TRANSPORTES

Fim da competitividade no setor de pneus terá impacto de R$ 2 bi/ano

Foto: Geraldo Bubniak/ANPr
Foto: Geraldo Bubniak/ANPr

Cascavel – Caminhoneiros autônomos e transportadoras estão apavorados com a possibilidade de aumento da tarifa de importação de pneus de 16% para 35%. É mais uma punhalada nas costas do governo federal contra um setor fundamental para o desenvolvimento macroeconômico nacional: o de transportes.

Em algumas regiões do País, começam a ‘pipocar’ nas plataformas de comunicação mensagens de apoio à paralisação dos caminhoneiros, na tentativa de frear essa situação. Em entrevista concedida à equipe de reportagem do Jornal O Paraná, o presidente do Sintropar (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Oeste do Paraná), Antonio Ruiz, desconhece mobilização em torno da greve do setor e aproveita para apresentar um estudo desenvolvido pelo Departamento Tarifário da NTC-Logística (SP), que mostra que o impacto de uma medida como essa seria de R$ 2 bilhões/ano ao setor rodoviário. “Em uma audiência pública em Brasília, foi apresentado esse minucioso estudo e preocupou a todos a possibilidade de blindar essa competitividade”, destacou.

“Não é algo simples fazer a importação de pneus. Além de vencer os trâmites burocráticos, é preciso comprar uma carga cheia, ou seja, um contêiner com 240 pneus”, comenta. “O impacto será grande no setor e também refletirá no setor produtivo”, alerta Ruiz. O dirigente do setor de transportes criticou a postura do governo. “Estamos em um momento no País que o governo só pensa em taxação. Para nós não é surpresa ele querer taxar algo que vai impactar um dos setores mais importantes para o desenvolvimento do Brasil, o segmento produtivo”, disse, em entrevista ao O Paraná.

O peso do custo

O estudo teve como objetivo demonstrar como o aumento do imposto no preço dos pneus novos importados irá impactar sob vários aspectos a atividade de transporte rodoviário de carga e também para a sociedade brasileira em geral.

O peso do custo da rodagem, pneus novos e reformados, em um veículo comercial (caminhões) está ligado diretamente ao seu porte e a quilometragem rodada por ele. Para ser mais assertivo, neste estudo foi utilizada uma composição bem competitiva, com uma relação custo por tonelada baixo e, que é muito utilizada no escoamento das safras, nas cargas industriais e nas transferências de mercadorias entre as cidades: um cavalo mecânico 6×4 tracionando um semirreboque de quatro eixos.

Impacto

Segundo a ANIP (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos) foram vendidos em 2024, de janeiro a junho, um total de 3.387.866 pneus novos nacionais de carga (63,06% do mercado) e aproximadamente 2.154.756 unidades foram importadas.

Deste total, inicialmente serão utilizados como base de cálculo só os vendidos para reposição, ou seja, 2.478.611 nacionais e 1.569.866 importados no 1º semestre de 2024.

O preço médio dos pneus de caminhões considerando todas as médias utilizadas está na casa de R$ 2.015,00 os nacionais e de R$ 1.410,50 (desconto de aproximadamente 30%) os importados, de acordo com a pesquisa da NTC. 

Com estas informações já é possível aferir que o impacto total para o setor, caso seja eliminada a competitividade, pode chegar à casa de 2 bilhões por ano para o transporte de carga: 1.569.866 (meio ano) X 2 X R$ 604,50 (diferença = 2.015,00-1.410,50) = 1.897.967.483,64.

Outro impacto trazido pela possível medida está relacionado ao preço dos implementos rodoviários, gerando um aumento em torno de 5,8% no preço do implemento.

A medida poderá afetar também os custos operacionais dos caminhões. Neste caso, o impacto é mais significativo para os autônomos (caminhoneiros ou TAC) que possuem veículos de menor valor (mais velhos) e menores custos (não possuem custos administrativos significativos e a sua carga de impostos é menor).

Para as empresas transportadoras que historicamente têm um lucro médio na casa dos 5,0%, está mudança poderá representar, caso seja adotada, uma redução no seu resultado de 30%.

Já para a sociedade, com o repasse para o frete o reajuste seria na casa dos 1,5%, sendo que o peso maior recairá sobre os produtos transportados mais baratos, em especial os da cesta básica, por exemplo, cujo impacto poderá chegar a ser de aproximadamente 4,5%.

Audiência

Nesta terça-feira, durante audiência na Comissão de Viação de Transportes na Câmara dos Deputados, o superintendente de Serviços de Transporte Rodoviária da agência, José Aires Amaral Filho, disse que a medida pode causar sucateamento do setor. 94% dos 747 mil transportadores registrados no país possuem até três veículos e não conseguiriam transferir os custos de um eventual aumento dos preços dos pneus para o frete.