Reportagem: Juliet Manfrin
Cascavel – A melhora esperada para este ano no cenário econômico não chegou ainda e o consumo segue em marcha lenta revelando que, quem vive no oeste, está abastecendo menos seus veículos, principalmente os que fazem transporte de carga.
Enquanto no Estado o consumo avançou 9% de janeiro a junho deste ano, se comparado a igual período em 2018, na região a retração chegou a 3,03%, segundo pior indicador do Paraná, atrás apenas da região de Ponta Grossa, onde o recuo foi de 5,4%.
Os números são da Fecomércio-PR (Federação do Comércio do Estado do Paraná).
O indicador regional tem algumas explicações, mas uma delas melhor se encaixa às condições regionais. O que mais influenciou foi a quebra expressiva da produção agropecuária, quando analisados os dados da safra de verão 2018/2019. “Quando isso ocorre na região oeste, acaba refletindo em todos os setores porque é uma região que vive do agronegócio. A quebra no campo [cerca de 1 milhão de toneladas da soja, somando mais de 25% da produção regional perdida], fez com que menos cargas fossem transportadas, menos máquinas fossem para o campo, menos dinheiro circulasse no comércio, menos gente com dinheiro no bolso e, com isso, abastecendo menos”, lista o diretor de Planejamento e Gestão da Fecomércio-PR, Rodrigo Sepulcri Rosalem.
Entre os principais impactos está o consumo de óleo diesel para caminhões, máquinas e implementos agrícolas. Somado a isso, existem outros aspectos como a própria economia, que não tem reagido como o esperado.
Para Rosalem, essas variações são comuns: “Precisamos lembrar ainda que no ano passado tivemos uma safra muito boa na região [o oeste teve o melhor desempenho de produção de grãos da história] e, quando se tem uma safra muito boa, a região é beneficiada e isso se traduz na economia como um todo. Safra boa, com dólar favorável, significa mais dinheiro na mão da população e isso faz a economia girar, as pessoas viajarem, mais cargas para serem transportadas porque aumenta o consumo”, reforçou.
Para o especialista, a queda agora precisa ser vista como uma espécie de acomodação dos indicadores: “Isso é mais um rearranjo do mercado do que uma redução propriamente dita”.
Se o comparativo for feito somente entre os meses de junho de 2018 e 2019, houve aumento de 6,11% no consumo regional. “Em junho de 2018 vivemos, nos primeiros dias, reflexo da greve dos caminhoneiros que provocou um desabastecimento de combustíveis, mas causou uma corrida aos postos para encher o tanque. Na segunda quinzena, o abastecimento se normalizou. O consumo agora também tem a ver com a recuperação do cenário agrícola, com a safra maior [de milho safrinha] sendo colhida em junho deste ano, os reflexos são imediatos”, seguiu.
Queda nos preços e o consumo
Se a avaliação for conduzida entre os meses de maio e junho deste ano, o avanço no abastecimento é de 3,68% no último mês. Entre os motivos também está a queda no preço dos combustíveis. A gasolina, para se ter ideia, que chegou a ser vendida a quase R$ 5 na metade do ano passado em alguns municípios da região pouco antes da paralisação dos caminhoneiros e o etanol, que passava dos R$ 3,5, sofreu uma reacomodação dos preços.
Hoje a gasolina custa, em média, R$ 4,37 o litro, mas pode ser encontrada por até R$ 4,09, e o álcool pode ser encontrado por até R$ 2,68, mas o preço médio é de R$ 2,99, retração de 17%.
Para o economista Marcelo Dias, sempre que os preços recuam, os efeitos começam a ser sentidos. “Quando se paga menos, as pessoas acabam consumindo um pouco mais. Passear custa caro, então, quando há uma diminuição, a tendência é aumentar um pouco o consumo, mas ainda estamos longe dos patamares que vivíamos na virada da década. Vamos ver como a economia se comporta no segundo semestre, afinal, a reforma previdenciária caminhou, a tributária começa a andar, algumas medidas podem auxiliar este início de recuperação”, considerou, e acrescenta: “Mas não podemos esperar nada muito atrativo para este ano. Se houve aumento, ele só deve ser sentido mesmo em 2020”.
Setor de cargas sofre
No transporte de cargas esse impacto realmente é importante. Segundo o presidente do Sintropar (Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística do Oeste do Paraná), Wagner Adriani Pinto, os efeitos da crise são sentidos em cheio no segmento que congrega cerca de 55 mil caminhões, isso sem contar os cerca de 30 mil nas mãos dos autônomos apenas no oeste do Paraná. “Apesar de termos a agricultura que caminha bem, de modo geral, existem outros setores do transporte que estão sofrendo muito. A queda no consumo é porque temos menos cargas para transportar e isso tem ocorrido muito e sem sinais de recuperação”.
A expectativa, no entanto, é para a reta final do ano com uma possível recuperação das vendas no varejo. O termômetro para o fim de ano promete ser o Dia das Crianças (12 de outubro) e já pensando na Black Frydai e nas festas de Natal e Réveillon. “A verdade é que estamos a quatro meses do fim do ano, as famílias estão endividadas e quem tem um pouco de recurso guardado gasta com o essencial com medo de ficar desempregado ou de a economia seguir como está”.