Em meio aos impactos da guerra na Ucrânia sobre a economia global, o BC (Banco Central) continuou a apertar os cintos na política monetária. Por unanimidade, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a taxa Selic, juros básicos da economia, de 12,75% para 13,25% ao ano. A decisão era esperada pelos analistas financeiros. A taxa está no maior nível desde janeiro de 2017, quando estava em 13,75% ao ano. Esse foi o 11ª reajuste consecutivo na taxa Selic.
Apesar da alta, o BC reduziu o ritmo do aperto monetário. Depois de dois aumentos seguidos de 1 ponto percentual, a taxa foi elevada em 0,5 ponto. De março a junho do ano passado, o Copom tinha elevado a taxa em 0,75 ponto percentual em cada encontro. No início de agosto, o BC passou a aumentar a Selic em 1 ponto a cada reunião. Com a alta da inflação e o agravamento das tensões no mercado financeiro, a Selic foi elevada em 1,5 ponto de dezembro do ano passado até maio deste ano.
Com a decisão de quarta-feira (15), a Selic continua num ciclo de alta, depois de passar seis anos sem ser elevada. De julho de 2015 a outubro de 2016, a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018. A Selic voltou a ser reduzida em agosto de 2019 até alcançar 2% ao ano em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela pandemia de covid-19. Esse era o menor nível da série histórica iniciada em 1986.
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Em maio, o indicador fechou em 11,73% no acumulado de 12 meses, no maior nível para o mês desde 2015. Apesar da queda no preço da energia elétrica, por causa do fim das bandeiras tarifárias, a inflação continua pressionada pelos combustíveis.
O valor está bastante acima do teto da meta de inflação. Para 2022, o CMN (Conselho Monetário Nacional) fixou meta de inflação de 3,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não podia superar 5% neste ano nem ficar abaixo de 2%.
No Relatório de Inflação divulgado no fim de março pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que o IPCA fecharia 2022 em 7,1% no cenário base. A projeção, no entanto, está desatualizada com o prolongamento da guerra entre Rússia e Ucrânia, que elevam a cotação do petróleo. A nova versão do relatório será divulgada no fim deste mês.
As previsões do mercado estão mais pessimistas. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 9%. A pesquisa está suspensa por causa da greve dos servidores do Banco Central, mas uma atualização foi divulgada na semana passada.
Crédito mais caro
A elevação da taxa Selic ajuda a controlar a inflação. Isso porque juros maiores encarecem o crédito e desestimulam a produção e o consumo. Por outro lado, taxas mais altas dificultam a recuperação da economia. No último Relatório de Inflação, o Banco Central projetava crescimento de 1% para a economia em 2022.
O mercado projeta crescimento um pouco maior. Segundo a última edição do boletim Focus, os analistas econômicos preveem expansão de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos pelo país) neste ano.
Fed confirmou aumento 0,75 nos juros
O banco central americano, o Fed (Federal Reserve) confirmou quarta-feira (15) um aumento de 0,75 ponto percentual na sua taxa de juros, a maior elevação aplicada nos Estados Unidos desde 1994, numa postura de enfrentamento agressivo àquela que já é considerada a maior inflação dos últimos 40 anos. O ajuste posicionou a taxa de referência do Fed o empréstimo diário entre bancos (parâmetro para o setor de crédito em geral) entre 1,5% e 1,75% ao ano. Porém, projeções já apontam para uma taxa mediana de 3,375% ao final deste ano, ou um adicional de 1,75 ponto percentual nas próximas quatro reuniões das autoridades, segundo o The Wall Street Journal.
“A inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de energia e pressões mais amplas sobre os preços”, destacou o Fed no comunicado do Fomc, comitê de política monetária norte-americano. O Fed ainda avisou que “está altamente atento aos riscos inflacionários”.
“A invasão da Ucrânia pela Rússia está causando enormes dificuldades humanas e econômicas. A guerra e os eventos relacionados estão criando uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e estão pesando sobre a atividade econômica global”, acrescentou o comunicado. O comitê ainda destacou que os bloqueios relacionados à covid-19 na China, provavelmente, “exacerbarão as interrupções na cadeia de suprimentos”.