Muitas pessoas entram para a história, mas são poucos que têm a honra de ter esse reconhecimento em vida. Entre esses que têm o prazer de ouvir a frase “você fez história” está Dilso Sperafico, que iniciou a história do clã da família de Toledo. Com 11 pilotos, a família Sperafico é a que tem maior número de pilotos no mundo, superando os Andretti (Estados Unidos) e Fittipaldi (Brasil).
Além de Dilso, a família Sperafico tem como pilotos Milton, Eloi, Fabiano, Ricardo, Rodrigo, Alexandre, Rafael. Guilherme, Natan e Arlei Sperafico Pizzoni (que compete no motocross sul-mato-grossense). Rafael faleceu em um acidente da Stock Car Light, em 2007, no Autódromo de Interlagos. Nos anos 90, os Sperafico competiam no mesmo dia na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil.
O início
Dilso Sperafico explica que tudo começou porque, desde criança, sempre gostou de carro. Quando tinha 14 anos, comprava todas as revistas da época de carros e em especial a Quatro Rodas e a Autoesporte, que traziam também automobilismo. “Quando assisti ao filme Grand Prix fiquei louco. É isso o que quero fazer”, explica Dílson.
Dílson também destaca que seu gosto pelo automobilismo cresceu mais ao se tornar fã do cascavelense Zilmar Beux. “Eu estudava no Seminário de Cascavel e tinha como professor o Walmor Beux, irmão do Zilmar. Passei a assistir a todas as corridas do Zilmar nas provas de terra pelas ruas de Cascavel. As disputadas onde hoje é o Cemitério Central eram empolgantes”, relembra Dilso.
Em 1973 foi anunciada a inauguração do Autódromo de Cascavel (asfalto) e Dilso decidiu estar na festa. “A família tinha dois Fuscas e um estava batido. Fui à oficina, que era de um amigo, e pedi para ele colocar para-lamas, fazer uns acertos aqui e outros ali, que iríamos correr na inauguração do autódromo de Cascavel no dia 22 de abril de 1973. Meus pais não sabiam de nada. Acho que só o meu irmão Milton e o sobrinho Eloi souberam, mas ficaram de bico calado porque também já tinham paixão pelo automobilismo. Conquistei o quarto lugar em uma prova que participaram mais de 30 competidores de todo o Brasil”, informa Dilso.
Após o sucesso da estreia, Dilso obteve novas conquistas com seu Fusca que mais tarde passou a ser chamado de o nº 1, sempre tendo como predominância a cor amarela. Ele está hoje no museu da família.
Em 1978 e 1979, disputou o Campeonato Brasileiro de Super Vê, quando competiu com estrelas do automobilismo nacional como Ingo Hoffmann, Alfredo Guaraná Menezes, Vital Brasil, entre outros. As corridas só diminuíram um pouco quando Dilso foi estudar agronomia em Bandeirante, no norte do Paraná. Após se formar, fixou residência em Amambay (Mato Grosso do Sul) para cuidar dos negócios da família e as corridas passaram a ser basicamente em Cascavel, mas, em 1986, ele conquistou a Cascavel de Ouro, prova que também tinha sido vencida por Nelson Piquet dez anos antes. Uma nova vitória dos Sperafico na Cascavel aconteceu 21 anos depois. Em 2015, seu filho Ricardo, correndo em dupla com o sobrinho Natan, ganhou a mais tradicional corrida do Paraná.
Única frustração
Dilso diz que, se tivesse que fazer tudo de novo, faria tudo igual.
A única frustração em toda a sua trajetória no automobilismo foi não ter colocado os filhos Ricardo e Rodrigo (ou pelo menos um deles) na Fórmula 1. Ricardo esteve muito perto de defender a Williams, tendo ocupado a função de piloto de testes, quando as equipes faziam testes de pista. “Estivemos quase lá. Não tivemos um Sperafico na Fórmula 1 por detalhes. Mas, infelizmente, o patrocínio, interesse das equipes por mercados, fala mais alto. Da safra de pilotos daquela época, que mediram forças nas Fórmula 3.000 Internacional, o Mark Webber [Austrália], Antonio Pizzonia [Brasil] e Sebastian Bueni [França] chegaram lá. Talento os meninos tinham, e fariam carreira vitoriosa, disso eu tenho certeza”, exclama Dilso.
Futuro
Quando da morte de Rafael, Dilso declarou que, enquanto existir automobilismo, um Sperafico estará nas pistas. Assim tem sido até hoje, mas a renovação do clã não está acontecendo com a mesma velocidade de outrora.
Pensando na tradição, Dilso especula um e outro e, ao tocar no assunto com os filhos – os gêmeos Ricardo e Rodrigo – sobre quem será o novo Sperafico a ir para as pistas, os dois descartam a possibilidade de as filhas seguirem a tradição. Mas Dilso não se dá por vencido: “O avô é para fazer bagunças com os netos. Qualquer dia vou arrumar uma viagem para o Ricardo e a nora, porque têm as netas mais velhas, e vou levá-las para uma pista de kart. Se elas gostarem, vou repetir todo o caminho que fiz com o Ricardo e o Rodrigo. Agora com a vantagem de ter mais experiência. Quem sabe não será uma delas [ou as duas], a ser primeira mulher da família Sperafico nas pistas”, brinca o esperançoso avô.