Cascavel - Em resposta à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de tarifar os produtos agrícolas dos países, Canadá, China e México contragolpearam e anunciaram novas taxas de importação aos produtores dos Estados Unidos. As tarifas norte-americanas passaram a valer nesta terça-feira de Carnaval (4).
Essa junção de eventos altera o fluxo de investimentos em todo o mundo e inclusive no Brasil, pois os juros mais altos resultam em títulos públicos norte-americanos com maior rendimento, atraindo investidores e valorizando o dólar frente a outras moedas. Essa fuga de capital pode levar o Banco Central a novamente elevar a taxa Selic e provocando mais um impacto na atividade econômica do Brasil, que ainda pode ser afetado por uma desaceleração da economia chinesa. Por outro lado, a oferta de produtos chineses ao Brasil deve ser maior, com os Estados Unidos importando menos.
China
Os ministérios das Finanças e do Comércio chinês impuseram as tarifas adicionais a produtos agrícolas e alimentos importados dos Estados Unidos, entre os quais milho, algodão e soja, carnes, frutas e laticínios. É importante ressaltar: nessas três commodities, as vendas brasileiras para o país superam as americanas, atualmente.
A China impôs novas taxas de 10% a 15% sobre as exportações agrícolas e proteína animal dos Estados Unidos. É uma resposta clara a decisão dos Estados Unidos de dobrar para 20% as tarifas sobre os produtos chineses. A postura do presidente americano é em tom de cobrança para que Pequim aja com rigor contra a venda de insumos usados na produção de fentanil, uma droga de elevado consumo entre os americanos. A China respondeu que tem um dos controles antidrogas mais rígidos do planeta.
A medida adotada pela China entra em vigor no dia 10 de março. A China promete endurecer e não abrir mão da decisão, caso os Estados Unidos optem em recrudescer as medidas. A China ainda decidiu restringir investimento a 25 empresas dos EUA, sob a alegação de segurança nacional.
O impacto das medidas chinesas deve afetar US$ 21 bilhões em exportações. Em fevereiro, o mesmo país já havia anunciado tarifas de 15% para o carvão e gás liquefeito e 10% de taxação ao petróleo bruto, equipamentos agrícolas e alguns automóveis. Essa imposição tarifária dos Estados Unidos não é novidade. Em 2024, o então presidente americano, Joe Biden, anunciou a duplicação de tarifas sobre semicondutores para 50% e a quadruplicação das tarifas sobre os veículos elétricos, chegando a 100%.
Essa tarifação chinesa a produtos de consumo dos Estados Unidos, afetará ainda smartphones, consoles de videogame, alto-falantes, laptops, entre outros aparelhos eletrônicos. Para os analistas de mercado, há uma clara intensão da China em chegar a um acordo, visto que as tarifas impostas estão bem abaixo dos denominadores praticados pelos Estados Unidos.
Assim como no Brasil, o setor agrícola sempre é utilizado como recurso para as potências atingirem outros países. A China é o maior mercado para produtos agrícolas dos Estados Unidos.
México e Canadá
Todas as importações do Canadá e do México serão taxadas em 25% e produtos energéticos canadenses, chegando a 10%. Como resposta, o Canadá afirmou que aplicará tarifas sobre mais de US$ 100 bilhões em produtos norte-americanos nos próximos 21 dias. Por sua vez, o México, também prometeu reagir, sem, entretanto, inclinar sobre como fará isso. Em seu pronunciamento feito nesta terça-feira, a presidente Claudia Sheinbaum disse que sempre colaborou com os norte-americanos nos temas relacionados à migração, segurança e combate às drogas e não encontra justificativas plausíveis para esse comportamento do presidente Trump.
Essa imposição tarifária já era uma promessa de campanha do atual presidente norte-americano. São países e produtos que os EUA tem déficit na balança comercial. Isso quer dizer: gastam mais com importações do que recebem com exportações.
Mercado financeiro abalado
Os mercados financeiros operaram em baixa nesta terça-feira, em virtude da uma possível guerra comercial 2.0. Nos Estados Unidos, o dia começou em terreno negativo. Todos os principais índices acionários do país como Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq 100 operavam em baixa de mais de 1% até o meio-dia. E as quedas nas bolsas de valores europeias eram ainda maiores no mesmo horário, com queda de 3%.
As bolsas asiáticas fecharam em baixa, entre eles o índice Nikkei, que caiu 1,20% e o Hang Seng, de Hong Kong, com queda de 0,28%.
PRODUTOS TAXADOS PELA CHINA
Algodão; Carne bovina; Carne suína; Grãos; Frango; Frutas; Frutos do mar; Laticínios; Legumes; Milho; Soja; Sorgo; Trigo.
PRODUTOS TAXADOS PELO CANADÁ
Cerveja; Eletrodomésticos; Equipamentos esportivos; Geladeiras; Lavadoras de pratos; Madeira; Manteiga de amendoim; Mel; Móveis; Perfumes; Plástico; Produtos de porcelana, como vasos sanitários e banheiras; Roupas; Sapatos; Tomates; Uísque; Vegetais; Vinho.