Reportagem: Cláudia Neis
Cascavel – Considerada a segunda data mais importante para o comércio, o Dia das Mães deste ano deve ficar para a história como o pior de todos os tempos. A ACP (Associação Comercial do Paraná) prevê redução de 50% nas vendas em relação a anos anteriores no Estado, situação nunca vista antes, nem mesmo durante o acirramento da crise econômica nos últimos anos. A data é comemorada no segundo domingo de maio, que neste ano será dia 10.
A perspectiva é está relacionada aos reflexos da pandemia da covid-19, que já reduziu o movimento no comércio em geral de 50% a 80% após a retomada das atividades em quase todas as cidades do Estado.
Apesar disso, a entidade acredita que o movimento pode crescer um pouco nesta semana, até porque boa parte dos trabalhadores recebe o salário. Mas, em meio às medidas sanitárias obrigatórias para a segurança de clientes e funcionários, as lojas não podem fazer aquelas campanhas de licitação que salvavam as vendas em anos difíceis. Quem provocar aglomerações pode ser multado e não compensaria o lucro.
Isso porque, conforme a própria ACP lembra, é um momento conflitante: ao mesmo tempo que os lojistas precisam vender, recuperar o que já foi perdido e aproveitar uma das melhores datas do calendário, ninguém está estimulando o consumo, justamente para preservar a saúde de todos os envolvidos.
Região oeste
Na região oeste, a perspectiva também não é das melhores. O que salva por aqui é que boa parte da economia é movida pelo agronegócio, que não sentiu tão duramente a crise quanto os demais segmentos da economia. Contudo, mesmo assim, é esperada uma redução de 7 a 10% nas vendas. “Essa expectativa é a média, levando em conta todos os setores. O alimentício [mercados] não deve sofrer tanto, mas setores que faturavam muito bem na data como floricultura, lojas de roupas e calçados já sentem uma redução bem maior”, explica o presidente do Sindilojas (Sindicato dos Lojistas e do Comércio Varejista de Cascavel e região Oeste do Paraná), Leopoldo Furlan, que acrescenta: “Vamos torcer que não, mas está pintando para ser o pior dia das mães de todos”.
Segundo ele, o setor de calçados, por exemplo, já registrou redução de cerca de 70% nas vendas após a reabertura do comércio, no início de abril: “São produtos que as pessoas têm evitado comprar, pois, sem eventos sociais nem ocasiões para usar, é deixado em segundo plano. As roupas também. E isso acontece na hora de comprar o presente, além da questão de que os produtos também precisam ficar em quarentena até serem entregues, ou seja, tudo influência na decisão de compra”, observa Leopoldo.
“Lembrancinhas”
Furlan acredita que, com a aproximação da data e o recebimento dos salários, deve haver uma maior procura por lembranças, de custo menor que em anos anteriores. “As pessoas não devem deixar de comprar uma lembrança para as mães, mas devem ser mais econômicas. Mesmo quem tem um poder de compra melhor deve economizar devido a essa situação de insegurança geral. Por isso devem ser priorizados presentes mais em conta”.
Delivery
Para garantir segurança e incentivar os consumidores, muitas empresas têm aderido à opção de delivery, o que vem ajudando a manter parte das vendas durante o período de pandemia. “Essa entrega em casa, pela comodidade e também pela segurança, vem ajudando muitos lojistas a sobreviverem e a manterem o giro”, ressalta Furlan.
Reflexos futuros
Outra mudança já observada no comércio é a mudança de pagamento à vista para o cartão de crédito, o que gera uma preocupa maior dos lojistas no longo prazo. “Houve uma mudança significativa de clientes que pagavam no débito e passaram a utilizar o crédito. O que preocupa é que em alguns meses eles possam ficar endividados e até inadimplentes e terem menor poder de compra lá em dezembro, por estarem negativados. A perspectiva para todo este ano é complicada. Deve haver uma mudança de hábitos e todos precisaremos nos reajustar”, acrescenta Leopoldo Furlan.