
Com a saída do Reino Unido da União Europeia, o que pode acontecer com o Brasil?
Estimamos que os efeitos diretos sobre o Brasil não seriam graves num primeiro momento. Apenas 1,5% de nossas exportações é dirigida ao Reino Unido. O país responde por 1,6% de nossas importações. Nossa preocupação é maior com efeitos sistêmicos, como crise econômica na Europa ou instabilidade no mercado financeiro.
E quanto às nossas relações com o Reino Unido?
O Reino Unido é um grande investidor no Brasil, com 7,8% do estoque de investimentos estrangeiros diretos. Foi o quarto maior investidor no quadriênio 2011-2014. Esperamos que esses fluxos não sejam afetados significativamente.
O senhor acredita que a decisão do referendo vá afetar as negociações entre Mercosul e União Europeia para um acordo de livre comércio?
É possível que haja algum impacto, mas continuaremos negociando. Também ainda é cedo para se avaliar a possibilidade de acordo direto do Brasil ou do MERCOSUL com o Reino Unido. Vamos esperar os desdobramentos futuros.
O senhor acredita em um acordo entre os dois blocos a curto prazo?
Contrariamente a um mito que se estabeleceu, o principal obstáculo a uma negociação Mercosul-União Europeia para um acordo de livre comércio não vem do lado do Mercosul. Isso era verdadeiro até o governo da ex-presidente argentina Cristina Kírchner. Essa concepção mudou no governo de Maurício Macri. O Mercosul está bastante aberto para a negociação. A maior dificuldade vem da União Europeia. Eles fizeram uma oferta de liberalização inferior ao que tinham feito em 2004 e ainda não se manifestaram sobre dois itens que são fundamentais para o Mercosul: a carne bovina e o açúcar. Por outro lado, no ano que vem tem eleição na França e é muito pouco provável que a UE atenue as restrições protecionistas em função disso. Mas isso não significa que vamos deixar de dar batalha.
Que tipo de protecionismo o senhor enxerga nas negociações?
Eu quero lembrar que os países da UE dão de subsídios à sua agricultura cerca de 100 bilhões de euros pro ano, seja pelo orçamento da própria União Europeia, seja pelos orçamentos nacionais. Isso, evidentemente, é uma medida de protecionismo extremo.
E quanto a uma negociação direta com o Reino Unido?
A Inglaterra é mais uma oportunidade de negociação de mais comércio e investimentos.