Policial

20% dos agentes federais têm doenças psicológicas

Precariedade nas condições de trabalho é um dos motivos pelos quais servidores param atividades

Catanduvas – Nesta semana, um agente penitenciário federal entrou em surto dentro do Presídio Federal de Segurança Máxima de Catanduvas. Casos de suicídio de agentes já foram presenciados e, em abril deste ano, um servidor que mora em Cascavel atentou contra a própria vida e a informação é de que ele sofre de depressão. Essa é a realidade de boa parte dos agentes. Hoje, 20% do efetivo – de aproximadamente mil homens – já diagnosticou doença psicológica em decorrência do trabalho, por vários motivos: pressão psicológica, sobrecarga de trabalho devido à falta de efetivo e, apesar de não haver contato direto com os presos, ameaças veladas. Isso porque, com as visitas, os detentos que são membros de facção criminosa repassam informações para seus familiares e os agentes são marcados para morrer. De acordo com o Sindicato dos Agentes Penitenciários Federais, há pelo menos 20 na lista negra do comando do crime.

“Nós vemos os presídios com muita proteção para os presos, mas não para os servidores. Há muita cobrança e, em decorrência disso, já vi vários colegas com problemas psicológicos, inclusive que se suicidaram, pois estou há muitos anos no sistema. Sabemos de colegas que estão internados por envolvimento com drogas e que buscaram esse caminho por conta da sobrecarga de trabalho. O que precisamos destacar é que todos entram para a profissão bem de saúde, fazem diversos exames, mas não existe uma reavaliação disso, um acompanhamento”, desabafa um agente penitenciário.

Mesmo quem entrou há pouco tempo na carreira diz que há descaso quando se trata da saúde do servidor. “Primeiro nós temos a situação da natureza do trabalho, porque são presos que são organizadores do crime, então existe uma carga de responsabilidade muito grande. Há falta de efetivo, não há progressão de carreira e, apesar de não haver contato com o preso, temos informações de inteligência de ameaças de morte. Mesmo o agente com porte de arma, trata-se de um servidor com uma pistola .40 contra membros de organizações criminosas fortemente armados”, relata outra servidora.

Recrutas

Dentre outras propostas que a categoria quer apresentar em Brasília está o desencarceramento de pessoas presas por crimes considerados simples e que são recrutadas para o crime organizado dentro dos presídios. “Temos conhecimento de que 40% dos presos provisórios viram soldados do crime, porque a cadeia, por melhor que seja, não oferece condições dignas a ninguém”, revela Marcelo Adriano, diretor da Federação Nacional dos Agentes Penitenciários Federais.

Servidores protestam com indicativo de greve

A condição precária de saúde dos agentes é um dos motivos pelos quais agentes penitenciários federais de todo o País resolveram cruzar os braços. Ontem foi o primeiro dia do movimento, que se repetirá hoje e amanhã, com indicativo de greve geral da categoria. Os agentes se reuniram em frente ao presídio de Catanduvas, assim como nas outras unidades federais do País, e cruzaram os braços literalmente em ato de protesto. Durante esses três dias, nos presídios ficam mantidos apenas serviços essenciais, de alimentação e de serviço médico para os presos.

Nas faixas, os agentes expuseram alguns dos motivos pelos quais há revolta: 140 servidores que passaram pelo concurso já fizeram curso de formação e aguardam desde o fim do ano passado serem chamados.

Segundo o sindicato, R$ 12 milhões foram investidos para esse curso de formação. “O governo não nos recebe, não nos ouve. Solicitamos uma audiência com o ministro [Raul Jungmann], mas até agora nada. Em 15 meses o Departamento Penitenciário Nacional teve oito diretores executivos. Como se faz política pública assim? Sem contar que são cargos políticos, ocupados por pessoas que não entendem da atividade”, argumenta o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários Federais, Helder Jacoby.

Há muitos casos, inclusive, de desistência da carreira penitenciária federal por falta de incentivo. “Em 12 anos, nunca brigamos por salário. Nós queremos dignidade, o restante vem depois. Não temos perspectiva de avanço na carreira e, mesmo assim, tiramos vontade de onde não temos para fazer um sistema penitenciário decente”, afirma.

Isolamento de presos

Uma das formas para conter a ação do crime organizado, cujas ordens das principais facções saem de dentro da cadeia, é o isolamento total dos presos. Logo depois da morte da psicóloga e agente federal Melissa Almeida em Cascavel, em maio de 2017, uma determinação federal proibiu as visitas íntimas. Porém, o contato com advogados e familiares desses presos durante as visitas facilita o repasse de informações, mesmo o presídio sendo de segurança máxima e não constando a entrada de celulares, de drogas, ou outros meios de comunicação. “Por meio desses advogados e dos familiares, os presos de alta periculosidade conseguem contato com o exterior da unidade, e essas informações se propagam de uma forma muito rápida. Acreditamos que os grandes líderes deveriam ser silenciados, não como uma forma de punição, mas como uma forma de combate ao crime”, sugere o diretor da Federação Nacional dos Agentes Penitenciários Federais, Marcelo Adriano.