
A declaração da primeira-dama é o ponto mais agudo de um descontentamento geral do povo com Buhari, eleito sob as bandeiras de combate à corrupção e ao nepotismo. Ativa na campanha do marido no ano passado, à frente da organização de reuniões na prefeitura com coletivos de mulheres e de jovens, Aisha sumiu dos holofotes desde que o marido assumiu o poder. Focou no trabalho de apoio às vítimas do grupo terrorista Boko Haram. A simples reaparição na mídia, neste sentido, já seria notícia. O conteúdo, no entanto, impulsionou a repercussão.
? O presidente não conhece 45 das 50 pessoas que ele indicou. Eu também não os conheço, mesmo sendo sua mulher há 27 anos ? disse Aisha. ? Algumas pessoas estão sentadas em casa, de braços cruzados, à espera do chamado para chefiar uma agência ou assumir um posto no ministério.
Críticos de Aisha acusaram-na de vir a público porque não teria conseguido convencer o marido de emplacar nos cargos seus favoritos. De qualquer forma, a população recebeu com atenção a entrevista da primeira-dama, cuja intimidade com o presidente legitimaria sua crítica em meio à recessão econômica e ao crescente desgaste do partido governista. Trata-se de um contraponto ao discurso de Buhari, que tenta difundir a imagem de um chefe de Estado que ?pertence a ninguém e pertence a todos?, nas próprias palavras do presidente.
? Ele (Buhari) ainda vai me falar. Mas eu decidi, como sua mulher, que, se as coisas continuarem assim até 2019, eu não sairei em campanha de novo nem pedir a toda mulher que vote nele. Eu nunca mais farei isso ? decretou.
As redes sociais do país se dividiram em apoio e questionamento à postura da primeira-dama. Enquanto alguns elogiaram a independência e a coragem de Aisha, outros criticaram a ideia de alguém tão próximo, parte do time presidencial, se voltar contra o líder.