Foz do Iguaçu – A alta do dólar, que na terça-feira (26) bateu R$ 4,27, maior valor desde 2015, e ontem fechou a R$ 4,26, já refletiu no comércio paraguaio. Comerciantes brasileiros que revendem produtos trazidos do país vizinho desistiram de renovar estoques por conta dos preços. “O dólar, lá, passa dos R$ 4,30… sem contar o valor da viagem com combustível e pedágio… não tem compensado”, afirma a comerciante Ivone Vanso.
Outro comerciante que pediu para não ser identificado já pensa em fechar o comércio de cigarro eletrônico e essências para narguilé que mantém em Cascavel. “Com o valor do dólar, o lucro é muito baixo. Não tem como manter o aluguel do espaço e ainda um funcionário. Vou vender o que temos de estoque e encerrar as atividades”.
O estudante Willian Douglas Santos vai ao Paraguai com frequência visitar familiares que moram em Cidade do Leste. Segundo ele, nas lojas o movimento diminuiu consideravelmente. “Estive lá na terça-feira (26) e já na Ponte da Amizade pude perceber a tranquilidade em relação a visitas anteriores… o movimento era bem tranquilo, principalmente de veículos e pessoas entrando no Paraguai. Nas ruas até tinha gente circulando, mas comprando mesmo quase ninguém. Nos comércios, muitos vendedores parados e lojas sem cliente. Esse cenário não era comum antes. Alguns vendedores com quem conversei disseram que estão preocupados, porque, nesta época, a expectativa era de vendas aquecidas”, relata Willian.
Ele conta que na terça-feira o dólar paralelo no lado paraguaio estava cotado a R$ 4,34 e que a ideia de presentear a filha com uma televisão nova no fim do ano será repensada. “Com esse valor de dólar compensa comprar pela internet no Brasil. Claro que tem o período de espera pelo produto, mas, com as promoções da Black Friday nas grandes redes brasileiras, não compensa mesmo comprar no Paraguai. Celulares, dependendo do modelo, ainda é vantagem, mas tem que analisar bem”, complementa Willian.
Ontem (27) o dólar era cotado por R$ 4,36 no país vizinho.
Movimento x fiscalização
A Receita Federal ainda não tem estimativa da movimentação na Ponte da Amizade em novembro, mas os números de outubro mostram aumento no movimento em relação a setembro. Em setembro, 804.548 veículos ou embarcações passaram pela Ponte da Amizade e 164.417 pedestres. Já em outubro, o número chegou a 828.280 veículos ou embarcações e 174.407 pedestres.
Aliado ao valor do dólar, o aumento da fiscalização por conta de operações como a Muralha, que une diversas forças de segurança em uma barreira na praça de pedágio de São Miguel do Iguaçu, também faz com que compristas e até mesmo consumidores que iriam até o país vizinho para compras domésticas repensem a viagem. “A fiscalização é bem forte. Quando estava voltando do Paraguai, de ônibus, havia muitos ônibus sendo fiscalizados, o que eu estava também foi verificado. Os vendedores do Paraguai disseram que isso também refletiu no movimento por lá”, afirma o estudante Willian Douglas Santos.
Apreensões já são maiores
Dados da Receita Federal mostram que nos dez primeiros meses de 2019 já foi apreendido um volume maior do que todo o ano de 2018. De janeiro a outubro deste ano foram apreendidos na Alfândega de Foz do Iguaçu US$ 87.994.112 em produtos, contra US$ 79.903.397 em todo o ano de 2018.
De acordo com a auditora fiscal da Receita Federal Cristiane Eliza Colla de Oliveira, são diversos os fatores que contribuem para a diferença no volume apreendido. “Essa sazonalidade acontece e fica difícil dizer o que a causa. Certamente o dólar influencia, mas aspectos do mercado econômico também, como taxas de desemprego”, afirma.
Mas a fiscalização, que acontece muitas vezes em pareceria com outros órgãos, também contribui para o aumento. “A Receita tem endurecido mais a fiscalização a cada ano”, garante Cristiane.