RIO – Com 20 filmes na programação, a mostra Luis Buñuel ? Vida e Obra é aberta na próxima terça-feira, na Caixa Cultural, com a exibição, às 18h30m, do clássico ?O discreto charme da burguesia? (1972), e segue em cartaz até o dia 4 de setembro. Nesta entrevista, o neto do consagrado realizador espanhol, Diego Luis Buñuel, explica como a filmografia do mestre do surrealismo se mantém relevante. Ele promove uma masterclass na próxima quarta, às 18h30m.
Muitos filmes do Buñuel são conhecidos pela crítica à sociedade burguesa e católica. Como essa visão se mantém relevante atualmente?
O conceito de ?burguesa? está datado, mas não quando você pensa que no século XXI a questão não é mais sobre luta de classes, e sim entre sobre luta econômica entre nações. Nesse sentido, o Oeste se tornou a burguesia, enquanto os países emergentes são a classe operária. Portanto, as críticas de Buñuel ainda são aplicáveis.
Que qualidades definem o estilo de Buñuel?
Há uma simplicidade e fluidez na forma com que ele filma e, ao mesmo tempo, muita preparação. É como a escrita de Hemingway ou a pintura de Picasso. Mas um dos traços mais marcantes é o humor, que está em tudo o que ele fez. Uma prova disso é que o Monty Python escreveu um obituário em que cita meu avô como a maior inspiração do grupo para explorar o absurdo. Isso, sim, é um grande obituário.
Que memória da infância envolvendo o seu avô marcou você?
Quando eu o visitava no México, assistíamos a ?Aventuras de Robinson Crusoé? (1954), um filme que ele havia feito nos EUA, ou a ?Os ambiciosos? (1959). São bem divertidos. Mas, com o passar dos anos, o que passou a me interessar foram as figuras femininas em seus filmes. Eram incrivelmente lindas e sensuais. Acho, inclusive, que minha sexualidade foi despertada por causa dos filmes de meu avô, e sou grato a ele por isso. Ele tinha um ótimo gosto.
O fato de ser neto de Buñuel influenciou a forma com que você assistia aos seus filmes?
O estranho é que já vi o cinema do Fellini, Bergman, Capra e, claro, Buñuel. Por mais que eles sejam ótimos, a verdade é que sempre fui fã de Star Wars, Indiana Jones e James Bond. Sempre me senti constrangido por isso, afinal, eu sou neto do Luis Buñuel. Mas aí o Jean-Claude Carrière, roteirista do meu avô, disse que Buñuel amava efeitos especiais. Ele adorava Hollywood. Agora me sinto melhor e menos culpado.
Que cineasta contemporâneo melhor transformou a influência de Buñuel numa nova visão?
Difícil dizer. Almodóvar sempre disse ter sido influenciado por Buñuel. Mas acredito que o que explica a longevidade de filmes de gente como Bergman e Hitchcock é o fato de serem obras únicas.