RIO ? A recente descoberta de estrelas jovens em aglomerados estelares antigos pode colocar parte da astronomia de pernas para o ar, obrigando uma revisão dos modelos da evolução destes objetos. Segundo Bi-Qing For, pesquisador do Centro Internacional para Pesquisas em Radioastronomia (Icrar, na sigla em inglês), sediado em Perth, Austrália, e um dos autores da descoberta, nossa compreensão de como as estrelas evoluem é um dos pilares da ciência astronômica moderna.
– Existem um bilhão de trilhão de estrelas no Universo e temos observado e classificado as que podemos ver por mais de um século ? lembra. – Nossos modelos da evolução estelar são baseados na presunção de que as estrelas nos aglomerados estelares se formaram do mesmo material aproximadamente ao mesmo tempo.
Aglomerados estelares são grupos de estrelas que compartilham uma origem comum e permanecem unidas pela gravidade por um período de tempo. E como se presume que os aglomerados têm estrelas de idade e composição similares, há décadas os pesquisadores os usam como ?laboratórios astronômicos? para entender como a massa de uma estrela afeta sua evolução.
– Se esta presunção estiver incorreta, como nossos achados sugerem, então estes importantes modelos terão que ser revisitados e revisados ? afirma For.
A descoberta, publicada nesta segunda-feira na última edição do periódico ?Monthly Notices of the Royal Astronomical Society?, envolve o estudo de aglomerados estelares na Grande Nuvem de Magalhães, galáxia-satélite de nossa Via Láctea. Ao cruzar as informações sobre as localizações de milhares de estrelas jovens e brilhantes com a de aglomerados estelares nela, os pesquisadores encontraram 15 que parecem ser jovens demais na comparação com outras estrelas no mesmo aglomerado.
– A formação destas estrelas jovens poderia estar sendo alimentada pela entrada nos aglomerados de gás vindo do espaço interestelar ? avalia Kenji Bekki, também do Icrar e coautor do estudo. – Mas descartamos esta possibilidade usando observações feitas com radiotelescópios que mostram não haver correlação entre o hidrogênio interestelar e a localização dos aglomerados que estávamos estudando. Acreditamos que as estrelas jovens na verdade foram criadas do material ejetado pelas estrelas mais velhas quando elas morreram, o que significa que descobrimos gerações múltiplas de estrelas dentro do mesmo aglomerado.
Segundo Bekki, as estrelas jovens identificadas têm um brilho muito tênue para serem vistas com telescópios óticos por ainda estarem envolvidas pela poeira de material onde se formaram.
– Mas elas foram observadas em comprimentos de onda infravermelhos por telescópios espaciais como o Spitzer e o Herschel, operados pela Nasa e a Agência Espacial Europeia (ESA) ? lembra. – Estes envelopes de gás e poeira cercam estas estrelas jovens, mas à medida que elas ficam mais maciças e este casulo é soprado para longe, elas ficarão visíveis em comprimentos de onda óticos para instrumentos poderosos como o telescópio espacial Hubble. Então, se apontarmos o Hubble para os aglomerados que estamos estudando, devemos poder ver tanto as estrelas jovens quanto as velhas e confirmar de uma vez por todas se todos estes aglomerados estelares têm várias gerações de estrelas.