NOVA YORK ? O assassinato de um imã e de seu assistente em
plena luz do dia no popular distrito de Queens, em Nova York, no sábado, provocou reação
imediata da comunidade muçulmana, que classificou o crime como um ato islamofóbico. Enquanto a polícia ainda caça o
suspeito e tenta desvendar as suas motivações, as acusações respingaram no
candidato republicano à Casa Branca Donald Trump, criticado por alimentar o clima de islamofobia nos Estados Unidos.
Em meio a uma onda de hostilidade contra muçulmanos em
todo o país, o duplo homicídio perturbou muitos moradores na vizinhança, na
fronteira entre o Brooklyn e o
Queens, descrita como um hub crescente de famílias muçulmanas de Bangladesh.
Centenas de pessoas, em sua maioria muçulmanos, se
reuniram na cena do crime aos gritos de ?queremos justiça? e exibindo retratos
do imã Maulama
Akonjee, de
55 anos, pai de sete filhos. Outro grupo de moradores do bairro, líderes
religiosos e muçulmanos concentraram-se diante de uma mesquita para compartilhar
suas inquietudes em relação ao clima de hostilidade no país.
? É um crime motivado pelo ódio aos muçulmanos, são islamofóbicos os que causam este tipo de problema.
Somos amantes da paz ? afirmou Kobir Chowdhury, que dirige a mesquita de Masjid al-Aman, no
Brooklyn,
perto do lugar do crime.
RETÓRICA ANTI-ISLÃ ELEVA TENSÕES
Um frequentador da mesquita disse estar com medo. Outro culpou diretamente
Trump pelo assassinato. Alvo de fortes críticas
por propostas polêmicas contra imigrantes e por discursos anti-Islã, o magnata quer proibir a entrada de
muçulmanos no país caso seja eleito presidente.
? Os Estados Unidos não são assim. Culpamos Donald Trump por
isso. Trump e seu
drama criaram a islamofobia
? disse Khairul
Islam, de 33 anos.
Sem citar o nome do candidato republicano, Zead Ramadan,
presidente do Conselho de Relações Americano-Islâmicas em Nova York, relacionou o
assassinato ao discurso político atual. Ramadan advertiu que a retórica anti-muçulmana e o aumento da islamofobia elevaram as tensões.
? Este é um crime contra a Humanidade ? lamentou ele.
De acordo com o jornal ?The New York Times?, citando uma análise do FBI, foram
registrados uma média de 12,6 supostos crimes de ódio antimuçulmanos por mês nos
últimos anos. O balanço, segundo o diário, parece ter alcançado o pico no último
ano.
Embora a comunidade muçulmana não pareça ter dúvidas de
que o caso do imã se enquadra em crime de ódio, os investigadores ainda não
apontaram nenhum motivo para o assassinato. O gabinete do prefeito de Nova York
afirmou que a polícia estava investigando o crime ?sob todos os ângulos?.
? Não há nada na investigação preliminar que determine que foram atacados
devido às suas crenças religiosas ? declarou o inspetor Henry Sautner, do Departamento de Polícia de Nova
York.
O imã Akonjee,
originalmente de Bangladesh,
e seu assistente Thara Uddin, de 64 anos, foram baleados na parte de trás
da cabeça no sábado, pouco depois de participarem das orações da tarde na
mesquita de al-Furqan
Jame Masjid, no
bairro de Ozone Park. Os dois usavam vestimentas tradicionais que permitiam
que fossem identificados como muçulmanos. Akonjee levava mil dólares no momento do ataque,
que não foram roubados.
Depois de atirar, o suspeito fugiu da cena do crime, segundo a polícia, que
obteve a informação de testemunhas e de câmeras de segurança. Um retrato falado
do criminoso mostra um homem com barba, óculos finos e cabelo curto.
Testemunhas o descreveram como um homem latino-americano alto, que estava
usando camisa azul escura e calça. Falando sob a condição de anonimato, uma
fonte policial disse que o crime parece ter sido planejado.
? Não há dúvida de que ele tinha os dois como alvo ? explicou o funcionário.
? Mas é difícil dizer o porquê.
HOMEM CALMO E PIEDOSO
Misba Abdin, de 47 anos, que frequenta a mesquita e é
líder de uma organização sem fins lucrativos para moradores de Bangladesh no bairro, descreveu o imã como um
homem calmo e piedoso, que ?só ia para a mesquita e para casa”.
As vítimas foram levadas ao Jamaica Hospital, situado nas
imediações, onde foi constatado o óbito do imã. Uddin morreu em consequência dos ferimentos.?