Opinião

Coluna Amparar: “Amor interrompido” – já ouviu falar?

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No processo de seu desenvolvimento, a criança tem uma ligação profunda com a mãe, particularmente até o final da primeira infância. Algumas vezes esta ligação é interrompida, pelos mais variados motivos: doença da criança ou da mãe, separação dos pais, entrega para adoção, depressão pós-parto, etc. Quando acontece isso, se interrompe o fluxo do amor da criança em direção à mãe. Em virtude disso, a criança forma uma imagem interna da mãe associada à dor e à reprovação. Interiormente ela diz: “desisto dela”; “ficarei sozinha”; “fico longe dela”; “posso contar apenas comigo mesma”.

Quando esta pessoa chega à idade de estabelecer relações afetivas, na vida adulta, esta experiência traumática da infância se mostra como medo de proximidade e de intimidade. Cada vez que ela se aproxima de alguém – ou alguém se aproxima dela – inconscientemente retorna à sua mente a experiência da infância e interrompe o movimento. Assim, em um relacionamento, costuma não tomar a iniciativa de se aproximar, mas fica na posição de espera pela outra pessoa. Quando finalmente inicia uma relação, suporta com dificuldade a intimidade e, em vez de acolher, adota inconscientemente comportamentos tendentes a afastar a outra pessoa.

Como uma pessoa adulta afetada pela interrupção prematura do amor em direção à mãe experimenta sua relação com outra pessoa? Costumeiramente ela é assaltada pelo medo de ser novamente abandonada, à semelhança de como se sentiu quando criança. Esse medo dificulta sua entrega, porque isso a faz sentir ainda mais vulnerável e frágil. O toque físico é muitas vezes algo incômodo. O simples andar de mãos dadas pode ser sentido como excessivo e busca liberar-se. Na cama, não consegue acolher a outra pessoa em seus braços na hora de dormir. O simples toque dos pés do outro é suficiente para afastá-la. Como tem medo do abandono, confidências e trocas de intimidade são movimentos muito raros e difíceis.

Inconscientemente, a pessoa afetada pelo movimento interrompido se sente orientada por comandos como: “nunca mais pedirei dos outros nada na vida”; “nunca mais me mostrarei fraco”; “jamais vou depender de outros”. Paradoxalmente, ainda que mal suporte a intimidade da relação de casal, não costuma tomar a iniciativa da separação: teme a intimidade e é esse mesmo temor de abandono que leva essa pessoa a permanecer na relação, ainda que vivida na exterioridade e sem calor e emoção.

Às vezes os sintomas típicos da interrupção do amor são encontrados em pessoas sem histórico de separações. Mesmo assim neles há um sentimento de “orfandade”. Algumas vezes se mostra em pessoas que tem histórico de morte da mãe no parto. Quando identificamos em nós um ou mais desses sintomas é chegada a hora de buscar ajuda profissional. As Constelações Familiares têm se mostrado eficientes no sentido de identificar com mais precisão a origem e de promover dinâmicas que refaçam a ligação interrompida na infância de modo que o amor do filho ou da filha com a mãe volte a fluir livremente. Sem o livre fluxo do amor entre filhos e pais a relação com um parceiro dificilmente terá êxito.

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são consteladores familiares e terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar – whatsapp: https://bit.ly/2FzW58R