Ensinar. Influenciar no futuro de uma criança, de uma família, de um município, de uma nação. O desafio que a figura do professor tem no dia a dia é imensurável. Lidar com crianças, cada qual com o seu comportamento; com pais, cada qual com seu comportamento; correção de provas, elaboração de aulas, adquirir conhecimento para repassar conhecimento… Quiçá os profissionais mais importantes que existem, por ter como função formar alguém para algo, mas cada vez menos valorizados e com a saúde em xeque.
De acordo com dados do setor de Medicina do Trabalho da Prefeitura de Cascavel, atualmente o quadro de professores do Município é formado por 1.505 pessoas. Algumas que possuem mais de um vínculo empregatício com o município e que, por isso, geram 2.322 vínculos empregatícios.
Números
Em 2017, até 1º de agosto, foram 487.620 dias trabalhados. O número é confuso, mas a conta é feita assim: quantidade de vínculos empregatícios multiplicada pelos dias trabalhados e por isso o número é tão alto. Passada essa explicação, em 4,34% desses dias trabalhados o servidor faltou devido a algum fator de saúde, o que representa 100 vínculos de professores que não estiveram presentes no período.
No ano passado, eram 1.577 professores, somando 2.428 vínculos empregatícios e 886.220 dias trabalhados. Em 4,61% desses dois, o servidor faltou por conta de problemas de saúde. Que representa 112 vínculos de professores que não estiveram presentes. Considerando que 2017 ainda não acabou, esse número de 2016 deve ser superado.
O desafio
Cada dia se torna mais difícil o trabalho, mesmo para professores com carreira longa, alguns com mais de 20 anos de profissão e que estão esgotados com o sistema. “O professor sofre pressões de todos os lados. A família não impõe regras nos filhos. Não conseguimos dormir à noite de nervoso. Os alunos agridem os professores, e se você pedir ajuda é considerado fraco pelos colegas. É claro que fisicamente um xingamento, uma ofensa, não faz efeito. Mas psicologicamente faz um estrago danado. E no outro dia tem de voltar à Escola como se nada tivesse acontecido”, desabafa uma educadora do Município, que preferiu não ser identificada.
“Faço tratamento psicológico porque perdi a vontade de trabalhar. Aquela esperança de fazer um mundo melhor está cada vez mais distante”, lamenta.
Segundo ela, a maioria dos profissionais passa por um “perrengue” psicológico. “Em todas as escolas há vários professores que tomam remédios para continuar em pé, mas muitas vezes não falam por vergonha”, relata.
Salário
Outro problema considerado determinante nesse “desânimo” dos professores é a falta de incentivo por parte das autoridades. “O Município não paga o piso nacional ao professor, causando achatamento de salário. Não há incentivo à formação continuada, pois se ganha um adicional de 1% ou 2% a cada dois anos. Se o professor ganhasse uma porcentagem maior para estudar, não haveria mais vagas em cursos de pós-graduação”, relata a professora.
Comportamento
O problema é mesmo comportamental, de acordo com a doutora em Análise do Comportamento, a psicóloga Caroline Buosi Velasco. “Os pais deixam que os filhos, de qualquer idade que seja, se convencer de que não é responsável pelas suas atitudes. Os pais têm estado ausentes cada vez mais, vê o filho falhar e reconhece como sua própria falha. Em consequência, culpa alguém por isso, e o adulto mais próximo é o professor”, relata. “Se a criança está falhando, é agressiva, é óbvio que os pais estão falhando”, acrescenta.
Ausência no lar
A ausência do lar também faz com que os pais tenham medo de perder o amor dos filhos. “A sociedade espera um papel de superpais, e os pais se culpam por não estar com os filhos o tempo todo. Esse tempo pode ser, sim, só no fim de semana, mas tem que ser um tempo em qualidade e não em quantidade”, reforça.
E quanto ao professor, esse sofre pressão de todos os lados. “Pressão da profissão, da escola, dos pais, dos alunos. E em escola particular é ainda pior. Os professores não podem falar que a culpa é dos pais, senão perdem o cliente”.