O Banco Central pode continuar reduzindo a taxa básica de juros (Selic) nos próximos meses, segundo indicou o Comitê de Política Monetária (Copom). O colegiado que reduziu a taxa na última semana, levando o juros básicos da economia ao patamar de 6% ao ano, apontou uma tendência de retomada do processo de recuperação da economia do país, “que tinha sido interrompido nos últimos trimestres”. A informação foi divulgada na ata da última reunião do comitê, quando a Selic, usada como balizador da economia para o controle da inflação, teve o primeiro recuo depois de um ano e quatro meses.
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Ainda diante dessas projeções, o Copom alertou, no mesmo texto, que a decisão sobre o futuro do indicador da política monetária vai depender da evolução do cenário do país “dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”.
“O Comitê avalia que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo [monetário, ou seja, corte da Selic]”. O colegido ressaltou que “dados sugerem possibilidade de retomada do processo de recuperação da economia brasileira, que tinha sido interrompido nos últimos trimestres”.
Para integrantes do comitê, o Produto Interno Bruto (PIB) – soma de todos os bens e serviços produzidos no país – tende a ficar estável ou apresentar ligeiro crescimento no segundo trimestre. A aceleração do índice pode continuar nos trimestres seguintes, reforçada pelos estímulos decorrentes da liberação de recursos do Fundo de Garantira do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS/Pasep. Apesar disto, a expectativa é que o ritmo de “crescimento subjacente da economia, que exclui os efeitos de estímulos temporários, será gradual”.
Inflação
Na ata, o Copom explicou que sua decisão de cortar a Selic ocorreu porque a perspectiva de inflação em 2020 está “em torno ou abaixo da meta” e devido ao “elevado grau de ociosidade na economia”.
Para a comitê, a inflação deve ficar em torno de 3,6% em 2019 e 3,9%, em 2020, em um cenário com taxa Selic terminando 2019 em 5,50% ano, permanecendo nesse patamar até o final de 2020. Esse cenário também supõe trajetória de taxa de câmbio (dólar) R$ 3,75 ao final de 2019 e em R$ 3,80, no fim de 2020. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,1% para 2019 e 4,6% para o próximo ano.
A meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é 4,25%, em 2019, e 4%, em 2020. A projeção considera intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Para alcançar esta meta de inflação, o BC usa como principal instrumento a taxa básica de juros. Quando o Copom reduz a Selic, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
Quando o Copom aumenta a Selic, a finalidade é conter a demanda aquecida, provocando reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
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Reforma da Previdência
Para integrantes do comitê, o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado. Ainda assim, o Copom enfatizou que “a continuidade desse processo é essencial para a queda da taxa de juros estrutural [juros que permitem crescimento econômico, sem descontrole da inflação] e para a recuperação sustentável da economia”. “O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes. Em particular, o comitê julga que avanços concretos nessa agenda são fundamentais para consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva”, destacou em ata.
A expectativa é que com a reforma da Previdência e adequação das regras para aposentadoria à estrutura e dinâmica demográficas do país o ritmo de crescimento dos gastos do governo caia, aumentando a poupança pública. “Além disso, gera incentivos para aumento da taxa de poupança por parte da população, visando sustentar um certo padrão de consumo após a aposentadoria”, destacou.
O BC também avaliou que a reforma reduz o prêmio de risco (retorno adicional cobrado por investidores para aceitar correr maior grau de risco) da taxa de juros estrutural, porque melhoram as perspectivas de sustentabilidade fiscal. “Por outro lado, a reforma induz aumento da oferta de trabalho e tende a estimular investimentos privados ao reduzir incertezas sobre aspectos fundamentais da economia brasileira. Considerando apenas esses dois últimos canais, a reforma tenderia a elevar a taxa de juros estrutural”, destaca o texto.
Ao considerar todos os fatores, o Copom entende que a reforma contribui para redução gradual da taxa de juros estrutural da economia