem apenas 22 votos, mas acredita pressão da opinião pública para alterar essa desvantagem no placar.
? É complicado porque precisamos de 52 votos. Mas a primeira batalha já começou. A base do Pimentel não quer que o voto seja anunciado no microfone, mas no painel. Nós queremos que seja sim. A pressão é muito maior ? disse Valadares.
A Constituição mineira não prevê o afastamento do governador e, por isso, não há um rito descrito sobre o assunto. A Assembleia irá se basear no regimento do impeachment da Câmara dos Deputados. Antes de ir a plenário, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia apreciará o caso. Ali, Pimentel também tem maioria. Dos sete titulares, cinco são seus aliados. Mesmo que o veredicto na CCJ seja contrária à autorização do processo, a decisão será submetida ao plenário.
Pimentel é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em um dos quatro inquéritos abertos contra ele no STJ a partir da Operação Acrônimo, da Polícia Federal. A denúncia contra o governador tem como base delação premiada do lobista Benedito Oliveira, o Bené. Num dos depoimentos ao Ministério Público Federal, Oliveira acusou o governador de receber R$ 20 milhões de dois executivos da Caoa para beneficiar a empresa ao longo de 2013, quando era ministro do Desenvolvimento.