Cotidiano

HU tem suprimentos apenas para dez dias, alerta novo reitor

Mais uma vez a falta de medicamentos, seringas e até alimentos em estoque assombra o HU (Hospital Universitário) de Cascavel.

HU tem suprimentos apenas para dez dias, alerta novo reitor

Reportagem: Cláudia Neis

Cascavel – Mais uma vez a falta de medicamentos, seringas e até alimentos em estoque assombra o HU (Hospital Universitário) de Cascavel. A situação já foi denunciada diversas vezes pelo Jornal O Paraná e é inclusive acompanhada pelo Ministério Público, mas, de acordo com o reitor da Unioeste (Universidade do Oeste do Paraná), Alexandre Webber, que acaba de assumir, os estoques devem durar apenas mais dez dias. Ele garante que medidas estão sendo tomadas para que sejam repostos de forma emergencial. “Em reunião com os diretores do HU nessa sexta-feira (3), tomamos conhecimento da real situação dos estoques e no início da próxima semana já entraremos em contato com a Sesa [Secretaria de Estado da Saúde] relatando a situação e solicitando uma possível liberação orçamentária antecipada, já que a liberação está programada somente para o dia 13… Mesmo que não haja a liberação [agora], as compras serão feitas. Não podemos correr o risco de ficar sem suprimentos e ter que correr atrás de empréstimos”, argumenta Alexandre.

Essa preocupação já havia sido relatada pelo reitor em entrevista ao Jornal O Paraná ainda em dezembro, quando ele disse que buscava uma forma de adiantar as aquisições para evitar que os estoques fossem zerados.

Alexandre reforçou ainda a necessidade de manter um estoque para pelo menos três meses. “É impossível trabalhar e fazer um bom trabalho se tivermos o almoxarifado zerado. Hoje, 90% do tempo os gestores gastam correndo atrás do que está faltando, remanejando, emprestando… não é possível continuarmos assim. Já pedi que se faça um levantamento de tudo o que é necessário para que o HU funcione e em cima desses números vamos organizar a casa”, garante.

Salários atrasados e contratos vencendo

Além dos baixos estoques, outro problema é o salário dos médicos que atuam no HU. “O salário dos médicos não foi pago ainda. Os valores referentes ao mês de outubro, que deviam ser pagos em dezembro, ainda não foram depositados. Devemos procurar o Estado e regularizar na próxima semana”, afirma o novo reitor, Alexandre Webber.

Em relação aos médicos, o problema não fica restrito aos salários. É que os contratos dos profissionais terceirizados, responsáveis por mais de 80% dos atendimentos do HU, não foram renovados quando venceram, em agosto do ano passado, mas apenas prorrogados e agora é preciso correr contra o tempo para fazer novos até o fim de fevereiro. “Montamos uma força-tarefa para fazer a revisão dos contratos… Precisamos rever tudo o que já existe e verificar as alterações recomendadas. Isso tudo precisa estar pronto até fevereiro, então é preciso agir rápido”.

Revisão geral no HU

Diante dos desafios do dia a dia e de uma possível revisão da contratualização com o Estado, o reitor Alexandre Webber solicitou que um levantamento geral da situação do HU em todas as áreas. “Pedi aos diretores um raio-X completo da estrutura, funcionários, materiais, contratos… tanto para que possamos ver o que pode melhorar, como para apresentar os números reais ao Estado. No dia 29 de janeiro teremos mais uma reunião sobre um possível modelo de gestão e padronização dos HUs e, com esses números, poderemos mostrar melhor a nossa realidade, que é bem diferente dos outros hospitais universitários. Nós temos, por exemplo, menos da metade de funcionários por leito que o HU da UEL [Universidade Estadual de Londrina]. Então precisamos saber a nossa realidade para conseguir mostrar para o Estado e tentar uma mudança no que temos contratado”, explica Alexandre.

Dentre as mudanças, o reitor já anunciou o aumento das AIHs (Autorização de Internação Hospitalar). “Nós sempre atendemos mais do que é pactuado. Então sempre tem atendimentos que ficam para serem lançados no mês seguinte. E assim sucessivamente”, ilustra.

Eleições para diretores

A mudança na escolha do diretor-geral do HU, que deveria ser eleito pelos servidores conforme decisão de plebiscito em 2018, não deve ser posta em prática este ano. “Não há como fazer uma eleição sem um regimento, uma estrutura regimental. Nós precisamos deixar claro nesse regimento o que é de responsabilidade de cada direção, organizar a casa. Então teremos seis meses para construir esse regimento e outros seis para que ele seja aprovado em todas as instâncias competentes para que em 2021 a eleição aconteça”, ressalta Alexandre Webber.

Corte de cargos irregulares

Questionado sobre a última determinação do TCE-PR (Tribunal de Contas do Estado), de 19 de dezembro, para a extinção em 30 dias dos mais de 400 cargos considerados irregulares, criados sem base legal, o reitor Alexandre Webber afirma que há um “equívoco de interpretação” e já está regularizando a situação. “O número não é esse. Há uma interpretação equivocada… De acordo com o que levantamos, são 20 cargos que estamos usando a mais que o permitido e esses já estão sendo extintos”.

Webber afirma ainda que deve se reunir com os representantes do TCE para esclarecer sobre os cargos questionados e outras questões que devem ser expostas. O objetivo é mostrar que a Unioeste tem interesse em trabalhar totalmente dentro da lei daqui pra frente, diz Webber.

Lei das Universidades

A palavra mais utilizada por Alexandre Webber, mesmo antes de ser eleito reitor, é “diálogo”. E vai precisar, já que há muitas questões a serem resolvidas. Entre elas a Lei das Universidades, proposta pelo governo do Estado. “É uma lei muito importante, desde que venha para criar esse parâmetro entre todas as universidades, porque cortar não há mais onde. No início, a proposta previa corte de pelo menos 102 cargos, o que impossibilitaria o funcionamento da Unioeste. Mas dialogando conseguimos mais prazo para discutir a lei. Deixamos claro que já houve há dois anos uma redução de 20% no efetivo e não há mais como cortar. E é dialogando que nesses próximos três meses vamos ajudar na elaboração dessa lei para que ela seja a solução dos nossos problemas. O Estado abriu espaço para que as instituições mostrem suas necessidades e é isso o que vamos fazer, garantindo melhorias para todos”, complementa Webber.