RIO ? O escritor Gay Talese declarou que não vai promover seu livro mais recente, “The voyeur’s motel”, sem título em português. O motivo: o próprio Talese admite que a credibilidade do relato sobre um dono de hotel que espiou seus hóspedes entre as décadas de 1960 e 1990 foi perdida depois que jornalistas descobriram que o estabelecimento trocou de mãos durante parte da década de 1980.
O escritor baseou seu livro nos diários escritos e em entrevistas com Gerald Foos, o proprietário do Manor House Motel, localizado no estado do Colorado. Hoje com 82 anos, Foos admite que construiu uma espécie de passarela sobre os quartos, que usava para observar os ocupantes do hotel através das saídas de ventilação instaladas no teto.
Apesar de ter verificado boa parte das declarações de Foos, Talese deixou passar uma informação crucial: o motel foi vendido em 1980, e só foi recomprado em 1988. No entanto, o livro descreve cenas que o proprietário afirma ter visto durante o período em que estava afastado do negócio.
Gay Talese, um dos maiores ícones da corrente do new journalism, que mistura técnicas jornalísticas e de ficção, não chegou a acreditar piamente em tudo que o entrevistado lhe contou. No livro, ele cita discrepâncias encontradas, como o caso de uma mulher supostamente estrangulada em um dos quartos do motel em 1977. Foos afirmou ter denunciado o crime à polícia, porém nenhum registro do incidente foi encontrado. No entanto, após perceber a existência de outras inconsistências nas histórias de seu personagem, Talese admitiu ao jornal “The Washington Post” que “fez o melhor que pôde no livro, mas talvez não tenha sido suficiente”.
“Eu não deveria ter acreditado em uma só palavra dele”, lamentou o escritor de 84 anos. E foi enfático: “Como posso promover este livro quando a credibilidade dele foi pelo ralo?”. Gerald Foos, por outro lado, mantém sua história e diz que todas as situações descritas no livro realmente aconteceram.
“The voyeur’s motel’ será lançado no dia 12 de julho, pela editora Grove Atlantic. Steven Spielberg já se aliou ao diretor Sam Mendes (“Beleza americana”) para, juntos, produzirem uma versão cinematográfica. Krysty Wilson-Cairns, que escreveu alguns episódios da série “Penny dreadful” foi contratada para assinar o roteiro.