Opinião

Quero um relacionamento, mas tenho medo

José Luiz Ames e Rosana Marcelino são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar

Quero um relacionamento, mas tenho medo

Na prática terapêutica se mostra com certa frequência uma situação que causa angústia a muitos casais. A pessoa relata que está em um relacionamento desde algum tempo, mas que nos últimos tempos as coisas mais triviais e desimportantes a irritam. Conta que a intimidade está praticamente zerada. Tem a sensação de que o parceiro vai abandoná-la de uma hora para outra. Enfim, seu medo é de que tudo acabe outra vez em separação.

Por que isso ocorre?

Quando se recupera o histórico de vida dessa pessoa, em geral se constata que em algum momento durante a primeira infância ela ficou separada dos cuidados da mãe pelos mais variados motivos. Às vezes a criança permaneceu um longo tempo na UTI; outras porque foi a mãe quem ficou hospitalizada, ou então morreu no parto; também há casos em que os pais se separaram nos primeiros anos da criança; ou, ainda, porque os pais entregaram a criança aos cuidados dos avós ou de algum outro parente.

Bert Hellinger – terapeuta alemão e inventor das “Constelações Familiares” – percebeu que essas situações dão origem a um distúrbio que ele chamou de “interrupção prematura do movimento de amor para com a mãe”.

Nas Constelações Familiares com clientes, Hellinger observou que, em virtude desse desamparo, a criança forma uma imagem interna da mãe associada à dor e à reprovação que muitas vezes se transforma em raiva e desespero.

Por ter se sentido sozinha e deixada de lado pela mãe, a criança desenvolve sentimentos como: “desisto dela”; “prefiro ficar sozinha”; “posso contar só comigo mesma”.

Na medida em que vai crescendo, esses sentimentos podem se manifestar como rejeição à mãe ou numa fala depreciativa, alegando que “não sente nada” em relação a ela. Esse “não sentir nada” a protege da percepção da dor.

Quando chega à idade de estabelecer relações afetivas, essa experiência traumática da infância se mostra como medo de proximidade. Em geral, essa pessoa é assaltada pelo medo de ser novamente abandonada tal qual como se sentiu quando criança.

Esse medo dificulta sua entrega porque a faz se sentir ainda mais vulnerável e frágil. E, como tem medo do abandono, confidências e trocas de intimidade se tornam movimentos raros e difíceis. O simples toque de mãos e pés é sentido como excessivo e, na cama, não suporta ser tocada pelo cônjuge.

Paradoxalmente, ainda que mal suporte a intimidade da relação de casal, não costuma tomar a iniciativa de se separar: o temor de se ver abandonada a leva a permanecer na relação, ainda que vivida sem calor e emoção.

Isso tem tratamento?

Sim! As terapias de base sistêmica têm mostrado bons resultados. É preciso refazer a ligação com a mãe perdida na primeira infância. Com dinâmicas específicas que se utilizam das técnicas desenvolvidas por Bert Hellinger, é possível refazer o vínculo amoroso com a mãe, mesmo que ela já não esteja mais presente.

Com isso, a pessoa se torna enfim disponível ao amor conjugal, recupera a confiança no parceiro e pode viver uma relação saudável e feliz.

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