Cotidiano

Polícia Militar prepara ‘protesto’ por melhores condições de trabalho

Polícia Militar prepara ‘protesto’ por melhores condições de trabalho

Cascavel – Policiais militares de todo o Paraná, em especial de Cascavel, preparam uma megamobilização prevista para o próximo domingo (7). Na Capital do Oeste, a mobilização está programada para ocorrer em frente a Catedral Nossa Senhora Aparecida e tem como objetivo reforçar as reivindicações pela regulamentação da carga horária de trabalho; reposição conforme a data-base e contra o retorno da progresso de carreira por concurso.

A informação foi confirmada ontem (2) ao Jornal O Paraná, pelo representante da Afpol (Associação da Família Policial), Ricardo Feistler. Ele confirmou a possibilidade da manifestação neste fim de semana. Segundo Feistler, mais detalhes serão definidos até sexta-feira (5). “Existe uma movimentação quanto a isso [protesto]. As últimas atividades do governo estadual não agradaram a PM. Essa jornada extra, em vez de gerar reflexos positivos na vida do policial, é um tiro no pé, pois o sobrecarrega e o que é pior, lhe causa sérios problemas de saúde, de ordem mental”, disse Feistler. “A reposição salarial ficou muito aquém do esperado”.

Conforme Feistler, essa jornada remunerada até gera uma diferença salarial ao policial, mas em contrapartida, não lhe dá tempo para mais nada. “Por isso, têm aumentado de forma significativa os afastamentos por problemas de saúde e até suicídios”, destaca o representante da Afpol. “O pessoal está extenuado. Não contam com condições mínimas de trabalho e até pouco tempo atrás, estavam revezando coletes balísticos”, aponta.

Ricardo Feistler destaca ainda que a sociedade exige 100% do policial no seu trabalho. “Mas mal sabem o que eles enfrentam no dia a dia”. Segundo o representante da Afpol, em épocas de campanha, todos usam a bandeira de defesa dos policiais. “Mas quando chegam lá, nada fazem”.

Falta de efetivo

O representante da Associação da Família Policial também aponta a defasagem de contingente, principalmente, em municípios de menor porte. “Há casos de policiais obrigados a fazer o atendimento de duas cidades próximas. É um absurdo”.  Conforme ele, em grande parte dos pequenos municípios, essa falta de policiais militares é um problema que se arrasta há anos. “E a situação beira o caos quando envolve a Polícia Civil. Foram poucos concurso nos últimos anos e os que ocorreram, ofereciam poucas vagas”.

Feistler também chama a atenção para o número crescente de policiais civil se aposentando. “E essas lacunas deixam de ser preenchidas, colocando a sociedade à mercê da violência”. E completou: “Há cidades no Paraná que sequer tem policiamento. Uma viatura é usada para atender duas cidades próximas”, diz o representante da Afpol.

Saúde mental

O advogado conta que, no ano passado, oficiou a Secretaria de Estado de Segurança Pública para ter acesso ao número de suicídios de policiais militares no Paraná. “Mas, a resposta que tive era de que se tratava de informação sigilosa”. Segundo ele, de cada 10 policiais, pelo menos 2 ou 3 apresentam algum tipo de problema de saúde ocasionado pelo excesso de jornada de trabalho, na visão do advogado.  “A maioria procura amparo psicológico e psiquiátrico. Há situações inclusive de esquizofrenia”. Ele comenta que há um preconceito muito grande em relação aos policiais militares que procuram tratamento.

Apesar dos questionamentos apresentados, o Paraná é um dos estados que mais remunera o policial, uma média salarial de R$ 6 mil. “Porém, é um valor pífio diante do risco que ele corre diariamente”, diz Feistler. “Além do mais, ele (policial militar) não tem direito a FGTS, insalubridade e hora extra. […] O policial militar está sempre na berlinda”, conclui.

A Afpol existe desde 2015 e engloba atualmente 5 mil associados do oeste e de outras regiões do Paraná.