
Na avalição de Maria Aparecida Siuffo Schneider, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência do Município do Rio (Sindicomb), o aumento no número de postos de bandeira branca é reflexo da atual crise econômica. Isso porque, diz ela, muitos donos de postos decidiram abrir mão de alguma marca para ter maior flexibilidade de preços.
Info – postos mercado de distribuição
– As vendas de combustíveis estão em queda. Então, muitos donos de postos que estavam representando uma marca específica decidiram abrir mão e não ter mais marca, passando a ser bandeira branca. Com isso, conseguem comprar combustível de qualquer distribuidora e ter custos menores. Quando se tem contrato com uma marca específica, só se pode vender combustível daquela marca – explicou Maria Aparecida.
Os cuidados na hora de abastecer
QUEDA NA VENDA DE COMBUSTÍVEIS
No ano passado, as vendas de combustíveis, por exemplo, tiveram queda de 4,5% no Brasil. Mas, segundo especialistas, parte dos postos de bandeira branca também está associada a irregularidades na venda de gasolina, diesel e etanol. Os problemas, no entanto, também fazem parte dos postos com bandeira, advertem especialistas, embora em menor escala. Segundo a ANP, as infrações mais comuns são, além de combustível adulterado, falta de informação de preços, produtos com prazo de validade vencido, falta de informação de validade e e publicidade enganosa.
– O problema de gasolina adulterada independente da bandeira. É a questão da honestidade – disse Maria Aparecida.
O professor Luiz Maurício Janela, professor dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que a percepção de qualidade por parte do consumidor é menor no caso dos postos de bandeira branca. Mas ele faz questão de ressaltar que isso não significa que o combustível não tenha qualidade.
– O aumento dos postos sem marca é uma tendência. No Brasil há poucas opções. Além da BR e Raízen, tem a AleSat e a Ipiranga que estão se juntando. Então haverá apenas três grandes marcas. Além das poucas opções no mercado, o empresário dono de posto tem buscado melhores contratos por conta da crise. Com isso, apesar de abrirem mão da credibilidade da marca, ganham flexibilização de negociação a cada contrato fechado – disse Janela.
REGIÃO NORDESTE TEM MAIOR QUANTIDADE DE BANDEIRA BRANCA
Na região Sudeste, 41% dos 16.3362 postos são de bandeira branca. Na sequência, aparecem BR (19,8%), Raízen (16%) e Ipiranga (15,6%). Porém, os postos de bandeira branca são mais volumosos no Nordeste, onde respondem por 49,4% do total dos 10.332 postos. Na região, a BR tem 17,7% de participação de mercado, seguido da Raízen (7,5%).
No Centro-Oeste, os postos sem marcas são 45,4% do total de 3.637 postos, com a BR tendo 22,8% dos postos, seguido de Ipiranga (9,6%) e Raízen (7,9%). No Sul e no Norte, a bandeira branca está baixo da média nacional, com 29,4% e 39,7%, respectivamente.
SOBE NÚMERO DE AUTUAÇÕES EM POSTOS
No ano passado, o número de autuações da ANP subiu 29%, passando de 266 para 344 entre 2015 e 2016. A maior parte delas está relacionada a estoques de combustíveis, como etanol e inadimplência e comercialização indevida. Procurada, a ANP não informa quais dessas notificações são relativas aos postos de bandeira branca.
– O aumento de postos de bandeira branca é perigoso, pois significa que as grandes marcas não estão conseguindo fazer seu trabalho de expansão bem feito. Por isso, vem perdendo espaço. E a tendência para 2017 é de queda de espaço das grandes marcas, sobretudo em cidades menores e no interior. O problema é que a maior empresa do setor, a BR, vem sendo afetada pela crise financeira da Petrobras – disse um analista que não quis se identificar.
Nos dois últimos dois anos, a BR Distribuidora viu sua fatia de mercado cair de 27,72% para 25,39%, pelos dados da ANP. A empresa é um dos principais ativos que a Petrobras tenta buscar sócios para fortalecer seu caixa. Porém, o negócio está suspenso por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), que apontou irregularidades no processo.