A suinocultura paranaense começou a reagir nos últimos seis meses, depois de um período nebuloso e de uma crise responsável por descapitalizar e levar muitos a ficar pelo caminho. Agora, um novo cenário é observado com relação aos principais frigoríficos de abate de suínos do Estado. Informações apurados pela equipe de reportagem do Jornal O Paraná, dão conta de que muitos desses frigoríficos, entre os quais a Frimesa, a BRF e a JBS, estão encontrando dificuldades para encontrar matéria-prima para manter seus abates e com isso, a solução encontrada tem sido promover alguns desligamentos em face da redução dessa operação nos abatedouros.
Para entender melhor o que está acontecendo é preciso retroceder um pouco. Em entrevista concedida ao O Paraná, o vice-presidente da APS (Associação Paranaense dos Suinocultores), Elói Daga Fávero, comenta em neste ano, houve um realinhamento nos preços das commodities, uma vez que o milho e a soja, principais insumos utilizados na alimentação dos suínos, correspondem a 70% do custo de produção. Diante disso, a produção de suínos ficou praticamente estável em 2024, com uma pequena redução tanto em âmbito nacional como estadual.
Conforme o vice da APS, do segundo semestre em diante, a atividade começou a apresentar uma margem positiva, refletindo em uma sensível melhora nos preços, animando os agropecuaristas. “O preço elevado da carne bovina favoreceu o consumo de outras proteínas, tais como suíno e frango”, aponta.
O dirigente da APS enfatiza também o crescimento do consumo per capita da carne suína. Segundo ele, na última década, passou de 15 quilos para 21 quilos. “É resultado da desmistificação de vários tabus. A carne suína é macia, saborosa, saudável e agora, caiu no gosto do consumidor”, destaca.
Outro fator responsável por melhorar o preço pago ao produtor são as exportações, que se mantiveram firmes. “Agora, com novos mercados, Filipinas, Hong Kong, estamos conseguindo obter um valor um pouco melhor, até porque o Paraná é estado livre de aftosa sem vacinação, um selo de qualidade e garantia a mais para expandir a comercialização da carne suína para outros países”.
Tendo como base de referência, informações colhidas junto à CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e ABCS (Associação Brasileira dos Criadores de Suínos), o custo do produtor para produzir um quilo de suíno hoje gira em torno de R$ 6,80 e o preço vendido no mercado independente é de R$ 9,80, uma margem considerada excelente. Entretanto, essa não é a realidade vivida por aqueles que comercializam sua produção às integradoras. O valor ainda está aquém dessa realidade, o que estaria seduzindo alguns produtores a vender a carne suína para o mercado independente. É importante ressaltar que 25% dos produtores de suínos do Paraná são independentes e os demais, integrados a algum sistema cooperativista.
Para 2025, o vice-presidente da APS, Elói Fávero, projeta um crescimento de até 1% na atividade. E isso será possível se o Paraná continuar alimentando o que tem de mais precioso: a biosseguridade. Isso fará com que as exportações se elevem ainda mais e garante fôlego nas granjas. Sobre as commodities, os preços tendem a subir, não refletindo de maneira demasiada nos custos de produção.
Fávero aproveita para dar uma valiosa dica: cautela. “Quando o negócio é bom para o produtor, também é bom para as empresas. O excesso de oferta é pior para todos, principalmente para o produtor, que não tem como fixar o preço”. A sugestão é não aumentar tanto a escala de produção, pois dessa forma, os reflexos serão observados nos preços. “A nossa recomendação é somente aumentar a escala com as vendas garantidas”.
O vice da APS confirma que algumas empresas estão com dificuldades para fechar os planos de abate, ainda por conta dos efeitos provocados pela crise dos últimos anos, no setor. Há também outro fator relevante: o produtor de suínos que é cooperado tem um valor fixo de comercialização, levando muitos a deixar o sistema de integração atrás de um valor pago melhor no mercado de terceiros que oferece um preço melhor e é isso que justamente vem acontecendo.
Antes de começar a sofrer com a falta de matéria-prima, a BRF teria feito uma compra antecipada de 200 a 300 animais por dia para honrar os seus contratos futuros. Quem deixou para ir atrás da matéria-prima agora, está encontrando dificuldades para adquirir.
É preciso reconhecer que as integradoras também tiveram papel fundamental durante a crise dos últimos anos, segurando um bom preço pago ao produtor. Agora, a expectativa do setor é de que os frigoríficos consigam chegar o mais próximo possível do valor que o quilo do suíno vem sendo comercializado no mercado de terceiros. No mercado livre, os produtores de suínos conseguem uma margem de até 30%, sendo que nas grandes frigoríficos, esse percentual oscila entre 3%, 5% e 7%.
Como já faz 6 meses que o mercado se ajustou, os produtores já acreditavam que essas margens de ganhos já seriam ampliadas, o que ainda não ocorreu.
O vice-presidente da APS é suinocultor há 18 anos Conta com 800 matrizes para produção de leitões desmamados no distrito de Iguiporã, em Marechal Cândido Rondon.
A suinocultura responde por 42% do PIB de Toledo, responsável pela produção de 1,5 milhão de cabeças de suínos todos os anos. Isso quer dizer que para cada habitante de Toledo, há oito cabeças de suíno. A capital do “Porco no Rolete” é responsável por 15% de toda a produção de suínos do Estado.
Maior frigorífico da América Latina
Uma das maiores plantas frigoríficas de suínos da América Latina, a Frimesa também deve estar sofrendo com o mesmo problema. Essa informação só não foi confirmada, pois ainda estamos aguardando o retorno da integradora sobre essa questão.
Em 2023, o Oeste do Paraná ganhou a maior unidade frigorífica da América Latina para abate de suínos. Somente nesta obra, foi investido R$ 1,3 bilhão, garantindo a geração de 8,5 postos de trabalho e R$ 600 milhões em impostos. A capacidade de abate é de 7.800 suínos ao dia, ou seja, média de 550 por hora, totalizando 1,8 mil toneladas/dia. Até 2032, a meta é chegar a 15 mil suínos processados diariamente.