Cotidiano

'Ele não é estuprador', diz mãe de Raí de Souza, que está preso

rai-de-souza-estupro-coletivo.jpgRIO – A porta do banheiro do apartamento de cinco cômodos de um conjunto habitacional, na Praça Seca, onde mora Raí de Souza, de 22 anos, suspeito de participar do estupro coletivo de uma adolescente no último dia 22, no Morro da Barão, está quebrada. Quem estiver no corredor, vê quem está tomando banho. Não há qualquer tipo de privacidade. No local moram ele, a mãe e duas irmãs, uma de 24 anos e outra de 14 anos, mas há cerca de cinco anos, três primas, também jovens, dividiam o espaço que foi herdado da avó pela mãe do acusado. Único homem da família ? o pai morreu num acidente de moto há mais de 10 anos ?, Raí dorme no mesmo quarto com a irmã de 14 anos,num colchão ao lado da cama dela. Com o argumento de que há respeito entre eles, a mãe, que pediu para não ser identificada por temer perder as faxinas que faz em casas de família, sai em defesa de Raí e diz que o filho não é estuprador:

? Houve uma época em que havia cinco meninas e só ele de menino aqui em casa. Nunca houve nenhum problema (estupro), como esse que estão falando. O Raí é pacato, bobão. Não tem motivo para ele estar metido nisso. Ele não é estuprador. Ele tem família. O meu filho foi ao baile e conversou com ela. Ele não faria um ato horroroso desses. Ele tem duas irmãs e não admite abuso com elas. Imagina se ele fosse fazer isso (estupro), quando ele tem uma irmã de 14 anos. Isso poderia ser feito com ela também ? diz a mãe, que desculpou o ato de o filho sair da delegacia, onde prestou depoimento, fazendo o sinal de vitória, como uma amostra da imaturidade do acusado. Estupro – 01/06

A mãe conta que só conheceu uma namorada de Raí, com quem ele ainda mantém relacionamento há três anos. Segundo ela, o filho não contou nada do que houve na noite do estupro, porque sabia que ela não aprovaria a traição com a jovem.

? Eu só conheci essa namorada. Ele dorme aqui em casa e conheço toda a família dela. Ele não precisa ter outra pessoa. Essa menina (a vítima) eu não conheço. Nunca vi essa garota na minha vida. As pessoas da comunidade disseram ter visto ela conversando com o Raí, mas essa hipótese de estupro não existe. Eu sei da educação que dei a ele. Ele é nascido e criado aqui (Praça Seca). Podem perguntar por ele aí na rua. Nunca se meteu em brigas quando era adolescente. Ninguém vai falar mal dele. Ele é caridoso, inclusive faz um trabalho social no morro, onde ensina muay thai ? contou.

Raí estudou até o primeiro ano do ensino médio, mas a mãe conta que ele sempre foi um aluno mediano:

? Ele nunca foi o melhor aluno, mas também não era o pior. Era um garoto normal como qualquer um.

Ao ser perguntada se, pelo fato de ser mulher, ela não se sentia revoltada com o caso de estupro coletivo, a mãe do acusado respondeu que sim. Ela lembrou que também tem duas filhas, mas disse que sempre ensinou aos três que eles deveriam ter respeito pelas pessoas. No entanto, a mãe não admitiu, em hipótese alguma, que o filho estivesse filmando, do próprio celular, a adolescente nua, dopada, em cima da cama, como a titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav), Cristiana Bento, está investigando. Segundo a delegada, há provas de que Raí estava no local no momento do estupro, o que fez com que a Justiça decretasse a prisão temporária dele. Nesta quinta-feira, ele foi levado para o Complexo de Gericinó.

? Meu filho não precisa disso (estuprar). As pessoas estão dizendo que ele era isso e aquilo. Elas precisam olhar para si mesmas antes de apontar o dedo para os outros. Eu me admiro muito com o fato de os pais dessa menina (vítima) não saberem quem é a filha deles. É só vir aqui na comunidade e perguntar por ela. Isso não justifica o que fizeram com a garota, mas daí dizer que o meu filho a estuprou, isso não existe. Isso é mentira. Ele não é estuprador. Nem ela falou isso em depoimento. Não sei porque meu filho foi preso. Eu nunca fui a uma delegacia. Que maldição foi ele ir a esse baile! ? disse ela.

A irmã de 24 anos também defende o irmão e diz que a maior preocupação dela é com o que os outros presos podem fazer com o Raí:

? Meu irmão é inocente. É muito triste tudo isso. Todo mundo sabe o que acontece com pessoas acusadas de estupro na cadeia

Mas há um lado de Raí que a família desconhece. Nas redes sociais, ele posta a foto de uma orgia entre um homem e seis mulheres nuas. Ele também segue comunidades no Facebook como o Bonde do Rodo, uma favela de Santa Cruz, na Zona Oeste. Na página desse grupo, há funks com apologia ao sexo com várias mulheres ao mesmo tempo. O amigo de Raí, o jogador de futebol Lucas Perdomo Duarte dos Santos, que também foi preso acusado do estupro, segue a mesma comunidade de Santa Cruz, ao mesmo tempo em que ele curte uma postagem sobre o fim da cultura do estupro.

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