BRASÍLIA ? O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) convocou Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da construtora Andrade Gutierrez e um dos delatores da Lava-Jato, a esclarecer, em novo depoimento, a doação de R$ 1 milhão que a empreiteira fez para a campanha da ex-presidente Dilma Rousseff em 2014. Em setembro, Azevedo disse em depoimento que o dinheiro foi repassado ao PT. Mas um cheque apresentado pela defesa de Dilma mostra que a quantia teria passado pelo PMDB, o partido de Michel Temer, que era vice na chapa. O novo depoimento será dado em Brasília, na próxima quinta-feira.
Segundo o ministro Herman Benjamin, relator do processo que pode resultar na cassação da chapa, há discrepância entre o depoimento prestado pelo empreiteiro e a prestação de contas da campanha. Na quarta-feira, o ministro pediu uma acareação entre Azevedo e o ex-ministro Edinho Silva, que foi tesoureiro da campanha petista. Nesta quinta-feira, ele mudou de ideia e afirmou que os documentos apresentados ao TSE pela defesa de Dilma já eram suficientes para esclarecer a versão do PT. Restaria ouvir o delator novamente.
O empreiteiro declarou em depoimento ao TSE que a Andrade Gutierrez fez doação de R$ 1 milhão ao PT em março de 2014. O valor teria sido pago como parte de um acerto de propina de 1% dos contratos da Andrade com o governo federal. Ainda segundo o delator, como a doação foi feita fora do período eleitoral, esse dinheiro só teria sido transferido do partido para a campanha de Dilma em julho do mesmo ano.
No entanto, a defesa de Dilma apresentou ao tribunal um cheque atestando o repasse de R$ 1 milhão do Diretório Nacional do PMDB para ?Eleição 2014 Michel Miguel Elias Temer Lulia vice-presidente? em julho de 2014. Na prestação de contas da campanha, não há qualquer outro registro de movimentação do mesmo valor que tenha passado pelas contas do PT. Além do cheque, a defesa de Dilma também apresentou documentos da prestação de contas de campanha atestando que o PMDB recebeu R$ 1 milhão da Andrade Gutierrez. Há recibo da campanha com o valor e também comprovante de depósito em conta bancária do PMDB.
No depoimento que prestou ao TSE, Azevedo contou que era pressionado por petistas para fazer doações. ?Bom, da onde vem esse R$ 1 milhão? Vem de março de 2014, que não era período eleitoral. Por que que nós fizemos a contribuição de um milhão em março? Porque nós estávamos sofrendo pressão para cumprir obrigações dos acordos de contribuição dos 1% aí de cada projeto. Então esse um milhão feito em março em duas parcelas de quinhentos mil, em julho, já no período eleitoral, foi transferido para a campanha da presidente Dilma?, disse o empresário.
No mesmo depoimento, Azevedo disse que a empreiteira doou mais de R$ 20 milhões para a campanha de Dilma e outros R$ 20 milhões para o PMDB, com a recomendação de repasse de R$ 1 milhão para a campanha de Temer. O empresário não fez referência à data dos repasses e fez uma ressalva de que o dinheiro doado ao partido do candidato a vice-presidente não era referente a propina.
Na mesma decisão, Herman Benjamin negou pedido da defesa de Dilma para que o tribunal solicitasse ao Ministério Público a abertura de uma investigação para apurar se Azevedo cometeu o crime de falso testemunho, ao afirmar que o dinheiro doado à campanha foi obtido com recursos desviados da Petrobras.
Em nota à imprensa, a defesa de Dilma afirmou que os documentos apresentados ?comprovam que Otávio Azevedo fez afirmação falsa em juízo para prejudicar a chapa Dilma-Temer?. A defesa também disse que ?não houve a irregularidade apontada por Otávio Azevedo em relação ao PT?, já que o dinheiro passou pelo PMDB.