Agronegócio

Quais os principais obstáculos vividos pelos produtores brasileiros?

Para entender qual o cenário que se desenha para o agronegócio em 2023, é preciso rever quais foram os últimos acontecimentos em algumas das principais culturas.

Quais os principais obstáculos vividos pelos produtores brasileiros?

A retrospectiva de como foi 2022 passa por algumas adversidades comuns à chamada indústria a céu aberto que é a agricultura. Este é o caso do fator climático, que apresentou fortes oscilações – de secas severas a intensas chuvas -, em decorrência do fenômeno La Niña. Outras, trouxeram novos obstáculos para o produtor rural, como o cenário internacional e os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia. O conflito impactou nas exportações nacionais e trouxe insegurança no fornecimento de fertilizantes.

Para entender qual o cenário que se desenha para o agronegócio em 2023, é preciso rever quais foram os últimos acontecimentos em algumas das principais culturas.

 

Soja

Na soja, por exemplo, a busca pelo cultivo no limpo em 2022, através da dessecação pré-plantio, foi uma das estratégias mais adotadas pelos produtores para evitar a matocompetição inicial. Neste processo de controle das plantas invasoras, monitoramentos realizados pela plataforma da agtech SIMA (Sistema Integrado de Monitoramento Agrícola) apontaram que a maior incidência foi de trapoeraba (Commelina spp).

Além das daninhas, os sojicultores tiveram diversos desafios, potencializados pelo clima, como a mancha alvo (Corynespora cassiicola) e mancha parda (Septoria glycines), respectivamente. E, ainda, os insetos-praga como o percevejo-marrom (Euschistus heros), vaquinha (Diabrotica speciosa) e a lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens) foram os mais representativos no monitoramento para esta cultura.

 

Algodão

A ramulária (Ramularia gossypii) foi a doença de algodão mais relatada nos monitoramentos de 2022, com alerta para a tendência de apresentar o mesmo comportamento na safra de 2023. Os cotonicultores reportaram maiores incidências de pragas como o piolho-do-algodoeiro (Aphis gossypii) e a mosca-branca (Bemisia tabaci), seguido pela presença de tripes (Caliothrips phaseoli). Além disso, os dados apontaram que nas áreas de algodão, em especial na região Centro-Oeste, o capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) tem sido a planta invasora mais presente nos campos.

 

Feijão

Já o feijão, no ano passado, apresentou o melhor preço médio dos últimos anos. De acordo com o engenheiro agrônomo Maurício Varela, as informações apontam para aumento da demanda internacional pelo produto em 2023. Em adversidades, a vaquinha se destacou como uma das principais pragas do feijoeiro no Sul e Sudeste, seguida por alta incidência de tripes e mosca-branca.

A mancha alvo também foi representativa para o cultivo do feijoeiro, apenas antecedida por doenças como mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum) e antracnose (Colletotrichum lindemuthianum). Nessas regiões, também foi possível observar que a buva (Conyza spp) vem tomando espaço nas lavouras, fator preocupante já que ambas apresentam casos crescentes de resistência à herbicidas.

 

Milho

Já nos milharais, foi a vaquinha que causou danos expressivos, atrás apenas da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e do pulgão-do-milho (Rhopalosiphum maidis). Doenças como a helmintosporiose (Helminthosporium turcicum) e cercosporiose (Cercospora zeae-maydis) foram as mais observadas no País. “Apesar das adversidades, a produção de milho em 2022 foi robusta e a expectativa de fechar a exportação em mais de 42 milhões de toneladas surpreende ao se comparar com as 20,6 milhões de toneladas do ano passado”, destaca Varela.

 

Como será 2023?

São dois pontos importantes para o setor neste período, um é de que existe uma corrente por um agro mais sustentável para os próximos anos, com diversos investimentos nas áreas de ciência e tecnologia. E outro, em paralelo, a do intenso cenário de startups inseridas no agronegócio.

Segundo o estudo Radar Agtech, realizado pela empresa de consultoria e pesquisa Homo Ludens Research & Consulting, o número de startups do agro apresentou crescimento de 40% entre 2019 e 2021, passando de 1.124 para 1.574. “O Brasil está na vanguarda da digitalização do agronegócio e é visível o aumento dos investimentos em agtechs, startups que oferecem soluções inovadoras e tecnológicas para todas as etapas da cadeia produtiva do campo”, aponta o executivo.

Além disso, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a expectativa é de crescimento do PIB do setor agropecuário em 2023 na ordem de 10,9%, que será puxado pela alta de 13,4% na produção vegetal (com previsão de expressivas altas esperadas pela Companhia Nacional de Abastecimento – Conab para as produções de soja e milho) e de 2,6% na produção animal (em função do bom desempenho na produção de bovinos e de suínos).