Empreender é um caminho muito solitário. É solitário para você se automotivar diariamente para a superação dessa jornada e principalmente para as decisões que terão de ser tomadas. Eu acreditava, mas pensava que em algum momento poderia dar errado. Não deu, mas sempre acho que pode dar. Achei que poderia dar errado quando chegasse o primeiro filho. Não deu. Empreendedores têm uma essência mais inquieta e esse ponto forte é, sem dúvida, um motor capaz de fazer a engrenagem funcionar – mesmo com um bebê no colo.
Vi meu projeto de TCC virar meu projeto de vida aos 22 anos de idade. Casei aos 25 anos e engravidei a primeira vez aos 27. Perdi dois bebês e descobri a trombofilia, que me trouxe outra jornada: engravidar e continuar mantendo o foco. Depois de 333 injeções dei à luz a uma menina – que chegou para completar a família e, claro, ensinar ainda mais a colocar as prioridades no lugar.
Fiz home office desde que cheguei em casa com ela. Às vezes, aquele projeto que você tanto queria chega na hora mais conturbada da sua vida. E comigo não foi diferente. Vi novos clientes e projetos irrecusáveis chegarem quando ela tinha 45 dias de vida e aquela pessoa que você apostou para te cobrir sair da empresa.
Tive vontade de jogar tudo para o alto, mas já tinha percorrido oito anos de trabalho e isso me dava um orgulho imenso – sei que ela vai se orgulhar no futuro também. Nunca esqueço que montei um berço do lado da minha mesa, com trocador e mamadeiras, e fiz um processo seletivo amamentando. Mais uma vez, tinha a certeza que não daria certo. Deu e não só deu, como foram as melhores profissionais que poderiam estar do meu lado naquela fase.
Depois de três meses em home office com contatos diários por telefone e por vídeo com a equipe voltei ao escritório alguns dias da semana e fui aumentando gradativamente minhas idas. Mudei a empresa de bairro para estar ao lado do meu maior suporte familiar: os avós.
A rotina é puxada? Sim. Conciliar é difícil? Sim. Dá vontade de surtar? Sim. É perfeitamente compreensível que a tarefa de cuidar de um bebê e de uma empresa é desgastante, mas a decisão do que será melhor só você pode tomar. Eu escolhi dançar conforme a música. Não perdi o prazo dos clientes nem o prazo da amamentação, dos horários com o pediatra, dos remédios, trocas de fraldas, das brincadeiras, os primeiros passos. Empreender ainda te dá a liberdade de, com o passar dos meses, estabelecer uma nova rotina de horários e de trabalho.
Aquele ser que parece tão frágil vai ser o que vai te fazer mais forte no final. Nessa rotina de equilibrar pratos, consegui manter ela comigo até 1 ano e 3 meses, depois a escola entrou para deixar tudo mais regrado, e ela deixou saudades no escritório.
Hoje, ao olhar para trás, me pergunto como consegui e vejo que a jornada está ainda melhor. Aprendi que as horas extras são na minha casa, com minha filha. Que o horário comercial é comercial mesmo. Que casos especiais são casos especiais – mesmo. Que é perfeitamente possível resolver as coisas das 9h às 18h e que tem o dia seguinte para continuar. As prioridades me ajudaram a ser mais produtiva e não ter distrações, porque produtividade virou sinônimo de resultados e mais tempo com ela. Afinal, eu tenho um compromisso muito importante me esperando em casa: minha família.
Hoje ela está com quase dois anos. Sua chegada me ajudou a reestruturar a empresa, a equipe, a marca, o nosso posicionamento e os nossos resultados. Mudei de endereço novamente e escolhi outra cidade, que me permite ter qualidade de vida no trabalho e na vida pessoal. E quando, no auge das emoções, alguém te disser “Calma, essa fase vai passar”, acredite: ela passa.
Talita Scotto é jornalista e diretora da Agência Contatto, especializada em assessoria de imprensa e conteúdo