Em nossa postagem anterior falamos da relação entre amor e vínculo de casal. Mostramos que, nas separações, o amor pode até ser mais intenso nas seguintes que na primeira união, mas a força do vínculo vai diminuindo a cada nova separação. Finalizamos aquela reflexão mencionando a necessidade de concluir ou “fechar” honrosamente os vínculos anteriores, mesmo aqueles que não resultaram em casamento.
Para começar, vamos a uma breve explicação terminológica e conceitual do termo “vínculo”. Esta palavra, na língua alemã, se diz “Bindung”, cujo verbo respectivo é “binden”, que significa o mesmo que “atar”, “amarrar”. Assim, “vínculo” entre duas pessoas é, numa tradução literal, aquilo que “ata” ou “amarra” uma pessoa à outra. Desta maneira, para Hellinger, existe um vínculo entre duas pessoas quando estão como que “atadas” emocionalmente uma a outra por um “nó” ou um laço espiritual.
Antes de entrar diretamente na análise das questões implicadas no vínculo, precisamos tratar de uma questão preliminar. Quando avaliamos as implicações sistêmicas relacionadas aos vínculos emocionais descobrimos que os vínculos podem ter consequências mais sérias do que comumente imaginamos. É importante compreender que os vínculos não estão relacionados unicamente à duração ou aos compromissos socialmente assumidos. Muito antes, estão ligados à intensidade com a qual são experimentados.
Acontece que os vínculos não são vividos, necessariamente, com a mesma intensidade pelas duas pessoas envolvidas. Quando olhamos para os nossos vínculos através de uma constelação familiar, muitas vezes descobrimos, para nossa surpresa, que estamos como que “atados” a pessoas e situações das quais nossa memória nem sempre tem registro ao nível consciente. Por que acontece isso? Isso acontece, porque não é possível mensurar a intensidade do sentimento alheio e, muitas vezes, sequer medir o quanto fomos impactados – nem o quanto impactamos – a outra pessoa em nossas experiências afetivas passadas. Este é o motivo pelo qual devemos sempre levar em consideração os sentimentos da outra pessoa e jamais lidar de forma leviana com as relações.
Uma vez esclarecido esse ponto inicial, vamos tratar da primeira questão: O que, ou a partir de quando, duas pessoas estabelecem um vínculo? Vamos tomar como ponto de partida uma referência direta de Hellinger acerca desta questão. Perguntado durante um Seminário sobre quando uma relação antes do casamento se torna significativa, respondeu do seguinte modo: “Uma relação importante nasce pela consumação do amor. Nem sempre é claro quando se cria um vínculo. Mas é possível ver isso numa Constelação Familiar. Não é possível estabelecer critérios fixos. Quando houve um filho, mesmo que não tenha nascido, há sempre um vínculo forte. Um noivado é, via de regra, um vínculo forte. O mesmo acontece com um casamento anterior. Mas não existe uma regra geral para julgar os casos intermediários” (Hellinger, B. Desatando os laços do destino, p. 65).
Nesta passagem aparecem informações essenciais para compreender o que devemos entender por vínculo e quando ele passa a existir em nossos relacionamentos. Sobre isso falaremos na próxima postagem.
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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.