Policial

Base de Guaíra impediu a entrada de R$ 6,5 bilhões de mercadorias ilegais

Com pouco mais de sete meses de atuação, os números da Operação Hórus dão uma dimensão dos crimes transfronteiriços.

Base de Guaíra impediu  a entrada de R$ 6,5 bilhões  de mercadorias ilegais

Operação Hórus: Bloqueio impôs R$ 6,5 bilhões de prejuízo ao crime

Reportagem: Cláudia Neis

 Guaíra – Os números alcançados ppela Operação Hórus, que faz parte do programa Vigia do governo federal, em pouco mais de sete meses representam grande prejuízo para os criminosos que atuam no contrabando e no tráfico na fronteira. Somente em Guaíra, onde a operação teve início em 15 de abril de 2019, até ontem (2), a chamada estatística negativa para o crime ou “cifra negativa” já chegava a R$ 6,5 bilhões. “Quando iniciamos os trabalhos, passavam no rio 200 lanchas por noite com contrabando de cigarros, droga e munição. Com a instalação da base fixa no local, essa entrada ficou impedida. Ou seja, esse valor é o que foi completamente impedido de cruzar a fronteira e entrar no Brasil”, explica o coordenador-geral de fronteiras da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Eduardo Bettini.

Eduardo explica que, além da base fixa, existem equipes volantes que fazem a fiscalização em outros locais: “As equipes mudam as rotas conforme os criminosos mudam as deles também. É um trabalho cada vez mais abrangente. Tanto que começou em Guaíra, se estendeu a Foz do Iguaçu e a Querência do Norte, onde uma base integrada com outras forças de segurança municipais, estaduais e federais foi instalada em dezembro”.

Apreensões

Somente no Paraná, até ontem (2), haviam sido apreendidos 22 milhões de maços de cigarro contrabandeado; 60 embarcações; 200 veículos; 5.340 quilos de drogas (entre maconha, cocaína e crack); 1.100 aparelhos celulares e eletrônicos que somaram R$ 6,7 milhões.

Estima-se ainda que o prejuízo evitado aos cofres públicos no período chegue a R$ 127 milhões, referentes a impostos que não seriam recolhidos com a venda dos produtos apreendidos. Já para os criminosos, o prejuízo calculado em relação ao valor das cargas apreendidas chega a R$ 120 milhões.

Bettini alerta para o impacto do trabalho nas organizações criminosas: “O contrabando está ligado a uma série de outros crimes. Ele é, muitas vezes, a fonte de recursos para as organizações criminosas, que, com isso, conseguem comprar equipamentos e armas. O trabalho da operação é diminuir os números e mudar a realidade na fronteira, atacando de maneira sistemática o motor do crime… conseguimos reduzir a efetividade dele e isso se reflete no País inteiro, tanto no quesito segurança quanto na economia”.

Recepção violenta

Assim como ocorreu em Guaíra, no início da Operação Hórus, em que manifestações para o fim das ações foram realizadas, a recepção da base em Querência do Norte também foi violenta. No último dia 27, cinco dias após a instalação, o secretário de Segurança do município, Claudiney Nery, sofreu um atentado. “Foi uma recepção violenta à chegada das forças de segurança. Aquela base é integrada com forças municipais, estaduais e federais, por isso o ataque ao secretário. Mas a ação só serviu para que a base recebesse ainda mais reforços”, garante Bettini.

Mudança de cultura

O coordenador-geral de fronteiras da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Eduardo Bettini, diz que, além de coibir crimes, a Operação Hórus mudar a cultura em cidades de fronteira. “Em Guaíra, por exemplo, o trabalho de contrabando era visto como algo lícito pela população. E já se começava no mundo do crime adolescente. Tínhamos lá 300 olheiros, adolescentes de 14 e 15 anos que ganhavam R$ 150 por dia para passar informações aos criminosos sobre onde os policiais estavam. Como mudar a cabeça desses jovens depois para que estudem ou trabalhem em um emprego formal ganhando um salário mínimo? Eles cresciam no mundo do crime, chegando a chefes do tráfico e contrabando”.

Após os sete meses de trabalho, o resultado das ações nas cidades chega às autoridades. “Recebemos, muitas vezes por redes sociais, um feedback de empresários e moradores das cidades dizendo que onde antes faltava mão de obra jovem por conta do contrabando hoje sobram candidatos ao primeiro emprego. Outros crimes, como assaltos, também se reduziram e a população se sente mais segura. Também chegou até mim que uma pessoa que fazia contrabando de cigarro está abrindo uma empresa de hambúrgueres, ou seja, sem a renda ilícita estão partindo para outras atividades”, comemora.

Melhorias em 2020

O trabalho da operação deve ser ampliado e modernizado ainda no primeiro semestre deste ano. “Vamos implantar uma base integrada em Porto Felício [Querência do Norte], um local em que existem muitas ações dos criminosos e ainda crimes ambientais. Então a base deve agir nesses dois sentidos, coibindo principalmente a pesca predatória e outros crimes. A instalação deve ser feita até abril. Outra base deve ser instalada em Oliveira Castro [Guaíra] até a metade do ano”, afirma Bettini.

Outra novidade é a instalação de um sistema de comunicação, com equipamentos de última geração adquiridos no valor de R$ 13 milhões, que deve começar a funcionar até junho. “Hoje nós contamos com centro integrado de operação de fronteira e utilizamos um sistema de comunicação do Exército. Com esse novo sistema que será instalado, teremos um sistema de comunicação de todas as equipes com o Centro Integrado e, com isso, a comunicação melhora e, consequentemente, a segurança das equipes, que às vezes ficam incomunicáveis quando estão no rio, por exemplo, e aumenta a efetividade dos trabalhos, pois, sabendo a localização de cada equipe, é muito mais fácil e preciso o deslocamento dela para atender a um crime”, complementa.