TAMPA, EUA – Ao revisar suas prioridades em relação à segurança nacional durante seus oito anos na Presidência, Barack Obama afirmou que a ameaça do terrorismo continuará a pairar sobre os Estados Unidos durante muitos anos. E, num recado ao presidente eleito, Donald Trump, reafirmou a rejeição à tortura. Durante a campanha eleitoral, o magnata republicano defendeu uma abordagem mais agressiva no combate ao terrorismo, incluindo a reintrodução da prática de afogamento simulado como método de interrogatório, além de ? em suas próprias palavras ? ?coisas muito piores?. obama & trump
? Dizer que nós obtivemos progressos não significa que o trabalho esteja terminado. A ameaça do extremismo violento permanecerá próxima de nós nos próximos anos ? afirmou Obama, na Base Aérea de MacDill, na Flórida. ? Em vez de oferecer falsas promessas de que poderemos eliminar o terrorismo usando mais bombas, ou enviando mais tropas ou nos fechando ao resto do mundo, precisamos enxergar a ameaça terrorista com uma visão de longo prazo.
O uso da tortura nos interrogatórios e a manutenção da prisão na Base Naval de Guantánamo, em Cuba, também foram criticados por Obama, que destacou o fim do uso do afogamento simulado por forças americanas e a redução no número de detentos do complexo. Guantánamo mantinha 250 prisioneiros quando Obama chegou à Presidência em 2008. Oito anos mais tarde, o número de detidos é de 59.
? Proibimos a tortura em qualquer circunstância, e isso inclui táticas como o afogamento simulado. Em momento algum, qualquer pessoa que tenha trabalhado comigo afirmou que essa decisão nos custou informações importantes ? afirmou. ? Quando capturamos terroristas, apesar de toda a retórica política de que devemos abolir todos os direitos deles, nossas equipes obtiveram informações valiosas sem precisar fazer uso da tortura ou agir à margem da lei.
Embora não tenha mencionado o nome do presidente eleito, as palavras de Obama foram uma mensagem velada para Trump, que além de prometer ?encher Guantánamo de bandidos?, designou para o comando da Agência Central de Inteligência (CIA), o congressista republicano Mike Pompeo, que, em 2014, defendeu, no Congresso, o uso da tortura nos interrogatórios.
A diretora do programa de Segurança e Direitos Humanos da ONG Anistia Internacional nos EUA, Naureen Shah, afirmou que Obama defendeu uma política de segurança nacional com respeito à dignidade e aos direitos humanos.
? Com um presidente eleito que defende afogamentos simulados, registros especiais para muçulmanos e uma expansão indefinida da população carcerária de Guantánamo, limites legais devem ser reforçados repetidamente ? enfatizou ela.
O discurso ? no qual Obama defendeu o uso de drones para ataques específicos, o fim dos enormes envios de tropas ao Iraque e ao Afeganistão, e o uso da diplomacia para solucionar conflitos internacionais ? gerou críticas de opositores. Para o congressista republicano Michael McCaul, presidente da Comissão de Segurança Nacional da Câmara, a passagem de Obama pela Presidência aumentou as ameaças ao país. ?Não se enganem: estamos diante de uma ameaça maior do que nunca, não apenas porque nosso inimigos se desenvolveram, mas também porque retiramos a pressão de cima deles?.
Já o senador republicano John McCain, derrotado por Obama na eleição de 2008, criticou as decisões do presidente em relação a Iraque, Afeganistão e Síria, e classificou o discurso como ?uma fraca tentativa de se esquivar do duro julgamento da História?.