Saúde

Sindicato defende volta das aulas mesmo sem validação do Estado

Diante do impasse da volta às aulas presenciais, a reportagem consultou especialista sobre os impactos da retomada do ensino presencial a quem mais interessa: os alunos

Sindicato defende volta das aulas mesmo sem validação do Estado

Reportagem: Cláudia Neis

Cascavel – Com a liberação para a retomada de aulas presenciais na rede privada de ensino por meio de decreto da Prefeitura de Cascavel, as escolas privadas se dividem entre a retomada e o alerta da Secretaria de Estado da Educação, que não pretende validar as atividades presenciais realizadas sem a autorização da Secretaria de Estado da Saúde, que defende pela não retomada nesse momento.

A reportagem do Jornal O Paraná entrou em contado com quatro grandes colégios de Cascavel, que oferecem Ensinos Fundamental e Médio, já liberados para retorno desde 14 de setembro. Os responsáveis informaram que não retornarão neste momento, apesar de já terem feito as adaptações para seguir o protocolo sanitário. Em comunicado às famílias, as instituições explicam que aguardam a posição estadual favorável ao retorno.

Sindicato incentiva

Já o Sinepe (Sindicato das Escolas Particulares) da região oeste defende a retomada e acredita na validação das aulas mais tarde. “Assim que o decreto municipal foi publicado, nós tivemos uma reunião na qual participaram 30 representantes de escolas e todos se mostraram muito positivos ao retorno. Vale lembrar que esse retorno é gradativo. As atividades extracurriculares já puderam ser retomadas nesta quarta-feira [ontem], no dia 14 está autorizada a retomada do ensino fundamental II, depois do ensino fundamental I”, disse Gelson Luiz Uecker, presidente do Sinepe.

Após ser informado sobre a resposta obtida pela reportagem, ele declarou que, “se alguma escola se pronunciou desfavorável ao retorno, é uma decisão particular da instituição. O que também o sindicato alerta é que o Ministério Público está no papel dele de questionar o retorno e que cabe a nós, enquanto escola, cumprir o protocolo e também a nossa função, que é a educação. Se as instituições seguirem tanto o protocolo estipulado no decreto quanto o protocolo elaborado pelo Sinepe, a volta será feita com muita segurança. Já com relação à não validação pela Seed das aulas presenciais ministradas, isso é um questionamento que pode ser feito depois, mas não há como não reconhecer uma aula presencial ministrada. Além do mais, o ensino remoto também estará sendo continuado”.

Especialista alerta para saúde mental dos alunos e defende volta após vacina

Diante do impasse da volta às aulas presenciais, a reportagem consultou especialista sobre os impactos da retomada do ensino presencial a quem mais interessa: os alunos. “A volta das aulas presenciais é um processo delicado e que precisa ser muito bem gerenciado porque pode gerar bastante angústia, tanto para as crianças quanto para os professores”, inicia a psicopedagoga Fernanda Burkoski Acs.

Segundo ela, uma das principais preocupações é com a questão emocional. “Esse isolamento traz angústia para as crianças e aos professores. Quando se fala em aprendizado, não se resume somente às matérias, mas não foi só isso o que foi interrompido com a pandemia. Quando o ensino foi interrompido, interrompeu-se também a socialização das crianças, o desenvolvimento que os professores ensinam como empatia e convivência. Com isso, vem a pergunta: como é que vamos fazer com o distanciamento? Como dizer para a criança que ficou longe dos amigos por todos esses meses que ainda existe distanciamento? Como exigir o uso da máscara o tempo todo? Como o professor vai cuidar da higienização correta de todos os alunos?”, lista.
Ela também alerta para a saúde mental dos próprios professores, que, no momento da volta das atividades presenciais, ficarão responsáveis, além do ensino, por esse cuidado extra dos alunos. “Os professores passarão por estresse diário, porque eles precisam garantir a saúde e segurança das crianças, assim como deles próprios”, lembra Fernanda.

A especialista ressalta que o retorno deve estar pautado no equilibro entre o bem-estar emocional e a segurança física. “As escolas só vão conseguir fazer com que as crianças cumpram essas novas regras de uma maneira muito controladora, mas isso vai impactar na saúde mental desses alunos, uma vez que elas já estão fragilizadas emocionalmente e têm que lidar com regras duras e a proibição de relacionamento com os colegas. O ideal é que elas cheguem à escola sabendo que é um espaço que podem usar e compartilhar, ver os amigos, socializar…

Por isso, sou a favor que se pense nesse retorno presencial quando for possível unir o bem-estar emocional à segurança. E, quando me refiro à segurança, estou me referindo a uma vacina. Só assim pais, alunos, professores e toda a comunidade escolar vão se sentir de fato seguros para o retorno”.

Por outro lado, ela ressalta a oportunidade de os pais se envolverem mais no aprendizado dos filhos. “A criança está em constante aprendizado. Vai ter um pouco de prejuízo no conteúdo neste momento, mas isso será revisto várias vezes no decorrer da sua formação. A tabuada, por exemplo, começa-se a aprendê-la a partir do segundo ano, mas ela vai ser vista ao longo de toda a vida escolar”.

MEC quer bandeiras na volta às aulas

O MEC (Ministério da Educação) propôs um protocolo nacional de volta às aulas presenciais na rede básica de ensino. O documento contém recomendações pedagógicas e sanitárias, sob um modelo de estágios de controle por bandeiras, que vão da cor vermelha (pior situação) à azul (situação normal). Cada uma delas apresenta uma série de regras próprias.

Cada ente federativo determinará em qual situação se encontra e, em função dessa leitura, haverá intensidade de restrições mais específicas.

Quanto à readequação do currículo escolar, a expectativa é de que o MEC homologue o que foi aprovado pelo CNE (Conselho Nacional de Educação), para que o ano escolar de 2020 seja fundido com o de 2021, e que os sistemas de ensino adotem “anos escolares contínuos”.