Brasília – A equipe econômica brasileira trabalha com a possibilidade de retomada gradual da quarentena a partir de 7 abril. O prazo se baseia na data inicial de fim do isolamento imposto pelo Estado de São Paulo.
A previsão de retomada das atividades pelos assessores do ministro Paulo Guedes coincide com o período de pico da transmissão do vírus estimado pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Na sexta-feira (20), ele afirmou que a transmissão do novo coronavírus continuará a crescer até maio e junho e só terá uma “queda brusca” a partir de setembro. “A gente imagina que ela vai pegar velocidade e subir na próxima semana ou dez dias. A gente deve entrar em abril e iniciar a subida rápida. Essa subida rápida vai durar o mês de abril, o mês de maio e o mês de junho, quando ela vai começar a ter uma tendência de desaceleração de subida. No mês de julho ela deve começar o platô. Em agosto, esse platô vai começar a mostrar tendência de queda. E a queda em setembro é uma queda profunda, tal qual foi a queda de março na China”, explicou o ministro durante uma reunião com empresários, realizada por videoconferência.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, é um dos integrantes do governo a alertar o presidente Jair Bolsonaro sobre o risco da paralisação brusca da economia por meses seguidos. Guedes e sua equipe têm conversado com empresários sobre o tema. As medidas vão ao encontro do que vem sendo defendido pelo presidente, que condenou na noite de terça-feira (24) as medidas drásticas adotadas por estados e municípios com fechamento de empresas e até de rodovias, e pediu a retomada da economia, mantendo a quarentena apenas para grupos de risco, como idosos e portadores de doenças crônicas.
Pandemia pode provocar prejuízo de R$ 320 bi e corte de 6,5 mi de empregos
Os efeitos da pandemia do novo coronavírus e de restrições ao funcionamento de diversas atividades econômicas podem levar a um prejuízo de mais de R$ 320 bilhões à economia brasileira e fazer com que 6,5 milhões de trabalhadores percam seus empregos, de acordo com estudo encomendado pela CNS (Confederação Nacional de Serviços).
De acordo com o vice-presidente da entidade, Luigi Nese, os números expressivos não devem ser usados para fazer alarde nem para serem contrapostos a estratégias recomendadas por autoridades sanitárias para conter o avanço da doença. “O intuito do estudo é mostrar o que uma paralisação de 60 a 90 dias pode causar na economia. Encomendamos os dados para prepararmos empregadores, trabalhadores, governo e Justiça para um debate que nos leve a uma solução pós-crise (…) É preciso unir esforços para que a economia se recupere após esse processo”, afirma.
O setor de serviços pode perder cerca de R$ 117 bilhões em faturamento, caso os impactos se arrastem por um período de 60 a 90 dias. O comércio perderá quase R$ 80 bilhões e a indústria de transformação, R$ 66 bilhões. A pandemia ainda traria perdas à construção civil (cerca de R$ 20 bilhões) e à agropecuária (quase R$ 12 bilhões).
Com isso, as perspectivas são de 2,2 milhões de demissões no setor de serviços, 2 milhões de vagas no comércio, 1 milhão na indústria e 637 mil na construção civil. O estudo mostra ainda que, com menos produção e emprego, a arrecadação federal encolheria quase R$ 125 bilhões neste ano.
“A primeira coisa para garantir o emprego durante e após a crise é desonerar a folha de pagamento – imediatamente, sem discussões! Temos essa oportunidade para implementar isso, mesmo por uma proposta sobre tributação sobre transações eletrônicas”, acrescenta.
Governo pede apoio para garantir abastecimento
A ministra da Agricultura, Teresa Cristina, e o presidente da CNM (Confederação Nacional dos Municípios), Galdemir Aroldi, discutiram medidas que garantam o abastecimento de produtos essenciais. “A ideia é estreitar o diálogo com os prefeitos, a exemplo do que vem sendo feito com os estados, com a criação do Conselho Nacional dos Secretários de Transporte. O Ministério da Infraestrutura já conseguiu o consenso com os 26 estados e o Distrito Federal para garantir a livre circulação de cargas nas estradas e a manutenção de serviços essenciais”, informou a pasta, em nota.
Nos próximos dias, o Conselho Nacional dos Secretários de Transporte deve publicar um texto regulamentando medidas no transporte rodoviário de passageiros.
De acordo com a CMN, a ministra Teresa Cristina pediu apoio dos representantes dos municípios para orientar os gestores locais nas ações que podem ser feitas para evitar o desabastecimento de alimentos nas cidades, especialmente em relação à safra de grãos, que será colhida os próximos meses.