Opinião

Coluna Amparar:  “Agora posso ser pai”

O caso desta semana trata das dificuldades de um casal de namorados para criar conexão

Coluna Amparar:  “Agora posso ser pai”

 “Agora posso ser pai”

José Luiz Ames

Rosana Marcelino

 

O caso desta semana trata das dificuldades de um casal de namorados para criar conexão.

Janice (o nome é fictício), quando iniciou seu tratamento conosco era uma mulher de 34 anos, mãe de um menino pré-adolescente.  Era uma pessoa com histórico de depressão, com movimento suicida, e sérios problemas financeiros. Insegura em relação ao seu trabalho e à educação de seu filho. Seu pai suicidou-se quando era criança, motivo pelo qual foi criada pela mãe. Tinha dificuldades de relacionamento com a mãe e com seus irmãos. O que a trouxe para o nosso tratamento foi o seu grande desejo de estabelecer um relacionamento estável de casal com o seu namorado.

João (o nome é fictício), seu namorado, nasceu de uma relação casual. O fato de o pai duvidar da paternidade, levou a mãe à decisão de criá-lo sozinha não deixando constar sequer o nome do pai na certidão de nascimento da criança. Recebeu um padrasto quando ainda estava na primeira infância. João adotou o sobrenome dele. João encontrou na sua família um clima adequado à sua educação. Recebeu formação de nível superior e conquistou um trabalho no serviço público de saúde. Mesmo recebendo uma sólida educação familiar, tinha dificuldades para estabelecer um relacionamento estável.

No tratamento deles conosco, foram trabalhadas várias questões do sistema familiar de cada um. No caso de Janice, foi trabalhada a ligação com o pai, que havia se suicidado; conexão com a mãe, muito rígida na educação dos filhos; foi constelada a “linha de irmãos”, porque houve vários abortos na família. No caso de João, foi trabalhada a relação dele com a mãe e a meia-irmã. João havia se convertido em confidente da mãe e pai da meia-irmã. Foi um percurso relativamente longo, mas necessário, para disponibilizá-los para um relacionamento de casal funcional.

Neste processo, duas constelações foram decisivas. Para Janice foi a constelação na qual foi tratada a relação dela com o ex-marido, pai do filho pré-adolescente. Foi feita a pacificação com o encerramento de vínculos e a permissão da parte dela para que o pai tomasse filho. Para João foi a constelação na qual ele reconheceu o pai biológico e a importância dele na sua vida. Foi em decorrência desta constelação que João conseguiu perceber que essa era também a história do pai dele: também ele fora criado somente pela mãe. Um caso típico de repetição de padrões. Deu-se conta de que o grande medo interno dele era estabelecer um relacionamento, ter filhos e repetir o padrão familiar. Foi no contexto desta constelação, no qual se tornou consciente para ele esse medo, que João pronunciou espontaneamente a frase liberadora: “Agora posso ser pai!”.

O resultado desses processos de constelação: três meses após Janice engravidou, e o casal fez os ajustes necessários para morarem juntos. O pai do filho pré-adolescente aproximou-se espontaneamente da ex-esposa e manifestou desejo de que o filho fosse morar com ele. Janice e João são atualmente um casal muito conectado junto com o filho de cerca de 2 anos de idade.

O belo desse processo, como podemos observar, foi o resultado da frase liberadora pronunciada por João: “Agora posso ser pai”. Três gerações do sistema dele receberam a oportunidade de tornar-se pai. Quebrou-se o padrão de o pai isentar-se da família. O ex-marido da Janice também recebeu a “permissão” de assumir seu lugar de pai.

É sempre impressionante o efeito curador que vem a nós das constelações familiares. Quando olhamos na linha do tempo as pessoas que vem até nós em busca de ajuda, e quando elas assumem a responsabilidade pelo processo, a cura das dores dos sofrimentos que, por vezes, duraram décadas, dissipam-se e a paz e reconciliação passam a reinar.

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar