O aumento na quantidade de moradores de rua é uma preocupação que impacta em uma série de situações nas cidades que precisam planejar ações para atender este tipo de público, os inserindo nas políticas públicas. Em Cascavel, é só andar pelas ruas que se identifica nitidamente os grupos que trazem a sensação de insegurança aos moradores e muitas vezes aos comerciantes.
O problema é que grande parte deles acaba abordando os moradores pedindo esmolas em troca de um cuidado especial aos veículos estacionados e até em alguns casos, a negativa soa como desagradável para eles que acabam desferindo palavrões aos moradores. O problema está cada vez mais latente, o que acaba gerando reclamação da sociedade como um todo.
Nesta sexta-feira (3) o prefeito Renato Silva e a secretária municipal de Assistência Social, Rosely Vascelai, visitaram a Casa Pop (Casa de Passagem para População em Situação de Rua) que atualmente fica localizada no Bairro Santa Felicidade – ocasião em que a secretária anunciou que o serviço vai mudar de endereço e será repassado para a região central da cidade, para atender justamente os grupos que ficam concentrados naquela localidade.
“Ainda estamos estudando um local para ser feita a mudança”, disse Vascelai.
Atualmente o serviço atende diariamente um público de 50 pessoas de idade de 18 a 70 anos que recebem assistência médica e social, onde eles fazem suas refeições, têm banho e cama confortável para dormir com dignidade. Depois da mudança, a estrutura da Casa Pop no Bairro Santa Felicidade vai abrigar o Creas Sul (Centro de Referência Especializado de Assistência Social).
Segundo a secretária, este local de atendimento é bem importante, já que muitos moradores querem mudar e por isso, o Município precisa oferecer este tipo de serviço. “A Casa Pop é um lar onde eles trocam os seus problemas, suas tristezas e são muito bem acolhidos, é muito importante ter o local, com esta equipe completa com cozinheiras, assistente social, psicólogos e médicos que fazem o atendimento”, descreveu.
Segundo ela, pelas regras eles deveriam ficar cerca de seis meses no local, mas muitos acabam ficando muito mais tempo, porque não têm para onde voltar. Paralelo a isso, eles darão continuidade aos trabalhos que já são feitos, mas com nova regras. “Quem tem problema mental, vamos encaminhar para a saúde, de droga também para as clínicas de recuperação, os que forem bandidos a situação será com a polícia. A gente vai ser bem firme este ano, quem quer ser recuperado e tratado vamos ajudar, porém aqueles que não querem nada com nada, vamos mandar de volta para a cidade de origem, porque 80% que nós temos hoje é gente de fora”, frisou.
25% a mais
O número de pessoas vivendo em situação de rua em todo o Brasil aumentou cerca de 25%. Se em dezembro de 2023 havia 261.653 pessoas nesta situação, esse número chegou a 327.925 no final do ano passado. A informação é do levantamento mais recente divulgado pelo Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais.
O número apurado em dezembro de 2024 é 14 vezes superior ao registrado onze anos atrás, quando havia 22.922 pessoas vivendo nas ruas no país.
O levantamento foi feito com base nos dados do CadÚnico (Cadastro Único de Programas Sociais), que reúne os beneficiários de políticas sociais, como o Bolsa Família e o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e serve como indicativo das populações em vulnerabilidade para quantificar os repasses do governo federal aos municípios.
A Região Sudeste é onde estão concentradas 63% das pessoas em situação de rua do país, com 204.714 pessoas, seguida da Região Nordeste, com 47.419 pessoas (14%). Só no estado de São Paulo, que representa 43% do total da população em situação de rua do país, esse número saltou de 106.857 em dezembro de 2023 para 139.799 pessoas em dezembro do ano passado. Essa quantidade é 12 vezes superior ao que foi observado em dezembro de 2013, quando eram 10.890. Em seguida aparecem os estados do Rio de Janeiro, com 30.801, e Minas Gerais, com 30.244.
Fortalecimento
De acordo com o coordenador do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, André Luiz Freitas Dias, o aumento desta população pode ser explicado pelo fortalecimento do CadÚnico como principal registro desta situação e de acesso às políticas públicas sociais do país e também pela ausência ou insuficiência de políticas públicas estruturantes voltadas para essa população, tais como moradia, trabalho e educação.
O levantamento apontou ainda que sete em cada dez pessoas em situação de rua no país não terminaram o ensino fundamental e 11% encontram-se em condição de analfabetismo, dificultando o acesso das pessoas às oportunidades de trabalho geradas nas cidades.