Nas eleições deste ano, Cascavel tem oito postulantes à chefia do Executivo, o que aumenta a possibilidade de a disputa ir para o segundo turno. Para manter a tradição da ampla cobertura das eleições municipais em Cascavel, o Jornal O Paraná entrevista esses candidatos e os apresenta aos nossos leitores.
Com dez siglas, a coligação Cascavel Mais Humana, Sem Corrupção, Sem Desperdício traz Leonaldo Paranhos como candidato à reeleição, tendo o empresário Renato Silva como seu vice.
Paranhos afirma que precisa de um novo mandato para concluir o ciclo de transformação que iniciou em 2017, ressaltando como marcas de sua administração a transparência e o volume de obras, mas diz que, nos próximos dois anos, o poder público municipal terá que ser o apoio para a geração de emprego e renda.
Ele defende que Cascavel adote modelo de gestão plena na saúde, passando a administrar inclusive leitos de alta complexidade, e promete pôr o assunto para discussão. A íntegra da entrevista você confere no site do jornal (oparana.com.br).
Não conseguia imaginar chegar perto das eleições, que ainda eram em outubro, com um quadro muito tenso de pessoas contaminadas, pessoas morrendo todo dia, e eu disputando uma eleição
O Paraná – Logo no início da pandemia, o senhor deu a entender que talvez não disputaria a reeleição. O senhor chegou mesmo a cogitar essa possibilidade?
Leonaldo Paranhos – Mencionei isso para algumas pessoas, inclusive para nosso grupo de partidos. De fato, eu me assustei muito com o início da pandemia. Nunca tínhamos passado por uma pandemia, nossa geração. E de fato foi algo muito forte e ainda é. Mexeu com a economia do mundo todo. Colocou de joelhos economias como a China, os Estados Unidos… Não conseguia imaginar chegar perto das eleições, que ainda eram em outubro, com um quadro muito tenso de pessoas contaminadas, pessoas morrendo todo dia, e eu disputando uma eleição. Reuni um grupo mais próximo e falei que era importante que o grupo tivesse outras opções. Fomos trabalhando e chegamos a um momento que teve um alívio – não terminou -, mas tivemos um pouco mais de domínio sobre isso. Quinze dias antes da convenção foi que de fato eu reuni, a pedido dos partidos, e disse que poderíamos disputar as eleições.
O Paraná – Boa parte do seu plano de governo é tratada com as expressões: “manter e ampliar”, mas é comum haver uma expectativa de renovação a cada eleição. O que vocês estão propondo de novo para um eventual segundo mandato?
Paranhos – Essa questão da reeleição, precisamos ter uma defesa dela. O que estou propondo é concluir um ciclo de uma mudança que entendemos que implantamos na cidade. Uma quebra de paradigmas, na nossa visão. Ter uma prefeitura extremamente transparente. Criamos um escritório de compras. Para ter uma ideia, tínhamos uma tradição: de 2006 a 2016, as compras do Município eram próximo de R$ 400 milhões por ano, e o desconto médio era de 10,22%. De 2017 para cá, o desconto chegou a 32%. Por que isso? Nós fizemos uma parceria com Acic, Sebrae, e, ao comprar um cartucho, por exemplo, mandamos [o edital] para o escritório que manda para todos os fornecedores de cartucho da cidade. A mudança que fizemos na educação: implantamos o programa Escola Feliz, que é uma escola atraente, que possa atrair a criança para que ela queira ficar na escola. Agora tem brinquedo, carrinho, bonecas, a escola é colorida. Reformamos 74 escolas das 117 que temos hoje. Essa questão de ampliar e continuar é exatamente isso: consolidar esse trabalho.
O Paraná – E estes quatro próximos anos são suficientes para concluir esse ciclo?
Paranhos – Acho que sim. Agora, não é só isso. Teremos que ter um novo ciclo de Cascavel. A gente percebeu que há um espaço para agregar valor. Estamos propondo arranjos produtivos no Município do leite, do peixe, do frango, ligada à saúde… Queremos criar uma cadeia disso para não desperdiçar. Ao ter um consultório, você tem médico, o remédio, o equipamento… de onde vem tudo isso? Por que não podemos ter aqui um arranjo produtivo?
Eu queria muito! A gente iria ampliar e Cascavel ser a gestora desde a pré-consulta até o atendimento de alta complexidade.
O Paraná – No início do seu mandato, o senhor reduziu de 17 para 13 secretarias. Pretende manter essa estrutura? E os secretários?
Paranhos – Acho que esse formato é suficiente. Dá para tocar como está. E é bom se dizer que durante muitos meses tivemos secretário que teve três pastas, quatro pastas… Por exemplo agora: o Renato Segalla está com Finanças e Agricultura; o Valter Parzianello com o IPMC e a Cultura e Esporte; Thiago Stefanello está com Saúde e Comunicação; o Alcione Gomes está com Fundetec e Secretaria de Desenvolvimento.
O Paraná – Esse acúmulo não causa prejuízo aos segmentos dessas pastas?
Paranhos – Não percebemos isso. Além da figura do secretário, temos um grupo de pessoas, técnicos, gerente, diretor… e tem o corpo técnico. Historicamente, a prefeitura fazia 240 a 250 licitações, chegamos a fazer 600. Chegamos a 243 obras, não tivemos atraso em obras, em programas… e sempre trabalhei em cima da questão de valores, isso tem um peso. Sempre falei: “O secretário que vem para cá, vem para trabalhar, não para fazer um bico”. Não percebemos prejuízo. Claro que nosso pessoal trabalhou muito mais, inclusive os servidores.
O Paraná – Então não poderia juntar e manter menos secretários?
Paranhos – Não, esse formato é bem enxuto, acho que, para uma cidade do tamanho de Cascavel, não é muito ter 13 secretarias. Saindo dessa questão da queda de arrecadação, pois houve queda na arrecadação, cada vez que uma empresa vende menos, recolhe menos imposto… Nossa folha é de R$ 35 milhões. Imagine, se durante 12 meses a gente economiza R$ 60 mil por mês de secretários, estamos economizando hoje R$ 75 mil, durante 12 meses chegamos a quase R$ 1 milhão. E isso tem um peso importante também. Agora, a economia não pode ser burra, chegar ao ponto de trazer prejuízo. A saúde nunca ficou improvisada…
O que estou propondo é concluir um ciclo de uma mudança que entendemos que implantamos na cidade. Uma quebra de paradigmas, na nossa visão
O Paraná – Temos uma crise à vista, que deve demandar muito especialmente das prefeituras. Além do financiamento do BID, o senhor também contratou empréstimos. Qual a projeção do nível de endividamento da prefeitura para o próximo mandato?
Paranhos – A crise é intransferível. O poder público terá que assumir em todas as suas instâncias, municipal, estadual e federal. Teremos de fato meses de muita dificuldade, porque, quando houver a suspensão dos benefícios às empresas e o auxílio emergencial, haverá menos circulação de dinheiro e, como consequência, preocupação. O que temos que fazer? Preparar a mão de obra. Já fizemos em 2019 a Lei 7025, de incentivo. As pessoas, para construírem aqui empresas que vão gerar emprego, não pagam nem o ISSQN da obra. Dez anos de isenção de taxa, alvará, bombeiros… tudo o que tem de taxas a prefeitura vai absorver. Dez anos de isenção de impostos. Fizemos uma lei que a prefeitura vai alugar barracão fechado e vamos passar para quem quiser produzir. Inserimos o Banco da Mulher, que é um financiamento para que a mulher possa ser a empreendedora. São ferramentas que vamos usar muito. Já emprestamos mais de R$ 6 milhões para o microcrédito, dinheiro de injeção rápida. Uma série de ações para facilitar.
O Paraná – O senhor citou uma série de ações que vão demandar ainda mais da prefeitura, e, quando falamos em incentivo, falamos em renúncia fiscal. Como fica a capacidade da prefeitura?
Paranhos – Temos que trabalhar com a prioridade do momento. O que captamos de empréstimo, além do BID, que nós pagamos as parcelas – três de US$ 1 milhão -, foi uma operação de crédito do Banco do Brasil, de R$ 12 milhões para as estradas rurais, que era uma contrapartida; e fizemos o Finisa, que foram R$ 15 milhões para a saúde e R$ 15 milhões para a educação, porque o BID não previa nada de saúde nem de educação nem de assistência social. E fizemos um trâmite com projetos, com aprovação de lei na Câmara, já aprovado na STN (Secretaria de Tesouro Nacional) para captar dinheiro com o Funplata, mas não assinarei o contrato antes da homologação da eleição.
O Paraná – E o nível de endividamento?
Paranhos – Temos uma capacidade enorme de endividamento. Em 2016, a categoria do Município no STN era C. Hoje é A. 2017, 2018, 2019 e 2020 é categoria A, a nota máxima. Temos aí condições de captar mais de R$ 300 milhões, mas temos que ter muita responsabilidade. Como temos um novo momento, é preciso focar na prioridade absoluta. Na questão da saúde, não precisaremos mais aumentar o número de UBS. Vamos chegar até abril com 100% de cobertura da atenção básica. O que estamos propondo de novo na saúde são três centros chamados materno-infantil. Nos três distritos da saúde teremos, como se fosse um mini-hospital. A partir do momento que detecta a gravidez, ela passa a ser atendida nesse centro, que é algo que não temos em Cascavel. Agora já temos hospital municipal, as três UPAs em condições boas, um complexo de saúde na região norte… Com essas três unidades, faríamos isso de forma espetacular.
Uma mudança naquele conceito antigo que dizia assim: “Se o poder público não atrapalhar, está bom”. Não concordo com isso!
6) O senhor tem falado que a saúde básica alcançou cobertura de 85%. Por que as pessoas ainda vão de madrugada aos postos tentar consulta?
Paranhos – Tem gente que quer ir lá, ficar e garantir a ficha. A gente está quebrando essa cultura aos poucos. E é aí que entra a equipe do PSF, que vai até a casa e diz que não precisa ir de madrugada, pode ligar que vem alguém aqui, agendar a consulta. Nosso grande problema são as especialidades, e isso depende do Estado. Está um gargalho enorme. A gente precisa talvez fazer uma opção, que é Cascavel ser saúde plena. As três instâncias são: a primária (Município), a média complexidade, que é o Estado, e a alta complexidade, que são os hospitais, com UTIs. Estamos debatendo a possibilidade de ser saúde plena, tudo é do Município e nós norteamos essas questões. É um debate que tem que ser feito com Conselho Municipal de Saúde para tomar essa decisão. Eu queria muito! A gente iria ampliar e Cascavel ser a gestora desde a pré-consulta até o atendimento de alta complexidade. É um debate que vai ter.
O Paraná – A volta às aulas está um desafio no mundo todo. Qual seria o investimento necessário hoje para oferecer uma estrutura segura para os alunos da rede municipal?
Paranhos – Já fizemos licitação de máscara, álcool gel, aventais… As compras da educação estão em torno de R$ 16 milhões de produtos que, no dia a dia, não usaríamos esses produtos. São 117 escolas, 5.700 profissionais, 30.600 alunos. Só de refeições são 70 mil por dia. Mas o maior problema não é estrutural, financeiro, isso a gente dá um jeito. A maior preocupação é com o movimento que significa trazer 30 mil crianças de volta. Então, estamos liberando as escolas privadas, é individualizado, porque, uma coisa é falar de 30 mil crianças, outra é de 100 alunos. Acho que vamos avançar talvez com alguns setores da educação do Município, mas essa é uma discussão que tem que ter com o professor e com os pais. Os pais vão voltar com seus filhos? Quem tem um idoso em casa, do grupo de risco, deve levar sua criança para a sala de aula, que vai se encontrar com 50, 100 alunos, ou não? Só faria esse movimento discutindo com esse setor: professores, pais e a saúde junto.
O Paraná – O senhor acha então que, neste momento, não tem condições de voltar?
Paranhos – Acho que ainda não. Mas acho que devemos fazer uma experiência neste ano ainda. Poderíamos pegar algumas escolas, algumas séries e medir o comportamento, e então vai soltando aos poucos.
O Paraná – Por que o eleitor deveria votar no senhor para um segundo turno?
Paranhos – Eu me propus a terminar esse ciclo dessa grande transformação que fizemos. Tenho dito isso e é perceptível: uma transformação na metodologia. Nosso governo tem falhas, como todo governo tem. Temos transparência. Eu sei que é obrigação, mas, ao fazer com transparência, a gente motiva as pessoas. Ao fazer com que a população possa fiscalizar uma obra, possa denunciar, possa cobrar, isso é importante! Uma mudança naquele conceito antigo que dizia assim: “Se o poder público não atrapalhar, está bom”. Não concordo com isso! Uma máquina que custa mais de R$ 1 bilhão por ano não pode se contentar com apenas não atrapalhar. Agilidade: para aprovar um projeto, não pode levar oito meses, um ano. Tem que ser 15 dias, como fizemos com a Lei do Aprova Fácil. E consolidar esses investimentos. De fato, ter uma educação de infraestrutura que nós já fizemos, física. Nós pagamos o piso em 2017, 2018, 2019, agora em 2020 acho que não vamos conseguir dar o reajuste necessário, voltar a discutir isso em 2021… o programa das escolas rurais, fazer com que possa se consolidar de fato que o interior faz parte da cidade. Não só a estrada, mas o Cmei que vamos fazer em Rio do Salto, os parquinhos em todas as sedes, as sedes asfaltadas, a mudança que fizemos na unidade de saúde, com o mesmo modelo da cidade. O pedido do voto é nesse sentido: que eu consiga terminar esse grande ciclo.
Perfil
Coligação: CIDADANIA / PSC / PL / PODEMOS / PV / PSB / MDB / PSD / PTB / REPUBLICANOS
Chapa: CASCAVEL MAIS HUMANA, SEM CORRUPÇÃO, SEM DESPERDÍCIO
Candidato a prefeito: Leonaldo Paranhos
Candidata a vice: Renato Silva
Perfil
Leonaldo Paranhos tem 54 anos, casado com Fabíola, empresário do ramo de publicidade e administrador de empresas. Foi vereador de 1997 a 2000, vice-prefeito de 2001 a 2004, presidente do Ipem de 2002 a 2006, deputado estadual eleito em 2010 e reeleito em 2014. Em 2016 foi eleito prefeito de Cascavel com 86.099 votos.
Renato Silva tem 69 anos, casado com Ódina Coradini da Silva, foi agricultor, comerciante e empresário. Fundou a Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel, hoje Centro Universitário Univel, uma das mais tradicionais e inovadoras instituições de ensino da região.
Veja a íntegra da entrevista: