Cotidiano

Rodrigo Paris, empreendedor social: 'A paz é gerar consensos todos os dias'

“Sou colombiano. Durante mais de uma década, trabalhei como jornalista. Depois, trabalhei como diplomata, no Reino Unido. E, há três anos, trabalho na sociedade civil. Tive a oportunidade de viajar muito: vivi em sete países, em três continentes. Moro na Cidade do México.”

Conte algo que não sei.

Na sabedoria oriental, se você educa um menino, tem um homem. Mas, se você educa uma menina, está construindo uma aldeia. A mulher é comunidade, amplitude, generosidade. Se você investe na mulher, está investindo em tudo o que está ao redor dela. Se você investe em um homem… Somos muito individualistas.

Precisamos de mais políticas voltadas às mulheres?

O presente da humanidade está nas mulheres. E nós as discriminamos, atacamos, abusamos, violentamos. Se ajudamos a mulher a encontrar seu lugar, sua potencialidade vamos ter um futuro melhor. Tenho certeza de que o futuro da humanidade não está nos homens, está nas mulheres.

O terceiro setor ocupa um espaço que deveria ser dos governos?

Acredito que temos a responsabilidade de ajudar os outros. Governos, meios de comunicação, academia, empresários e sociedade civil devem atuar juntos. A responsabilidade com o futuro é de todos.

Muitas pessoas não fazem tudo o que poderiam?

Exatamente. Há um crescimento do individualismo, devido ao mercado, ao consumo, aos meios de comunicação. As pessoas se fecham em suas casas. Esperam que sua mulher e que os seus filhos estejam bem, que tenham um carro, um salário. Esquecem do que acontece na rua, na cidade, na Amazônia. Sem responsabilidade social, estamos condenados a ter grandíssimos problemas.

Você já foi jornalista e diplomata, e agora está no terceiro setor. Qual a relação entre essas três profissões?

Há um vínculo. As três estão ligadas pelo trabalho em função do bem-estar comum. Os meios de comunicação informam, os governos geram soluções, a sociedade civil trabalha para controlar, pedir prestação de contas, pedir respostas. Há um ponto transversal, a responsabilidade social. O que aprendi é que devemos ter respeito. Quando alguém trabalha nos meios de comunicação, acredita que tem a verdade. Nos governos, por ter o poder, crê ter as respostas. Nos tornamos arrogantes. Quando uma pessoa se põe no lugar de outro, entende mais, respeita mais e tolera mais.

O que aprendeu nos países que morou?

Cada lugar é especial, é generoso e nos dá coisas, pessoas e experiências incríveis. Um dos privilégios do ser humano é poder se locomover, percorrer. Por isso somos tão migrantes, por isso há nômades, para descobrir, chegar a outros lugares, para querer mais de onde viemos.

Como colombiano, como vê o acordo com as FARC?

Sou profundamente otimista. Acredito que há possibilidade de mudar a história recente da Colômbia, marcada pela violência e pelo narcotráfico. O acordo não é perfeito, mas é um passo muito importante no caminho que temos que percorrer como sociedade para alcançar a paz. A paz não é uma meta, a paz é gerar consensos todos os dias.

Em seu trabalho, você é responsável por ações em quase toda a América Latina. Qual a diferença entre os países?

A América Latina é um continente imenso, com diferenças universais, mesmo dentro dos países. É uma contradição, num mundo que somos globais. Mas somos indivíduos. Pensamos de forma diferente. E isso é um convite para sermos cidadãos globais, mas também cidadãos locais.