Opinião

Coluna AMC: Quando a covid bate à porta de um médico

Coluna AMC: Quando a covid bate à porta de um médico

Quando percebemos a extensão da gravidade da covid-19, logo no início da pandemia, tivemos a iniciativa de procurar amigos médicos para abrirmos uma conversa franca com o secretário da Saúde de Cascavel, médicos da linha de frente, bem como com o prefeito, ao qual fomos prontamente atendidos, pois nosso objetivo era criar um protocolo de atendimento que pudesse salvar o maior número de vidas, pois, diante do inusitado, toda tentativa é válida. E assim o fizemos.

A covid e eu

Eu sabia que todos estávamos sujeitos, e, de certa maneira, eu estava no grupo de risco por ter algumas comorbidades, além da idade, pois já tenho 67 anos, porém, longe de me deixar recluso ou inoperante por medo, as obrigações tinham que seguir. Procurei fazer uso de todas as medicações e os cuidados preventivos, buscando sempre reduzir a possibilidade de adquirir o vírus e, caso acontecesse, ter impactos reduzidos.

O contágio

No início deste ano, depois das férias, lá pelo dia 6 ou 7 de janeiro, comecei a sentir os sintomas respiratórios provenientes da covid, congestão nasal, mal-estar leve, tosse e a partir daí buscamos seguir todos os cuidados médicos para que tudo terminasse o mais rápido possível. Acredito que ter buscado o tratamento precoce após os sintomas, tanto que logo após a coleta do exame que tinha testado positivo, iniciei no mesmo dia todo o protocolo, bem como seguir as orientações médicas, casualmente o mesmo que tínhamos indicado para a prefeitura no início da pandemia, Zinco, Azitromicina – pois vitamina D já estava tomando -, então tivemos uma melhora nos sintomas, mas, no oitavo dia, aumentou um pouco a tosse e a sensação de falta de ar e cansaço. Fizemos uma tomografia e mostrou um comprometimento pulmonar em torno de 10%. Foi nesse período que acrescentamos o anticoagulante e o corticoide, e houve melhora, tanto que, passando o período de isolamento, voltei ao trabalho. Mas, após dois dias, comecei a sentir calafrios e falta de ar. Repetimos a tomografia e o comprometimento pulmonar já estava em 50%. Foi ajustado o medicamento e entramos com antibióticos e mantivemos o corticoide, foi aí que tive uma descompensação do diabetes, a glicemia subiu em torno de 400, sendo que sempre ficava em torno de 100, isso devido ao corticoide e perdi 7,5kg. Foi uma baqueada seguida de fraqueza e mal-estar, mas gradativamente fomos recuperando. Depois, iniciamos fisioterapia respiratória e, hoje graças a Deus, estou bem, fazendo fisioterapia, mas seguindo atividade normal e esperando uma recuperação global que já está quase normal.

Tratamento precoce

Acredito, sem dúvidas, que, se não tivesse feito o tratamento logo no início, teria ido para o hospital com possibilidade de ser intubado, portanto, o fato de ter feito o tratamento favoreceu a recuperação. Afinal, o objetivo do tratamento é justamente esse, impedir que a pessoa vá para o hospital. Tivemos várias complicações, mas não foi preciso internamento.

Por outro lado, presenciamos amigos que não fizeram uso do tratamento precoce e vieram a falecer. E hoje já temos vários trabalhos científicos que justificam sua eficácia. Portanto, pela nossa vivência e o que passamos com a doença, fica muito claro, para mim, a importância da abordagem medicamentosa inicial. Tive vários pacientes com covid e, graças a Deus, devido ao atendimento na fase inicial, todos estão bem.

Um conselho médico

Aconselho todas as famílias de Cascavel a prestar atenção logo no início dos sintomas e não tem por que vacilarmos ou postergarmos qualquer tipo de tratamento sabendo que existe resultado positivo em iniciarmos o tratamento precocemente. Ainda que não seja evitado, ao menos minimiza suas complicações. É sabido que a melhor forma de se combater a doença é evitar a doença.

Vacina covid-19

Todos já sabem que a melhor forma de combater uma doença é a imunização e as vacinas têm papel fundamental nesse processo, no entanto, na minha opinião, nós não temos vacinas com todas as etapas complementadas e tempo suficiente para garantir uma total segurança.

Dr. Jorge Luiz dos Santos – médico alergologista