
O filho de Moaza nasceu ontem (terça-feira), no Hospital Portland, em Londres, na Inglaterra. Para a consultora em ginecologia e fertilidade que a atendeu, Sara Matthews, o caso da jovem dá esperança a muitas outras mulheres que correm o risco de perder a chance de serem mães por conta de tratamentos de câncer ou doenças imunológicas.
? Sabemos que o transplante de tecido ovariano funciona para mulheres mais velhas, mas nunca tivemos certeza se poderíamos pegar o tecido de uma criança, congelá-lo e fazê-lo funcionar novamente ? comentou a médica à “BBC”.
Para Moaza, que, na época, passou pelo processo de congelamento de seu tecido ovariano por decisão de sua mãe, o nascimento de seu filho “é um milagre”.
? Nós esperamos tanto tempo para este resultado: um bebê saudável. Eu nunca deixei de acreditar que seria mãe, e agora esse é um sentimento perfeito ? pontuou a jovem.
TECIDO OVARIANO EM NITROGÊNIO LÍQUIDO
Nascida em Dubai, Moaza Al Matrooshi tinha 9 anos de idade quando foi diagnosticada com talassemia e precisou passar por quimioterapia, o que, ao menos no caso dela, geraria um dano permanente aos ovários. Ela recebeu, em seguida, um transplante de medula óssea de seu irmão, num hospital que também fica em Londres, e ficou curada. Mas, antes disso, teve um dos ovários retirado para preservação.
Seu ovário direito foi removido, e o tecido, congelado. Fragmentos de seu tecido ovariano foram misturados com agentes crioprotetores e lentamente reduzidos a uma temperatura de 196 graus Celsius negativos, antes de serem armazenados sob nitrogênio líquido.
No ano passado, cirurgiões na Dinamarca transplantaram cinco retalhos do tecido ovariano de volta para seu corpo ? quatro foram costurados em seu ovário esquerdo, e um do lado do útero. Nessa época, Moaza estava passando pela menopausa. No entanto, após o transplante, seus níveis hormonais começaram a voltar ao normal, fazendo com que ela passasse a ovular, tendo sua fertilidade restaurada.
A fim de aumentar as chances de ter um filho, a jovem e seu marido, Ahmed, passaram por tratamento de fertilização in vitro. Dos oito ovos que foram coletados, três embriões foram produzidos, dois dos quais foram implantados no início deste ano.
? Dentro de três meses após o reimplante de seu tecido ovariano, Moaza passou da menopausa para uma situação de períodos de menstruação regulares novamente ? destacou a médica Sara Matthews, que conduziu o tratamento de fertilidade. ? Ela, basicamente, se tornou uma mulher normal em seus 20 e poucos anos, com função normal do ovário.
RESULTADO ‘ENCORAJADOR’
Segundo a pesquisadora Helen Picton, que lidera a divisão de reprodução e desenvolvimento precoce na Universidade de Leeds, também na Inglaterra, e realizou o congelamento do ovário de Moaza, o resultado é “incrivelmente encorajador”.
? Moaza é uma pioneira e foi um dos primeiros pacientes que ajudamos em 2001, antes de qualquer bebê nascer da preservação do tecido do ovário ? ressaltou Helen. ? Em todo o mundo, mais de 60 bebês nasceram de mulheres que tiveram sua fertilidade restaurada, mas Moaza é o primeiro caso de congelamento pré-puberdade e o primeiro caso de um paciente que teve tratamento para talassemia.
A jovem de origem muçulmana ainda tem um embrião armazenado, assim como dois pedaços restantes de tecido ovariano. Ela afirma que, definitivamente, planeja ter outro bebê no futuro.
No ano passado, uma mulher na Bélgica deu à luz usando tecido ovariano congelado quando tinha 13 anos. Diferentemente de Moaza, ela já estava na puberdade quando seu ovário foi removido.
Já o primeiro transplante de tecido ovariano congelado no mundo foi realizado em 1999, também da Universidade de Leeds.