AGRONEGÓCIO

Até que ponto a guerra Irã x Israel afeta o mercado de commodities no Brasil?

Até que ponto a guerra Irã x Israel afeta o mercado de commodities no Brasil?

Atualmente, existem mais de 50 conflitos armados ativos no mundo, segundo informações de fontes internacionais. Alguns dos mais notáveis incluem a guerra entre Israel e Irã, a invasão russa da Ucrânia, e conflitos no Iêmen, Mianmar, Síria, e em várias regiões da África.

A contagem exata de conflitos armados pode variar dependendo da definição de “guerra” e da fonte de informação, mas é amplamente reconhecido que o mundo está enfrentando um número significativo de conflitos ativos atualmente. O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), por exemplo, reconhece a existência de 134 conflitos um dos números mais altos dos últimos 30 anos. Além disso, estudos indicam que o número de países envolvidos em conflitos fora de suas fronteiras também aumentou significativamente.

Esses conflitos abrangem uma variedade de situações, desde guerras civis em países como a Síria e o Iêmen até confrontos entre nações, como a Rússia e a Ucrânia, e conflitos envolvendo grupos armados não estatais. A região do Oriente Médio e Norte da África, em particular, tem sido palco de muitos desses conflitos.  É importante ressaltar que cada conflito tem suas próprias causas e consequências, e o impacto humano e social de cada um deles é significativo.

Em meio a tudo isso, o agronegócio tenta se blindar destes efeitos. Para entender melhor qual impacto o embate entre Irã e Síria pode causar no setor produtivo, a equipe de reportagem do Jornal O Paraná conversou com uma sumidade quanto o assunto é gerenciamento de riscos, o consultor da StoneX, Leonardo Martini Lima. “Essa guerra travada entre Irã e Israel teve muito reflexo, principalmente quando o assunto é insumo, no que tange à produção do próximo ciclo, ou seja, pode sim impactar nos custos da lavoura no Brasil e principalmente no câmbio”.

Com relação às commodities soja, milho, farelo e óleo, os reflexos ocorrem, mas por enquanto, de maneira moderada. “O grande impacto sentido nos preços da soja e do óleo, principalmente de quinta-feira da semana passada até agora, envolve o mandato de biodiesel nos Estados Unidos, aprovado e praticamente dobrando a produção de biocombustível já a partir de 2026”.

Para o consultor da StoneX, ao observar o conflito, não é possível perceber um risco direto às commodities neste momento. “O maior reflexo realmente é com os insumos e a questão cambial”, rechaça. “Esse cenário pode deixar uma grande volatilidade. Estamos acompanhando o câmbio caído e estamos cientes de que o conflito pode gerar uma fuga para ativos mais seguros como o dólar, ouro, franco suíço e ienes, gerando um novo fôlego para o câmbio”.

Margens ficarão apertadas na Safra 2025/26

Para a Safra 2025/26, esse conflito tende a elevar os custos de produção e fazer pressão ao poder de compra do produtor brasileiro envolvendo os fertilizantes. A opinião é do pesquisador do Cepea/Esalq (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), Mauro Osaki. “A depender dos reflexos da guerra nos preços dos insumos, o setor produtivo brasileiro poderá ter margem ainda mais apertada na próxima temporada”.

Esse movimento também vai acarretar em uma seletividade, dos produtores que vão conseguir prosperar e aqueles que vão precisar colocar o pé no freio em relação aos investimentos, de forma a repensar a atividade. “Em momento de sinais de arrefecimento dos preços, no fechamento do semestre, vemos conflito que aumenta a incerteza. Em meio a uma safra grande, com desvalorização do milho, o poder de compra fica menor, e é preocupação para 2025/26”, afirmou Osaki.

Diante desse cenário, o pesquisador do Cepea aponta que o agricultor necessitará de mais sacas de milho para fazer frente aos custos operacionais para o próximo plantio.  “Ter elevação de preços dos fertilizantes, é sinal de alerta. Podemos caminhar para um ano de margem mais apertada, como já presenciamos nos últimos três anos. Isso pode selecionar produtores entre quem vai prosperar e quem vai ter que renegociar e repensar pacote tecnológico”.

A sucessão de episódios de conflito desde 2022, pressiona os custos no campo desde aquela época. Antes disso, o preço pago pelos grãos possibilitava equipar o ganho diante da escalada dos fertilizantes, situação não observada no momento. “O Irã é um grande produtor de amônia, que impacta diretamente na oferta mundial de nitrogenados, além de ser um comprador de milho e estar no corredor logístico do Golfo de Omã”.

Os entraves logísticos também são uma preocupação aos setores que têm a região como uma rota de transporte. É na região do conflito que está o estreito de Ormuz, importante rota logística internacional de petróleo e de fertilizantes. O mercado segue atento a possíveis interrupções no transporte marítimo e no fluxo de mercadorias em portos. Se a logística de grãos e insumos travar, aumentam os riscos à segurança alimentar, principalmente em países mais dependentes das importações.

Foto: Laís M. Oliveira