Política

Candidato levanta dúvidas sobre as contas da Fiep

Gizzi é vice-presidente da federação e diz que diretoria não sabe quanto atual gestor recebe e não acesso detalhado a prestações de contas

Foto: FÁBIO DONEGÁ
Foto: FÁBIO DONEGÁ

Reportagem: Juliet Manfrin

Curitiba – A campanha eleitoral do Sistema Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) avança com uma série de denúncias. Um dos candidatos à presidência levanta suspeitas sobre as contas e reclama da falt de transparência.

O engenheiro civil José Eugênio Gizzi percorreu o Estado nas últimas semanas para falar com industriais antes do pleito – que será no dia 14 de agosto. E em visita à redação do Jornal O Paraná, ele falou sobre as suspeitas e promete ampla transparência, o que não ocorre hoje. Para se ter uma ideia, nem ele, que ocupa a vice-presidência, consegue acesso aos números da entidade.

E é muito dinheiro em jogo. O sistema Fiep tem orçamento de cerca de R$ 750 milhões por ano. Para se ter ideia, em toda a região oeste do Paraná só duas prefeituras têm orçamento maior que esse (Cascavel e Foz do Iguaçu).

Segundo Gizzi, as mudanças precisam começar pela forma de governança.   “Um dos pilares é mudar o sistema de governança que hoje é de presidencialismo absoluto, o presidente tudo pode, tudo sabe e tudo faz. Não tem nada compartilhado na Fiep, a diretoria só recebe informações com decisões já tomadas”, reclama.

Para ele, a transparência é essencial porque se trata de uma federação que engloba 50,8 mil indústrias, gera 765 mil empregos diretos e tem o quarto maior PIB industrial do País, com R$ 90,3 bilhões. “A indústria responde por 30% dos empregos formais no Paraná, quase 50% das exportações do Estado. A Fiep precisa estar mais próxima da indústria, precisamos de uma nova política industrial para o Paraná”, completou.

O que mais lhe chamou atenção a isso foi o que viu e ouviu durante as semanas da campanha. Desde grandes indústrias até as pequenas, todos reclamam da ausência da Fiep. Então fica a questão: para onde está indo todo esse dinheiro?

Gizzi questiona, por exemplo, a prática de nepotismo dentro da Fiep: “O presidente [Edson Campagnolo] empregou lá seu cunhado, com salário de R$ 50 mil ou R$ 60 mil por mês… digo isso porque não se sabe quanto ele ganha, não há transparência para isso, mas sabemos que é muito”, destacou.

“Salário” de R$ 110 mil

Por estatuto, o presidente da Fiep não tem salário. Contudo, tem direito às chamadas verbas indenizatórias, que, na prática, é praticamente a mesma coisa, afirma José Eugênio Gizzi. “Essas verbas indenizatórias são ilegais, uma auditoria já mostrou isso, mas o parecer jurídico sumiu, ninguém mais sabe dele. Por um sofisma, criou-se essa verba indenizatória, mas estatutariamente o presidente da Fiep tem que atuar de forma gratuita. Trata-se de uma entidade sem fins lucrativos que goza de imunidade tributária, desde que os diretores não tenham vencimento”, alertou.

O vice-presidente segue: “Não sei quanto ele [o atual presidente Edson Campagnolo] recebe, ninguém sabe ao certo, se R$ 80 mil, se R$ 90 mil ou R$ 100 mil por mês, a maioria das pessoas não sabe e os industriais se revoltam com isso”.

Gizzi se comprometeu a, caso assuma a presidência, pôr fim imediato às verbas indenizatórias, atuando de forma gratuita no comando da Federação.

O candidato disse ainda que, em uma missão recente para a Alemanha, no embarque em São Paulo todos os industriais seguiram em classe econômica, mas Campagnolo foi de primeira classe com a viagem paga pela Federação.

O engenheiro levanta suspeitas ainda sobre uma licitação milionária: “Chegou ao nosso conhecimento uma licitação de limpeza e manutenção [da sede] que teve poucos participantes no valor de R$ 55 milhões por ano [com validade para dois anos, totalizando R$ 110 milhões] e estariam correndo para assinar. Chegando lá ou não chegando [à presidência], vamos analisar esse processo, se os valores são compatíveis com os de mercado, se a licitação foi restritiva ou não, analisar as questões técnicas, orçamentárias e legais. Se comprovar que não contempla estes pressupostos, vamos trabalhar para uma rescisão de contrato”, alertou.

Para mudar esse cenário, Gizzi pretende transformar a prestação de contas ao Conselho Fiscal em rotina e de forma detalhada, assegurando ainda ampla divulgação em assembleia geral ordinária.

A reportagem procurou o presidente da Fiep, Edson Campagnolo, para que pudesse falar sobre as denúncias, mas, por meio de sua assessoria, informou que não vai se manifestar sobre as acusações.

Juliet Manfrin