Cotidiano

Células artificiais podem livrar diabéticos de injeções

RIO – Células produzidas artificialmente podem no futuro livrar milhões de pessoas que sofrem com o diabetes das incômodas injeções diárias de insulina. Criadas por pesquisadores liderados por Martin Fussenegger, professor do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça em Zurique (ETH Zurich), elas imitam a ação das chamadas células beta do pâncreas – destruídas nas vítimas de diabetes do tipo 1 e ?esgotadas? nas do tipo 2 -, liberando o hormônio responsável por controlar os níveis de glicose no sangue.

Nos últimos anos, cientistas tentaram fabricar células beta a partir de células-tronco, capazes de se transformarem em qualquer tecido do corpo, dos próprios pacientes. Esta abordagem, no entanto, vem enfrentando diversos obstáculos, como a pouca quantidade de células beta produzidas para que tenham uso terapêutico, além de as células beta assim cultivadas terem maior tendência a morrerem uma vez introduzida no organismo dos doentes.

Diante disso, Fussenegger e equipe adotaram uma estratégia diferente. Eles decidiram alterar células dos rins conhecidas como HEK para que atuassem como as beta do pâncreas introduzindo dois genes nelas: um para que detectassem as variações na glicemia sanguínea e outro para que liberassem insulina quando os níveis de glicose no sangue ultrapassassem um certo limite. Em experimentos com camundongos, estas células beta artificiais foram implantadas sob a pele dos animais, revelando-se extremamente eficazes no controle da glicemia durante ao menos três semanas.

– Elas funcionaram melhor e por mais tempo que qualquer outra solução do tipo desenvolvida em qualquer outro lugar do mundo até agora ? comemora Fussenegger, principal autor de artigo que relata a criação e as experiências com as células beta artificiais, publicado na edição desta semana da revista ?Science?.

Os pesquisadores ainda não se sabe, porém, quando estas células beta artificiais poderão chegar ao mercado. Serão necessários, por exemplo, múltiplos testes e ensaios clínicos em animais e humanos, o que pode demorar anos, mas eles estão tão otimistas com o sucesso de sua abordagem que abriram uma empresa start-up para desenvolvê-la comercialmente.

– Se nossas células superarem todos estes obstáculos, elas poderão chegar ao mercado em dez anos – calcula Fussenegger.