Cotidiano

Edson Vasconcelos: Missão é fazer com que todos entendam a importância da indústria

Edson Vasconcelos: Missão é fazer com que todos entendam a importância da indústria

Na última terça-feira (15) o Oeste do Paraná voltou a ser destaque no Estado. O industrial cascavelense Edson José de Vasconcelos foi eleito presidente da Fiep (Federação das Indústrias do Paraná) no quadriênio 2023-2027. À frente da chapa “Somos indústria, somos Fiep”, ele recebeu os votos de 63 sindicatos filiados à Fiep. No comando da entidade, Vasconcelos substituirá Carlos Valter Martins Pedro, que preside a Federação desde 2019. O mandato da nova gestão começa oficialmente em 1º de outubro.
A reportagem do jornal O Paraná conversou com o presidente eleito Fiep para saber quais as expectativas e pautas do mandato a frente de uma das principais entidades do Paraná.

Protagonismo do Oeste
Vasconcelos explica que a industrialização do Oeste paranaense ainda é muito recente comparada à própria indústria brasileira. Contudo, segundo ele, a região apresenta um ciclo rápido de evolução. “A nossa industrialização é muito recente. É muito recente no Brasil comparada ao mundo. No mundo a Revolução Industrial começou em 1750 e nós, tardiamente, começamos um pouco mais de 200 anos depois. No Brasil ela começou a ser percebida depois da grande crise do café e pós-segunda guerra mundial. […] A nossa região é mais recente que tudo isso. Em 1930 e 1940, nós não tínhamos nada aqui, era terra despovoada e, de lá pra cá, viemos fazendo esse ciclo ser muito rápido. Há 20 anos a nossa potência aqui eram comodities, nós exportávamos comodities e hoje nós exportamos proteína termo processada. Então o nosso ciclo aqui em geral é muito forte, muito robusto, mas muito recente.”
Ele ainda pontua que esse ciclo rápido e forte é resultado de uma vontade. “A nossa realidade aqui é um pouco mais difícil. Porque a infra chegou mais tarde, a energia chegou mais tarde, a mão de obra teve uma dificuldade de treinamento, que na época que começou aqui era muito diferente; não tínhamos o costume de trabalhar em indústria. Quando São Paulo começou a industrializar, que veio mão de obra italiana e alemã, aquele pessoal já estava acostumado com fábricas lá e isso deu ao Brasil capacidade, depois que teve a abolição da escravatura, ter potencial de consumo também, então começou a fazer sentido à industrialização. Nós aqui não tínhamos nada. A nossa característica nos dá uma vontade, nos da uma percepção de que tudo é possível, porque nós tivemos que fazer tudo de forma diferente de quem está muito mais próximo do recurso.”
O industrial ainda vai além. Segundo ele, a região Oeste do Paraná demonstra números de crescimento melhor que outras regiões do próprio estado e o potencial industrial está apenas no início. “E para nós aqui também, trás um olhar para a nossa região mostrando que nós temos uma pujança, que estamos em uma crescente, até melhor que outras regiões e ainda não chegamos ao nosso pico. Estamos começando a crescer; nós temos um potencial imenso de adensamento de novos produtos que podem ser aqui e que nós somos vocacionados. Isso vai ajudar também o resto do Paraná a perceber que a vontade, que o termo é impossível é um pouco mais difícil da gente aceitar.”

Presidente do Interior
Outro importante marco da eleição do cascavelense para presidir a Fiep é que Vasconcelos será o terceiro presidente da Federação que é oriundo do interior. “De 79 anos da federação nós tivemos dois presidentes que são do interior; eu sou o terceiro. A Federação, ela tem uma sede em Curitiba, no interior temos 42 unidades do Sesi e temos 38 unidades do Senai; mas Sesi e Senai não são a Fiep, são uma ferramenta que a Fiep tem para cumprir o seu propósito que é melhorar o ambiente industrial. Aqui (Cascavel) se você perguntar onde é a Fiep, ela não existe aqui.”
Segundo Vasconcelos, um presidente do interior consegue entender as necessidades da indústria no interior que, muitas vezes, deixa de ser representada ao decorrer dos anos. “Então a presença da Fiep, a regionalização da Fiep é quando o industrial, o sindicato daqui se sente representado. Sesi e Senai não defendem o empresário quanto a tributação, quanto a energia, quanto ao meio-ambiente, quanto a empregabilidade. A Fiep, sim! Então é ela que pode nos defender em um tema de infraestrutura; é ela que pode nos dar auxílio e representatividade e isso melhora muito quando o presidente é do interior, porque ele vive um período na capital, mas ele é do interior. Então, ele sabe das necessidades, ele viveu na pele essas necessidades.”
Contudo, Vasconcelos já adiantou que precisará estar em Curitiba para presidir a Federação no próximo quadriênio. “Eu tenho residência aqui, vou manter residência aqui, mas eu tenho que estar com a família lá porque a robustez da administração necessita que eu esteja próximo da Fiep, lá em Curitiba.”

Expectativas da Indústria
Entre as prioridades da gestão, Vasconcelos afirmou que está a unificação do setor industrial paranaense. “O nosso plano de trabalho foi construído em várias mãos e por sindicatos que tem uma experiência e uma sensibilidade, setor por setor, muito grande. Todos eles têm certa expectativa, o nosso plano de trabalho é a somatória de todas elas. Mas, por incrível que pareça, a maior parte delas está no sentimento de falta de representação que aconteceu nos últimos anos que a Fiep deixou de estar presente, deixou de ser algo presente e também de lutar, especificamente, pelas políticas industriais, não só em nível nacional. Em nível nacional a gente vai falar de reforma tributária, de reforma trabalhista, mas nós precisamos ter uma política industrial de estado que chegue aos municípios.”
Outro objetivo é a conscientização da classe, da população e também da classe política sobre a importância da indústria. “Então um município que não consegue perceber a importância de uma indústria, ele automaticamente não vai fazer um plano diretor que tenha um parque industrial, não vai ter infraestrutura básica – inclusive fibra óptica é infraestrutura necessária; ele depois pode ter um ato regulatório equivocado, inibidor, um plano diretor que não permita a implantação de indústrias. Então o nosso trabalho é fazer com que a regionalidade, o município perceba a importância da indústria. Uma indústria que sai de uma região ou de um município por equivoco tributário ou por qualquer outra falta de assessoria, ela não é que nem um supermercado que quando fecha abre outro porque ele tá preocupado com o público do município, a indústria pouco vende para o município, a maior parte vende para outros países, então essa indústria é muito difícil você atrair novamente. Então a importância de fazer essa conscientização, essa sensibilização. Eu não trabalho no agro, mas eu defendo o agro porque sei que o agro é importante para nós, a nossa missão é fazer as pessoas que não estão na indústria, percebam a importância da indústria e comecem a defender a indústria.”

Empresário
Quanto às políticas voltadas ao empresário, Edson Vasconcelos argumenta que um dos principais objetivos é a preparação e inovação do industrial. “Outra parte nossa, que daí entra Sesi e Senai, as faculdades da indústria, é preparar o empresário cada vez mais para estar mais produtivo, mais competitivo, mais inovador, perceber os mercados que estão se abrindo, a percepção do perfil de consumo, porque o contato de quem está na última escala da indústria que é o uso e consumo de bens duráveis e não duráveis, a sensibilidade de consumo, daqui apouco muda e essa percepção tem que ser 100% atualizada e, se possível, ser antecipada para novas tendências.”

Defesa política
Vasconcelos ainda argumenta que outro ponto importante a ser abordado nos próximos anos é sobre a defesa da pauta da indústria, visando uma maior aproximação com a classe política para demonstrar ao Estado a importância da indústria para a regionalidade. “A política industrial é uma política de defesa da pauta da indústria. Então a nossa política é sensibilizar todos, desde deputados, governadores e prefeitos que, se derem uma atenção para a indústria, indústria retribui de forma diferenciada. Nós conseguimos fazer a balança comercial do estado vender lá fora produtos e trazer recursos para cá, aí o comercio gira. Então a nossa defesa política é a sensibilização, inclusive, da classe política. Nós precisamos, com certeza, cada vez mais, melhorar o nosso relacionamento com o legislativo; os deputados precisam perceber essa necessidade de ter um pouco mais de cuidado com a indústria, inclusive para não ter restrições, para não ter inibição da busca ou da vontade do empreendedor de ter uma indústria no estado do Paraná”.

 

Foto: Paulo Eduardo