A Scania, referência mundial em soluções de transporte sustentável, leva o conceito de circularidade para dentro de sua operação e faz do plástico reciclado de garrafas PET componente substituto dos insumos virgens usados na fabricação da grade frontal de todos os caminhões produzidos na planta de São Bernardo do Campo (SP).
Com isso, a estimativa é que sejam retirados do meio ambiente anualmente cerca de 1,5 milhão das garrafas PET, se considerada a produção de 30 mil veículos/ano. “Esta não é a primeira iniciativa nesta direção e não será a última. Estamos desafiando nossas pessoas, nosso negócio e o nosso setor a pensar diferente”, diz Patricia Acioli, responsável por Sustentabilidade na Operação Industrial da Scania.
A fabricante sueca implementou outras ações de reuso, reciclagem ou de impacto em seus processos industriais. “O olhar de sustentabilidade se estende ao produto e aos materiais que usamos, no caso a grade frontal”, explica João Krasauskas, especialista de Qualidade da Scania e um dos coordenadores do projeto iniciado em maio de 2022. Quando a nova composição de matérias prima da grade frontal das cabinas englobar 100% dos veículos fabricados pela Scania no Brasil, o que é esperado para 2025, será evitada ainda a emissão de 62 toneladas/ano de CO2 na atmosfera.
Cada item consome cinco quilos de insumos plásticos, uma mistura de policarbonato (PC) com polietileno tereftalato (PET), este amplamente empregado pela indústria. O PET corresponde a 20% da composição da peça – até pouco tempo fornecido em estado virgem por produtores norte-americanos e que será trocado pelo PET reprocessado por fornecedores instalados no Brasil, com reaproveitamento de resíduos descartados.
“Um quilo de plástico das grades frontais dos caminhões Scania passará a ser de plástico reciclado”, destaca Krasauskas. Os outros quatro quilos continuarão sendo de policarbonato de procedência virgem. Para um quilo de PET reciclado, em média, são utilizadas 50 garrafas PET.
Parcerias
A inovação na fabricação do “T-bone” – como a grade frontal é chamada no jargão automotivo – foi possível graças à parceria com fornecedores do PET reciclado, do PC/PET e do fabricante das peças. Em alinhamento com a diretriz da marca de envolver toda a cadeia no propósito da descarbonização e promoção da economia circular, a solução pioneira na Scania global foi desenvolvida também por outras empresas, além da Área de Compras da Scania no Brasil.
Ciente da busca da Scania por materiais sustentáveis, a SABIC (Saudi Basic Industries Corporation), multinacional de fabricação de químicos, polímeros, compostos especiais e fertilizantes, demonstrou capacidade de produzir o plástico em parte reciclado para atender a demanda da companhia, tanto em qualidade quanto em quantidade. Ela adquire o PET reprocessado de uma recicladora brasileira, que por sua vez compra garrafas dos postos de coleta espalhados país afora e, por meio de tecnologia avançada, recupera o plástico, retornando-o a cadeia produtiva.
A SABIC mistura este insumo com o policarbonato (PC) e entrega a composição (o PC/PET) para outro fornecedor da Scania, que faz as peças que a empresa coloca nas cabinas dos caminhões, completando o ciclo.
Testes
As peças passaram por vários testes (de impacto, fluidez, envelhecimento, aderência da pintura, entre outros), inclusive na matriz, na Suécia, e foram aprovadas pelo especialista principal da marca em resinas plásticas. Por enquanto, somente a fábrica no Brasil está utilizando a nova composição, mas existem perspectivas da tecnologia limpa ser adotada em fábricas da marca na Europa e na Ásia.
O impacto
Os ganhos de sustentabilidade resultantes da mudança na composição do plástico são animadores. Além de 1,5 milhão de garrafas PET retiradas do meio ambiente, é destaque a redução de 11% de CO2 por quilo produzido, em comparação com material virgem; economia de 16% de energia por quilo produzido; corte de 62 toneladas de CO2 emitidas na atmosfera por ano, considerando a queima dos resíduos plásticos (um tipo de descarte) e o transporte via navio das importações do PET dos Estados Unidos para compor os insumos no Brasil.
O foco desta iniciativa é no resíduo pós-consumo, onde está o maior problema do descarte irregular de embalagens plásticas, que acabam em aterros sanitários ou queimadas para geração de energia. Estima-se em meio trilhão de garrafas PET ao ano o consumo mundial, e que cerca de 1,5 mil dessas embalagens sejam descartadas a cada segundo no planeta.