Opinião

OPINIÃO: Depoimento sobre o filho de Mourão no BB

Parece estranha a nomeação (e não promoção, porque, no tempo em que trabalhei no Banco do Brasil – e não me consta que o sistema tenha sido modificado – as promoções eram feitas por tempo de serviço ou por merecimento, e o cargo comissionado, denominado Adicional Padrão, AP de 18 a 01) de Antônio Hamilton Rossell Mourão, filho do vice-presidente da República, para assessor especial do presidente da mais que bicentenária instituição financeira.

Comparando-se pelo tempo de serviço (18 anos), Antônio Hamilton leva grande vantagem sobre dois outros funcionários de grande destaque, ambos com carreira meteórica no regime militar: Maílson da Nóbrega, em 1971, já era assessor da Presidência (AP 07) com apenas sete anos de serviço, e Carlos Tessandro, em 1978, com apenas quatro anos de serviço, membro do Conselho de Administração de um banco de desenvolvimento latino-americano como representante do BB (AP 04), um de seus acionistas.

Maílson é tido como um dos maiores artífices do desmonte do Banco do Brasil em proveito do cartel de bancos privados. Contudo, ficou mais famoso por ter deixado de herança, como ministro da Fazenda do governo de José Sarney, uma inflação de 85% ao mês. Hoje tem empresa de consultoria e desfruta uma aposentadoria, paga pela PREVI, que deve ser igual à dos novos proventos do filho do general: R$ 35 mil por mês.

Tessandro já era gerente-geral da agência do BB em Londres no governo de FHC quando foi indicado para ser o presidente da PREVI (Caixa de Previdência dos Funcionários do BB), mas foi barrado por Daniel Dantas (um dos príncipes da privataria tucana), que viria a perder seu poder de fogo quando começou o chamado aparelhamento do governo pelo PT, em 2003.

Em 1985, logo após assumir a Vice-Presidência da Carteira Internacional (Carin) do BB, José Luiz Silveira Miranda, apadrinhado do então ministro da Fazenda Francisco Dornelles, convocou todos os titulares das dependências do Banco do Brasil no exterior para entrevistas. Em Paris, ele quis saber, de cara, quem era meu pistolão. Eu lhe respondi que minha nomeação para instalar e dirigir o escritório em Casablanca, Marrocos, tinha vindo por acaso, porque, em 1981, tendo o colega designado para tal missão adoecido e não tendo aparecido nenhum dos 81 selecionados para fazer estágio no exterior interessado em “ir para a África” (coitadinhos, não sabem o que perderam, que o diga a socialite e bem-sucedida fabricante de bolsas Glorinha Paranaguá, apaixonada pelo Marrocos, como, aliás, seu saudoso marido, meu amigo Embaixador – com letra maiúscula mesmo – Paulo Henrique Paranaguá).

Quando Miranda fez idêntica pergunta a Joseph Blatt, representante do BB no Cairo, ouviu a mesma pergunta em tom prussiano, o que custou a volta do entrevistado para o Brasil, bem como o fechamento de sua unidade, apesar de lucrativa. Mas o efeito da retaliação durou pouco. O alemão, que era mui amigo de Marcos Coimbra, embaixador do Brasil no Egito – e que viria a se tornar um dos homens fortes do governo de Fernando Collor de Mello -, deu o troco e assumiu a gerência-geral do BB no Porto, Portugal.

Após haver feito uma obra devastadora na área internacional do BB – enquanto Francelino Pereira avacalhava o sistema de promoções (o cara criou os concursos relâmpago em pequenas agências e nivelou por baixo os três níveis da carreira administrativa: básico, médio e superior) – Miranda passou a presidir um banco privado ligado ao grupo Monteiro Aranha e o levou à falência.

No meu modesto entender, a questão que se coloca é se o rebento do general Hamilton Mourão vai vestir a camisa do BB, se tem competência ou não. Parece-me, “smj”, melhor um Antônio Hamilton que um Maílson, um Miranda, um Francelino…

Por último, se, por um lado, o novo presidente do BB é indicação da bancada ruralista acostumada a não pagar seus empréstimos, ou rolar indefinidamente suas dívidas, eles não são bobos de matar a galinha dos ovos de ouro, assim como os grandes complexos empresariais não vão cair na besteira de acabar com o BNDES e ficar à mercê do inescrupuloso cartel de bancos privados, os maiores vampiros da Nação.

Boa sorte mais uma vez, BB!

Boanerges de Castro é escritor e compositor