A ameaça sanitária é uma das fontes de maior preocupação na produção de alimentos, pelo que representa em destruição de valor e risco à segurança alimentar. Segundo a Embrapa, por exemplo, há dezenas de pragas quarentenárias em nossas fronteiras, prontas para dar o bote e sob um programa contínuo de contenção. Na produção animal, a ameaça é grande também. Veja-se o caso da Peste Suína Africana (PSA), que fixou um cinturão de incidência em países da Europa, da África e da Ásia, ameaçando o Brasil, onde não há ocorrência relevante de doenças.
A China, seriamente atingida pela doença, abateu cerca de 1 milhão de animais afetados, no início do ano. Algo como jogar fora 100 mil toneladas de carne. E só neste exemplo já se tem uma razão para dar valor extremo à biossegurança: proteger-se contra a destruição de valor, que no fundo afeta todo mundo, quem produz e quem consome. Sobre isso, aliás, tempos atrás ouvi o desabafo de um veterinário, comentando sobre as carências da biossegurança em nosso país: “Ainda bem que Deus é brasileiro”.
Muita coisa mudou e hoje há criadores conscientes, cooperativas e agroindústrias fazendo um trabalho de rigor em sanidade animal. Ao mesmo tempo, há um hiato entre essa vanguarda e outros segmentos em que a biossegurança não entrou na maioridade. Isso significa que a tecnologia para alta segurança sanitária existe, mas vem sendo aplicada com sucesso só por alguns. São abordagens como auditoria sanitária, vazio sanitário, descontaminação térmica, protocolos para transporte de ração ou animais, destinação correta de dejetos e por aí vai.
Há produtores aplicando tudo isso como manda o figurino, outros já motivados a evoluir, mas ainda há um contingente não sensibilizado para a importância estratégica desse trabalho. Para esse pessoal que está ficando para trás, mudança de cultura é a ideia chave. E aqui pode haver uma concreta contribuição do marketing, para desconstruir crenças ou mitos, construir novos valores de ação e transmitir vontade de realização às pessoas. Um jeito de educar e motivar que vai além da abordagem técnica clássica e a ela adiciona um tempero.
Cursos, palestras e treinamentos sempre serão pilares essenciais. Mas talvez seja na potencialização dessas estratégias educativas que o marketing pode contribuir. Como? Estimulando nos produtores a sensação de pertencimento a uma nova proposta de suinocultura de alta segurança, a um projeto pessoal maior, e fazendo o empowerment deles para construírem essa nova realidade. Enfim, mostrando o papel que eles têm na criação de biossegurança avançada, realmente eficiente, e engajando-os nesse papel.
No século 21, o tempo tornou-se mais rápido. Os desafios crescem sem parar e sobe a régua de eficiência nos sistemas de produção. Em biossegurança, o marketing tem conhecimentos e ferramentas para ser um aliado útil e ajudar a defender nossa suinocultura. Aqui o exemplo foi com suínos, mas o conceito vale para outras criações econômicas também. Sanidade não é só fator zootécnico, mas também de crescimento e competitividade geral das cadeias produtivas. Deveria interessar a todos. Bastaria perguntar: quanto vale a biossegurança?
Coriolano Xavier, membro do CCAS (Conselho Científico Agro Sustentável) e professor da ESPM
Há um hiato entre essa vanguarda e outros segmentos em que a biossegurança não entrou na maioridade