RIO – Depois do primeiro pulsar alimentado por uma estrela anã branca, astrônomos anunciaram nesta terça-feira a descoberta de outro caso único conhecido no Universo até agora. Segundo eles, um planeta extrassolar gigante, um dos maiores já encontrados até agora, orbita sua estrela de forma a provocar variações no brilho dela periodicamente a cada 87 minutos.
Batizada HAT-P-2, a estrela está a cerca de 370 anos-luz de distância da Terra e é acompanhada pelo planeta designado HAT-P-2b, com oito vezes a massa de Júpiter, em uma órbita extremamente excêntrica que faz com que chegue muito perto dela antes de se afastar novamente. De acordo com os astrônomos, nestas aproximações o planeta distorce a superfície da estrela, levando-a a pulsar em resposta.
– Bem a tempo do Dia de São Valentim (comemorado como o ?dia dos namorados? nos EUA e outros países nesta terça), descobrimos o primeiro exemplo de um planeta que parece provocar um comportamento semelhante a batidas do coração em sua estrela ? diz Julien de Wit, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e líder da equipe responsável pela descoberta, relatada em artigo publicado no periódico científico ?Astrophysical Journal Letters?.
A influência do planeta no comportamento da estrela, no entanto, surpreendeu os cientistas. Isto porque, apesar de sua enorme massa, ele ainda é comparativamente muito pequeno com relação à estrela, cem vezes mais maciça (a título de comparação, o Sol é mil vezes mais maciço que Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar).
– Achávamos que planetas não podiam de fato atiçar suas estrelas, mas descobrimos que este faz isso ? desta De Wit. – Há uma ligação física entre os dois, mas neste momento não podemos explicar como estas misteriosas pulsações estão sendo induzidas pelo companheiro da estrela.
Os cientistas se depararam com as pulsações da estrela por acaso. Originalmente, eles visavam saber como o planeta distribuía o calor por sua atmosfera ao oscilar entre extremos de temperatura à medida que se aproxima e se afasta da estrela. Para tanto, eles obtiveram cerca de 350 horas de observações feitas pelo telescópio espacial infravermelho Spitzer, da Nasa, notando então pequenos picos no brilho da estrela em intervalos que coincidiam com múltiplos do período orbital do planeta, ou seja, seu ?ano?.
– Eram sinais muito pequenos, algo como captar o zumbido de um mosquito passando junto a um motor a jato com ambos a quilômetros de distância ? compara De Wit.
Ainda assim, o Spitzer foi sensível o suficiente para capturar estas variações, o que intrigou os cientistas.
– Achamos que estas pulsações podem ser induzidas pelo planeta, o que é surpreendente ? conclui De Wit. – Já vimos isto em sistemas com duas estrelas em rotação que são supermaciças e onde uma podem mesmo distorcer a outra, liberar esta distorção e fazer a outra vibrar. Mas não esperávamos que isto pudesse acontecer com planeta, mesmo um tão maciço quanto este. É um mistério, mas isso é ótimo, pois demonstra que nosso entendimento de como um planeta afeta sua estrela não está completo. Assim, precisamos seguir em frente para descobrir o que está acontecendo aqui.