BRASÍLIA ? Acusado pelo ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, de pressionar pela liberação de um empreendimento de seu interesse, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, admitiu ter conversado com o então colega sobre o assunto, mas disse não ver conflito de interesses em sua ação. Geddel afirma que permanece no cargo e que, em conversa com o presidente Michel Temer na manhã deste sábado, ouviu de seu chefe que o episódio é ?página virada?. Links Calero
Ao GLOBO, Geddel afirmou não ter pressionado Calero, a quem acusou de mentir na entrevista que deu ao jornal “Folha de S. Paulo”, ao dizer que teria ameaçado ?pedir a cabeça? da presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa.
? A fala do Calero tem um fato real: eu tratei com ele desse tema. E tem mais uma série de inverdades, aspas que nunca foram ditas por mim. É uma memória fantástica dele para citar tantas falas minhas. É uma coisa absolutamente surpreendente e lamentável, não entendo de onde veio essa história de pressão. Conversei com ele sobre um tema com clareza, nitidez. Eu não disse que ia pedir a cabeça de ninguém, é mentira dele. Ele está faltando com a verdade, também quando diz que eu levaria o tema para o presidente da República. Nunca tratei desse tema com o presidente ? afirmou.
O ministro afirmou que telefonou para Michel Temer na manhã deste sábado, logo que leu a entrevista dada por Calero. Segundo Geddel, Temer está ?sereno e tranquilo? e compreendeu o caso. O aconselhamento do presidente, de acordo com Geddel, foi para ?esquecer? o assunto.
? Liguei para o presidente de manhã cedo, logo que tomei conhecimento da matéria. Já conversei com o presidente da República, já esclareci tudo. Ele está sereno, tranquilo, compreende. Para mim, Temer disse: ?esquece isso, é página virada? ? completou Geddel.
O ministro da Secretaria de Governo diz ter pedido ao então ministro da Cultura que aguardasse uma decisão judicial antes que o Iphan nacional deliberasse sobre a liberação da construção do empreendimento imobiliário em Salvador, onde comprou uma unidade. Ele diz não ver conflito de interesses no fato de ter acionado um colega de governo para tratar de um tema de interesse pessoal.
? Qual é a irregularidade que tem? Não estou entendendo. Levar uma ponderação a um colega ministro não tem nada demais. Eu disse: ?Calero, esse tema está judicializado, não é melhor aguardar?? Não é uma questão pessoal minha. Não tenho o que esconder. Esse assunto foi licenciado pelos órgãos do município em 2014. Em 2015, começaram as obras. Várias pessoas juntaram suas economias para comprar ali. Eu comprei um. Isso não me deslegitima para tratar do assunto, pelo contrário, isso me legitima porque conheço o assunto. Tanto não há conflito de interesse que a posição adotada pelo Iphan foi a que ele defendia. Minha suposta pressão mudou a posição do Iphan nacional? Não sou o homem forte junto a Temer? Ainda que eu divirja do resultado, permaneceu a visão do Calero ? responde Geddel.
Geddel diz não se sentir responsável pela saída de Calero. E que se trata da palavra de um contra a do outro.
? Se ele se sente pressionado, é problema dele. Tem a palavra dele contra a minha. Não tenho a menor a menor ideia do motivo dele ter saído. Não fritei ninguém, não é meu estilo. Vai saber que interesses estão por trás. Eu não tinha problema com ele, que eu identificasse, não. Nunca tive atrito com ele. Onde ele foi desprestigiado? Me lembra um pouco o caso do Fábio Medina (ex-ministro da AGU). Quando ele saiu do ministério, saiu batendo no Eliseu Padilha (ministro da Casa Civil). Em nenhum momento ele disse que se sentiu desconfortável. Não teve nenhum atrito, bate-boca, mal-estar ? afirma.
Para Geddel, esse tipo de pedido entre colegas ministros é algo natural. Ele afirma que Calero o acionou para que articulasse um freio à CPI da Lei Rouanet, inclusive para que não tivesse de ir depor no colegiado.
? Não pressionei Calero. Ele me pediu algumas vezes que articulasse para que ele não fosse depor na CPI da Lei Rouanet. E pediu também para que a CPI não avançasse. Eu ouvi uma colocação de um colega de governo. Não tomei isso como pressão. Fiz ponderações legítimas, naturais, claras, não escondidas. Nunca tratei desse tema com subalterno dele, presidente de Iphan, que nem conheço ? pontuou Geddel.
O ministro diz ainda que não há mais o que esclarecer e que não pretende participar de acareação com Marcelo Calero, como deseja a oposição no Congresso. Para Geddel, não há desconforto em sua posição.
? Não tem mais fatos a serem esclarecidos. Não vou entrar nessa, a oposição faz o que tem que fazer. Não tem desconforto nenhum. A cabeça que saiu foi a dele porque ele quis. Quem pediu a cabeça de quem? ? finalizou.