
O impeachment não deve restaurar a confiança externa no Brasil. É provável que a imagem simbólica deste processo traumático que ficará para a História será a da emblemática votação por sua abertura na Câmara. Ecoarão através do tempo os discursos que acompanharam os votos dos congressistas ? ?pela família?, ?por Deus?, pela ?paz em Jerusalém?. Poucos se lembravam dos motivos do processo. Todos já conheciam o último ato desse teatro de horror, apesar da condução para garantir ao processo legitimidade legal. E isso não passou despercebido pela comunidade internacional.
O afastamento da presidente não muda o sistema político fragmentado, que permite a existência de 27 partidos preocupados com a própria relevância e sobrevivência. Não significa nem mesmo mudança de governo. O PMBD está no poder desde a redemocratização, governando da coxia. Apenas assume agora a posição de protagonista. Na prática, nada muda.
O déficit orçamentário, gastos públicos fora de controle, corrupção endêmica, desigualdade, ilegalidade, violência e outros problemas estruturais que distanciam o Brasil do modelo de um país desenvolvido, aos olhos do mundo, não vão embora com a presidente, porque não são exclusivos de seu governo.No curto prazo, com o envolvimento da cúpula do PMDB, alvo da lava-jato, nos mesmos escândalos que arruinaram a imagem do Brasil junto a investidores, é improvável que o governo Temer consiga restaurar a imagem do Brasil e a credibilidade do mercado externo.
O mundo continuará nos vendo com desconfiança.
No curto prazo, não há perspectiva de mudanças estruturais. A prometida reforma da previdência, considerada imprescindível para a retomada da economia, está longe de ser concretizada. Não existe ainda um projeto de reforma para encaminhamento ao Congresso.
No longo prazo, a reforma política que, aí sim, representaria mudança histórica real para o Brasil e sua imagem no exterior não está em discussão.
Existe um risco de que o impeachment legitime o sistema político corrente e fortaleça aqueles que têm interesse em manter tudo como está, o que é perigosíssimo para o país.
Além disso, a posse definitiva de Temer ocorre à revelia do desejo da população, que quer novas eleições. No último século, somente cinco presidentes eleitos pelo voto popular no Brasil concluíram seus mandatos.
Hoje, mais uma vez, o governo muda para o Brasil continuar o mesmo.